A Ferrari decidiu adotar uma postura reservada e orientou seus pilotos a evitarem declarações públicas sobre os problemas técnicos que afetaram os dois SF-25 durante o Grande Prêmio da Espanha de Fórmula 1. A equipe de Maranello ainda não revelou publicamente a natureza das falhas, mas os relatos de Charles Leclerc e Lewis Hamilton confirmam que ambos enfrentaram limitações sérias a partir da metade da corrida em Barcelona.
Apesar do silêncio institucional, os efeitos na pista foram visíveis. Leclerc conseguiu salvar um pódio ao terminar em terceiro, enquanto Hamilton, em uma atuação marcada por frustração, perdeu rendimento nas voltas finais e foi superado por Nico Hülkenberg, da Sauber, encerrando a prova apenas na sexta posição. O britânico, que tem tido dificuldades para acompanhar o ritmo do companheiro desde sua chegada à Ferrari, classificou a corrida na Catalunha como uma das piores de sua carreira e admitiu que não conseguia entender o comportamento do carro durante grande parte da prova.
Em declarações à imprensa, Hamilton revelou que somente após o fim da corrida foi informado sobre a existência de um problema no carro. Ele contou que a equipe pediu para que não entrassem em detalhes com a mídia, mas reconheceu que o diagnóstico posterior trouxe certo alívio. “No rádio, eu disse que era o pior carro que já pilotei em termos de sensação, e realmente foi. Quando voltei dos compromissos de TV e conversei com os engenheiros, descobri que havia um problema. De certa forma, isso me tranquilizou, porque eu já estava começando a questionar minha própria pilotagem”, afirmou.
Do outro lado da garagem, Leclerc também reconheceu que enfrentou dificuldades a partir do segundo stint, embora tenha se recusado a entrar em detalhes, seguindo a orientação da equipe. Segundo ele, os problemas começaram de forma sutil e pioraram na parte final da corrida, obrigando-o a administrar o carro em ritmo de contenção. O monegasco preferiu destacar o bom desempenho no primeiro trecho da prova, antes das falhas, e indicou que a equipe compreendeu as causas do déficit nas voltas finais, mas não planeja compartilhar essas informações com o público neste momento.
O chefe da equipe, Frederic Vasseur, adotou uma postura ainda mais ríspida. Visivelmente incomodado com as insistências da imprensa, o francês declarou que não vai revelar o que ocorreu e demonstrou irritação com os questionamentos recorrentes. “Quando digo na coletiva que não vou divulgar, não voltem 10 minutos depois tentando entender. Nem na sexta-feira seguinte. Não vou dizer o que aconteceu. É assim. Ponto final”, disparou, encerrando o assunto de forma categórica.
A postura da Ferrari, embora compreensível sob o ponto de vista estratégico, aumenta o clima de tensão no paddock. A equipe sabe que precisa retomar a confiança após um fim de semana frustrante em Barcelona, principalmente diante da expectativa criada com o bom início de temporada. A falta de clareza sobre o problema, no entanto, alimenta especulações técnicas e reforça a percepção de que a Scuderia ainda busca consistência e transparência nos momentos de adversidade.
Agora, com o GP do Canadá em andamento, a equipe espera virar a página. Mas o acidente de Leclerc na sexta-feira em Montreal e as reações inflamadas de Vasseur à imprensa indicam que os problemas internos da Ferrari ainda estão longe de um ponto de estabilidade. A ordem de silêncio sobre o que ocorreu na Espanha pode até conter a repercussão imediata, mas não apaga a dúvida que paira sobre o real potencial da equipe neste momento da temporada.