Berço da categoria, o circuito britânico celebra 75 anos da corrida inaugural com clima instável, homenagens históricas e o duelo entre McLaren, Mercedes e Ferrari
No coração da Inglaterra rural, entre estradas estreitas, campos verdes e vilarejos típicos do condado de Northamptonshire, está localizada uma das localidades mais simbólicas do automobilismo mundial: Silverstone. Pequena em tamanho, mas gigante em história, a cidade abriga o circuito que deu origem ao Campeonato Mundial de Fórmula 1. Em 13 de maio de 1950, o antigo aeródromo militar transformado em pista de corridas sediou a primeira etapa oficial da categoria. Foi ali que Nino Farina, com um Alfa Romeo, venceu a corrida inaugural, marcando o início de uma era.
Setenta e cinco anos depois, Silverstone continua a ser palco da elite do esporte a motor, celebrando em 2025 um marco importante para a F1: o aniversário de três quartos de século da primeira corrida do campeonato. Essa longevidade coloca o GP da Inglaterra, ao lado do GP da Itália, como um dos únicos eventos presentes em todas as temporadas da história da categoria. A edição deste ano, portanto, carrega um simbolismo especial — e uma série de celebrações dentro e fora da pista.
A Mercedes, por exemplo, preparou uma celebração especial neste fim de semana em Silverstone, homenageando o passado, o presente e o futuro da marca. A equipe preparou uma pintura especial para o W16 baseada na esquema de cores “sunset beam orange”, inspirado no icônico Mercedes C111 das décadas de 1960 e 70, com um logotipo especial no bico e a cobertura do motor ganhando um novo visual.
A equipe exibe também o lendário W196, o primeiro carro da marca a competir no Campeonato Mundial de F1, que venceu nove das 12 corridas em que participou e conquistou dois títulos. George Russell, piloto da Mercedes, pilotou o W196 recentemente em Aintree, Liverpool — circuito onde Stirling Moss se tornou o primeiro britânico a vencer em casa, em 1955.

O traçado de Silverstone é um capítulo à parte. Com 5.891 metros de extensão, figura entre os mais longos do calendário e é conhecido por desafiar pilotos e engenheiros com suas curvas icônicas e trechos de altíssima velocidade. Maggots, Becketts, Chapel, Copse, Stowe: cada nome representa não apenas um ponto técnico da pista, mas também momentos lendários da Fórmula 1. Quase 80% da volta é completada em aceleração plena, com picos de até 5.2g de força lateral em curvas como a Stowe — um dos maiores índices de toda a temporada. E se a pista exige ao máximo dos carros, o clima costuma colocar à prova a versatilidade das equipes: mesmo em pleno verão, Silverstone é imprevisível, com vento, chuva e mudanças bruscas de temperatura capazes de virar uma corrida do avesso, como ocorreu em 2024.
Esse histórico de surpresas torna a estratégia de pneus fundamental. Para 2025, a Pirelli escolheu uma combinação um passo mais macia que no ano anterior: C2 (duro), C3 (médio) e C4 (macio). O objetivo é ampliar o leque de estratégias possíveis, especialmente se o tempo mudar durante a prova. Em 2024, todos os compostos de pista seca e os intermediários foram utilizados, mostrando como Silverstone costuma ser um teste completo para pilotos, engenheiros e estrategistas.
Silverstone também é sinônimo de feitos lendários. Nenhum piloto venceu mais vezes no circuito britânico do que Lewis Hamilton, que soma nove vitórias, sete poles e 14 pódios no GP de casa. A Mercedes, por sua vez, já venceu oito vezes desde 2010 e subiu ao pódio em todas as últimas 12 temporadas. Em 2024, a equipe alemã ainda conquistou a primeira fila com uma dupla 100% britânica: George Russell e Hamilton. A Ferrari lidera o histórico de vitórias com 18 triunfos e se destaca também em poles, pódios e voltas mais rápidas. Não por acaso, a Inglaterra é o país que mais forneceu pilotos à Fórmula 1, com 179 representantes e 20 campeões mundiais.
Em 2025, Silverstone volta a ser o centro das atenções não apenas por seu peso simbólico, mas também por seu impacto direto na temporada. A McLaren chega como líder isolada no Mundial de Construtores, com Oscar Piastri e Lando Norris protagonizando a batalha interna pelo título. Com o clima incerto, o traçado desafiador e a energia única das arquibancadas britânicas, a promessa é de mais um fim de semana histórico na cidade que viu nascer a Fórmula 1 — e que, sete décadas depois, segue como uma de suas maiores referências.