Cerca de meia hora após o GP do Bahrein, a McLaren organizou o tradicional bate-papo com o chefe de equipe, Andrea Stella, para comentar sobre a vitória do time, a primeira no Bahrein em mais de dez anos desta corrida.
Perguntei ao italiano se a vitória de Oscar Piastri havia sido a melhor de sua carreira – a quarta em 50 GPs disputados. “Esta é uma pergunta complicada. O primeiro lugar conquistado hoje foi talvez a vitória mais sólida do Oscar, com um domínio completo do final de semana, e abrindo 15 segundos mesmo depois do safety car no começo da prova ter neutralizado sua vantagem. Mas talvez a de Baku (no ano passado) tenha sido uma vitória mais difícil”, comentou.

Nitidamente, Andrea tomou a devida cautela para cravar o que, para muitos presentes no paddock neste final de semana, no Bahrein, ficou claro: Piastri fez uma corrida de quem de fato se credencia na briga pelo título. E o momento não poderia ser melhor, com Lando Norris sofrendo para manter seu carro na pista, reclamando da aderência e da “falta de confiança” que ele sente.
Na entrevista coletiva organizada pela FIA logo após a corrida, o inglês admitiu não estar vivendo “mentalmente” a melhor fase de sua carreira, e que por algum motivo o carro da McLaren deste ano não o faz se sentir confortável para atingir o limite.
Stella inclusive apontou que Norris tem sido muito honesto em sua abordagem, admitindo erros como o da classificação no sábado, quando um erro na primeira curva lhe custou dois décimos de segundo. Com isso, o inglês largou da sexta colocação. E mesmo neste domingo, quando acabou posicionando de forma equivocada o carro no grid (tão fora que até Max Verstappen vendo de fora alertou a Red Bull pelo rádio) e também nas atrapalhadas tentativas de ultrapassagem sobre as Ferraris – em uma delas, contra Lewis Hamilton, precisou até devolver a ultrapassagem.

Outro fator importante é que o momento psicológico é todo de Piastri. Nesta mesma coletiva com os três primeiros colocados do GP do Bahrein, um jornalista inglês perguntou ao australiano e a Norris se o resultado do circuito de Sahkir, que deixou os dois na liderança (Norris na frente por três pontos) abriu de vez a briga pelo título mundial de pilotos entre os dois pilotos da McLaren. Enquanto Norris disfarçava o incômodo, o australiano naturalmente respondeu. “Para mim, essa disputa já começou em Melbourne, na abertura do campeonato”, disse.
De fato, Piastri mostrou para a McLaren que seu ótimo momento pode ser decisivo para seu status de líder do time, sobretudo quando a vantagem técnica da equipe não for tão grande como foi neste final de semana no Bahrein. Charles Leclerc em quarto e Lewis Hamilton em quinto mostram que a Ferrari progrediu em relação ao mês passado na Austrália, ainda mais com o monegasco dizendo que os upgrades trazidos para esta corrida ainda não seriam os ideais para a prova no Oriente Médio.
O grande segredo da McLaren no Bahrein foi a maneira como o set up do carro conseguiu extrair a melhor performance dos pneus Pirelli sem ter o sobreaquecimento – ainda mais em etapas de temperaturas altas como foi o final de semana no deserto. Andrea Stella, no entanto, tratou de minimizar a vantagem. “É algo sutil, diferente da Red Bull do começo do ano passado, quando Max Verstappen conseguia sobrar muito em relação ao resto do grid”, disse, novamente usava um pin em homenagem a Gil de Ferran. “Ele foi o grande responsável por iniciar este nosso momento de conquistas”, disse, mostrando o pin com o capacete do piloto brasileiro.

Quem diria que, no ano passado, Verstappen e Perez, então seu companheiro, garantiam uma dobradinha no Bahrein e que, de Miami em diante, sofreriam para acompanhar as McLarens? Neste domingo, o holandês “pagou os pecados” com tudo que poderia dar errado para ele, incluindo problemas nos dois pit stops, que o deixaram na sexta colocação. Ainda está em terceiro no Mundial, mas Verstappen mesmo diz que neste ano está apenas “participando” do campeonato, sem lutar diretamente por sua quinta taça de campeão.
Ao menos Yuki Tsunoda conseguiu marcar dois pontos com a nona colocação, melhor desempenho do ano do segundo carro da Red Bull. Mas ainda assim é pouco para o time que foi campeão com Verstappen entre os pilotos e terminou o Mundial de Construtores em terceiro.
No Bahrein, a segunda força acabou sendo a Mercedes, com George Russell mais uma vez mostrando boa consistência e terminando em segundo, segurando bem a pressão de Norris e mostrando que, mesmo com a saída de Lewis Hamilton, pode ser o líder do time alemão.

Destaque no meio do pelotão também para a Alpine de Pierre Gasly, em sexto – Jack Doohan fez sua melhor prova na F1 até aqui e, mesmo sem marcar pontos, atenuou um pouco os rumores de substituição de Franco Colapinto ainda no começo da temporada 2025. A Haas também foi bem com Esteban Ocon marcando pontos em oitavo e Oliver Bearman em décimo.
Com exceção de Piastri na frente, o GP do Bahrein foi bem emocionante, com disputas acirradas da segunda posição para trás – e algumas envolvendo até três ou quatro pilotos, como na batalha de Carlos Sainz com a Williams e os campeões mundiais Hamilton e Verstappen.
Para o Brasil, na F1, o dia foi difícil – Gabriel Bortoleto sofreu com o ritmo fraco de corrida da Sauber e terminou em 18º – seu companheiro de equipe, Nico Hulkenberg, acabou desclassificado por desgaste excessivo da prancha sob o carro. “Não temos muito o que fazer, não trouxemos upgrades para o carro e estamos na posição em que conseguimos brigar atualmente”, disse a este repórter logo após a corrida.

O sentimento de frustração era nítido e perguntei a ele, afinal, se era o que ele já imaginava para 2025, já que a Sauber foi a última colocada no Mundial de 2024. “Sim, a gente espera, mas nunca está totalmente preparado até sentar no carro e sentir de perto esta dificuldade”, disse.
Para o torcedor brasileiro o domingo ao menos teve a vitória de Rafael Câmara na preliminar da F1, vencendo de forma absoluta a prova da Fórmula 3 – mostrando bastante calma e maturidade mesmo após perder o primeiro lugar na largada, recuperando de forma limpa na quinta volta com uma bela ultrapassagem.
Em 2023, também estive no Bahrein e cobri a vitória de um então desconhecido da F1: Gabriel Bortoleto, também da Trident. Que a história se repita com Rafa e o Brasil possa ter mais um piloto no grid – e olha que ainda tem Felipe Drugovich na briga por um lugar em 2026, com a entrada da Cadillac, na qual ele admitiu que tem conversas com o time – ele corre pela Cadillac no endurance.

O domingo no Bahrein também foi emocionante com a “Corrida Contra a Demência” promovida por Sir Jackie Stewart – que pilotou sua Tyrrell do título de 1973 com um capacete assinado por todos os campeões mundiais vivos – incluindo Michael Schumacher, que assinou as iniciais MS com ajuda de sua esposa, Corinna.
Ao que tudo indica, ao final de 2025 este capacete terá que ter uma assinatura adicional – já que Verstappen, Hamilton e Alonso dificilmente farão frente aos carros da McLaren. E, pelo que mostrou no Bahrein, é melhor já deixar a caneta com um certo australiano de nome Oscar Piastri.
Rodrigo França acompanhou o GP do Bahrein diretamente do paddock Sakhir, representando o F1MANIA.NET.