O Grande Prêmio da Inglaterra entregou tudo o que se espera de Silverstone: imprevisibilidade, emoção, técnica e história. Lando Norris venceu diante da torcida britânica e consolidou o domínio da McLaren, mas foi Nico Hulkenberg quem saiu como protagonista, ao conquistar o primeiro pódio de sua carreira após 15 anos de espera — um feito inédito, improvável e inesquecível para o veterano alemão e para a Sauber.
A corrida começou com a expectativa de mais um capítulo do duelo entre Red Bull e McLaren, especialmente após a pole position surpreendente de Max Verstappen. A Red Bull optou por uma configuração com menor carga aerodinâmica, mirando desempenho no seco, o que acabou penalizando o ritmo do RB21 nas condições variáveis de pista molhada. Verstappen, mesmo combativo, não teve como resistir às investidas da McLaren. Oscar Piastri o ultrapassou ainda nas voltas iniciais, e Norris assumiu a dianteira com autoridade no terço final da prova, aproveitando também a punição aplicada ao companheiro de equipe.
Verstappen comete erro raro e escancara RB21 instável
Um dos momentos-chave da prova envolveu justamente o holandês. Mesmo sendo superado na pista por Norris, Verstappen recuperou a posição graças a um pit stop lento da McLaren, que demorou 4.6 segundos. Isso o colocou novamente à frente no momento da entrada do safety car, atrás apenas de Piastri na relargada. No entanto, na volta da bandeira verde, o tetracampeão cometeu um erro raro: rodou sozinho, perdeu várias posições e saiu do top 10. A partir daí, fez uma corrida de recuperação agressiva, ultrapassou rivais em sequência e cruzou a linha de chegada em quinto. O resultado, mesmo frustrante, refletiu o limite atual do RB21 em condições instáveis — e a capacidade de Verstappen de minimizar danos mesmo em dias adversos.

Piastri liderava, mas jogou fora vantagem importante
Piastri, que tinha a corrida sob controle, foi penalizado em 10 segundos por frear bruscamente à frente de Verstappen durante o período de safety car. A infração custou-lhe a liderança. Na parte final da prova, ao realizar sua segunda parada nos boxes, o australiano cumpriu a punição e, com isso, viu Norris assumir a ponta da corrida. O britânico seguiu firme até a bandeirada para conquistar sua quarta vitória na temporada e se manter na briga pelo título. Se a vitória colocaria Piastri 22 pontos à frente Norris, agora apenas oito separam os favoritos ao título.
Hulkenberg: 15 anos até o primeiro pódio
Mas nenhuma história foi mais marcante em Silverstone do que a de Hulkenberg. Largando da 19ª posição, o piloto da Sauber fez uma corrida perfeita em leitura, estratégia e consistência, subindo para o terceiro lugar e garantindo um pódio histórico — seu primeiro na F1, depois de 238 GPs disputados. Aos 37 anos, tornou-se o piloto mais velho a conquistar seu primeiro pódio desde George Follmer em 1973. Foi também o primeiro pódio da Sauber desde o GP do Japão de 2012 e a primeira vez que um piloto alemão subiu ao pódio desde Sebastian Vettel, no Azerbaijão em 2021. Hulkenberg também quebrou o recorde da menor posição de largada para um pódio na história da Sauber: nenhum outro piloto da equipe havia subido ao pódio partindo da P19. A Sauber, aliás, foi a segunda equipe que mais pontuou no fim de semana, atrás apenas da McLaren — e o bom momento aumenta a pressão sobre Gabriel Bortoleto. Stake F1 Team | Sauber continua a fazer história dentro e fora das pistas, refletindo a crescente presença da marca na Fórmula 1.

Novatos sofrem com as exigências de Silverstone
A corrida foi particularmente cruel com os novatos. Dos seis rookies no grid de 2025, apenas Oliver Bearman conseguiu cruzar a linha de chegada. Bortoleto arriscou uma troca para pneus slicks ainda na volta de formação e acabou perdendo o controle da Sauber com a pista molhada. Isack Hadjar e Kimi Antonelli se enroscaram, Franco Colapinto nem largou, e Liam Lawson abandonou após contato com Esteban Ocon. Em uma pista com 80% da volta em aceleração plena, reações rápidas e leitura de pista são vitais — e, para os mais jovens, isso se mostrou um desafio adicional. Como o próprio Bortoleto já destacou em etapas anteriores, fazer o básico às vezes é suficiente; e foi justamente isso que Hulkenberg executou com perfeição.
Ferrari sólida com Hamilton; Mercedes decepciona
Na Ferrari, o domingo teve um saldo positivo. Lewis Hamilton, correndo pela primeira vez com as cores da escuderia italiana em Silverstone, teve um desempenho combativo, chegou atacar Hulkenberg pela última posição no pódio, mas terminou em quarto lugar, após belas ultrapassagens — inclusive uma manobra dupla sobre George Russell e Ocon. Charles Leclerc, por outro lado, teve um ritmo mais tímido e não conseguiu se manter entre os protagonistas da etapa, encerrando fora do top 5, mas levando pontos importantes para Maranello.
A Mercedes, por sua vez, teve um desempenho apagado. George Russell também optou pelos slicks na volta de formação e, assim como Bortoleto, largou dos boxes. O britânico sofreu com decisões estratégicas equivocadas e fechou apenas em décimo. Antonelli, envolvido em incidente com Hadjar, abandonou. O resultado reforça a inconsistência do W16 em condições variáveis e aumenta a pressão sobre a equipe de Brackley.

Aston Martin brilha com Stroll no top-10
Outro destaque foi a Aston Martin, que pontuou com seus dois carros. Lance Stroll, em particular, teve uma de suas melhores performances da temporada, ganhando dez posições para terminar em sétimo, enquanto Fernando Alonso ficou em nono. A corrida sólida da equipe britânica é um alívio em um ano de altos e baixos, principalmente considerando o desempenho frágil nos GPs anteriores.
Bélgica e Hungria antecedem shutdown técnico
Com Silverstone encerrando mais um capítulo da temporada, a Fórmula 1 entra agora em uma pausa de duas semanas antes da rodada dupla que precede as férias de verão europeu. Bélgica e Hungria serão os últimos testes antes do shutdown técnico, quando as fábricas fecham e nenhuma evolução é permitida. O cenário pós-Inglaterra mostra uma McLaren dominante, uma Red Bull vulnerável, uma Sauber em ascensão e um campeonato ainda mais aberto do que se imaginava.