A quinta-feira do GP da Itália de F1 foi da Argentina. O estreante Franco Colapinto foi o grande destaque do chamado “media day”, dia em que FIA e equipes fazem uma extensa programação de entrevistas com pilotos para a imprensa internacional nas áreas do media center, paddock e nos motorhomes das próprias equipes.
Está certo que o argentino viu sua estreia nos holofotes começar com o pé esquerdo, com o erro da grafia na placa do pit lane, mas como F1MANIA.NET conferiu logo pela manhã na quinta-feira, o pessoal da gráfica foi rápido e já corrigiu o sobrenome que faz tanto sucesso nas piadas infâmes de “quinta série” para os torcedores brasileiros desde que o argentino começou a correr nas categorias de base. Vale lembrar que ele era um dos rivais de Gabriel Bortoleto na F3, título no qual o brasileiro cravou justamente aqui em Monza no ano passado.
Em uma concorrida entrevista coletiva, perguntei a Franco Colapinto se ele sentia que correrá neste ano na F1 representando não apenas ele e seus patrocinadores, mas toda a nação argentina, já que são mais de 23 anos sem um representante do país no grid. “Com toda certeza, corro pela Argentina. São fãs incríveis, que inclusive me apoiaram com ajuda financeira quando eu tive que correr atrás de apoio para seguir correndo nas categorias de base. Vai ser incrível ver a Argentina no grid depois de tanto tempo”, disse.
Curiosamente, este repórter esteve presente justamente no GP em que este jejum foi iniciado: o GP de Barcelona de 2001, quando Luciano Burti chocou o mundo da F1 ao trocar a Jaguar pela Prost. Ele estava de saída pois Niki Lauda havia anunciado a contratação de Pedro de la Rosa para 2002, e uma vaga na Prost apareceu justamente porque a performance do argentino Gastón Mazzacane estava bem abaixo do esperado e, claro, pela perda de patrocinadores. Na época, Pedro Paulo Diniz negociava uma possível equipe brasileira para o ano seguinte, mas Prost acabou negando a oferta e viu sua equipe falir em 2002.
Com a Argentina voltando a representar a América do Sul, agora a pressão pela volta do Brasil parece ainda maior pelos torcedores, sobretudo a nova geração que passou a acompanhar o esporte nos últimos anos. Mas aqui em Monza uma notícia frustrante também deixou um gosto amargo para os brasileiros: Felipe Drugovich faria o treino livre 1 na Aston Martin, mas com as mudanças do asfalto e da chicane de Monza, Fernando Alonso pediu para que esta troca fosse em um GP mais para o final do ano. “Deve ser no México”, explicou o espanhol.
A desvantagem para Drugovich é que um bom desempenho dele no treino nesta sexta-feira poderia novamente dar força a seu nome no mercado de pilotos para 2025. Até porque Andrea Kimi Antonelli também estará nesta sessão, pilotando a Mercedes de George Russell. Com o comparativo direto do brasileiro com o jovem italiano e também com o argentino da Williams, Felipe poderia impressionar com a Aston Martin e ganhar mais pontos no concorrido mercado de pilotos, no qual praticamente todos estão lutando por uma vaga final, a da Stake F1 Team (futura Audi em 2026).
Por falar em Mercedes, do outro lado da garagem, o GP tem sido especial para o heptacampeão mundial de F1 Lewis Hamilton. Hoje, na coletiva da FIA, ele esteve ao lado de Charles Leclerc, curiosamente com os dois já vestindo preto, dando até mais impressão visual de companheiros de equipe. Perguntei a Hamilton se ele já está se sentido como piloto Ferrari nestes dias da Itália, e até se já aprendeu algo de italiano.
“Não, ainda falo muito pouco, aliás tem sido assim desde meus anos no kart aqui na Itália. Quanto a torcida, tem sido incrível e, sim, já me ofereceram bonés da Ferrari para assinar. No começo eu dizia: não, não, ainda é muito cedo. Mas agora já estou assinando alguns…”, respondeu, com um sorriso no rosto que mostra que, no GP da Itália de 2024, a torcida da Ferrari já tem três pilotos: ele e os dois titulares, claro, Leclerc e Carlos Sainz.
O dia em Monza também foi marcado pela expectativa da briga pelo Mundial de Pilotos. Lando Norris só depende dele para ser campeão, mas voltou a repetir o discurso de que “está pensando apenas de corrida em corrida”. Já Max Verstappen também coloca panos quentes em que diz que seu campeonato está ameaçado, mas admite que pode ver uma melhora de Ferrari e Mercedes já na corrida italiana.
O problema é que, se sua Red Bull não acompanhar essa evolução, Max tende a perder ainda mais pontos de vantagem para a McLaren, que realmente tem sido o carro imbatível nesta fase do campeonato. Oscar Piastri também falou sobre o momento da equipe – questionei o australiano sobre qual seria a grande razão pelo ótimo desempenho do time laranja, e sua resposta foi enfática.
“Não existe apenas um único fator, e sim vários. Mas eu diria que a gestão do Andrea (Stella) faz toda diferença, ele consegue extrair o máximo de todos no time. Além disso, a F1 está bem competitiva e quando a gente achou alguns décimos de segundo, a partir da corrida de Miami, isso nos fez saltar num pelotão de onde a gente andava em sétimo ou oitavo para vencer corridas”, explicou.
Piastri também deixou claro que não vê problema em ajudar futuramente Norris caso a briga com Verstappen fique mais acirrada, ponto a ponto. “Mas ainda é cedo demais no campeonato para falar sobre isso”, desconversou.
A quinta-feira ainda teve o bizarro acidente com o Safety Car na veloz curva da Parabólica e a bela homenagem da Pirelli e da FIA ao jornalista italiano Giorgio Piola, conhecido também pela incrível precisão de seus desenhos de F1. “Estou completando 900 GPs, mas não me peçam para chegar ao milésimo”, brincou.
Agora, a expectativa é ver se de fato o novo asfalto e as novas zebras das chicanes mudaram muito a dinâmica do circuito. Conversando com Enzo Fittipaldi após o track walk, o brasileiro acredita que as mudanças são sutis, com o traçado ideal sendo mantido como era. “Mas só dá para saber mesmo andando com o carro amanhã”, reforçou.
Com a volta da Argentina a F1 e a badalada estreia de Kimi Antonelli na Mercedes (ainda que seja só o primeiro treino livre), poucas vezes a categoria esperou tão ansiosamente por uma sexta-feira de um GP de meio de temporada como este de Monza.
O F1MANIA.NET acompanha ‘in loco’ todas as atividades do GP da Itália com o jornalista Rodrigo França.