Técnica, precisão e limite zero: Mônaco é um dos circuitos mais desafiadores da história da Fórmula 1
Disputar uma corrida nas ruas do Principado não é apenas uma questão de talento: é um teste de habilidade bruta, paciência cirúrgica e controle absoluto. O circuito de Monte Carlo, palco da oitava etapa da temporada 2025 da Fórmula 1 neste fim de semana, entre os dias 23 e 25 de maio, é talvez o traçado mais exigente tecnicamente de todo o calendário – mesmo sem ser o mais rápido ou mais longo. Em Mônaco, errar não é uma opção. O F1MANIA.NET acompanha o GP de Mônaco ‘in loco’ com o jornalista Rodrigo França.
Um circuito urbano extremo
O traçado de Monte Carlo tem 3.337 km de extensão, configurado inteiramente por vias públicas da cidade. É o circuito mais estreito da Fórmula 1, com trechos tão apertados que há literalmente centímetros entre os pneus e os muros em grande parte da volta. O layout permanece quase inalterado desde a década de 1920, o que faz com que os carros da era moderna – maiores e mais pesados – enfrentem um desafio cada vez mais desafiador.
As velocidades médias são relativamente baixas comparadas a outros circuitos: a pole position costuma vir com média inferior a 160 km/h. Mas isso não significa que o desafio seja menor. Na verdade, o oposto é verdadeiro: Mônaco testa o limite da aderência mecânica e exige uma condução limpa, sem margem para correção.
Zonas técnicas que definem a volta
A volta em Mônaco começa na reta dos boxes, que mal permite uma aceleração plena. A primeira curva é a Saint Devote, uma freada brusca onde muitas vezes se decide a largada. Depois, os pilotos sobem a colina em direção à Massenet e ao Cassino, em uma sequência de curvas de raio longo com mudança de inclinação que exige controle de aceleração na subida.
Na descida para Mirabeau e Hairpin (a curva mais lenta da F1, feita a cerca de 45 km/h), o desafio é virar o carro com o volante no batente máximo, usando até técnicas de “encaixe” de volante — e dependendo da tração para não perder tempo.
Em seguida, o traçado leva os pilotos ao setor mais técnico: Portier, entrada do túnel. A saída do túnel leva à chicane Nouvelle, outro ponto crítico e muitas vezes palco de incidentes em frenagens tardias.
O trecho final é composto pelas curvas da Tabacaria, Piscina (uma das mais rápidas e técnicas do traçado), La Rascasse e Anthony Noghès — esta última dando acesso à linha de chegada.
Acerto de carro: foco total em tração e giro de volante
Por ser um circuito de baixa velocidade média, Mônaco exige acertos extremos de aerodinâmica: os carros correm com o máximo de downforce possível. Suspensões mais macias ajudam a lidar com as imperfeições do asfalto urbano e garantem tração nas saídas de curva. A traseira precisa ser estável, mas sem sacrificar a agilidade em curvas lentas.
O setup do volante também é atípico: o volante precisa girar mais que o usual para permitir manobras em curvas de raio muito curto, como no Hairpin. Direções mais “abertas”, com maior rotação, são configuradas exclusivamente para este GP.
Freios também enfrentam um dilema técnico: por ser uma pista de baixa velocidade, eles esfriam demais entre as frenagens. Equilibrar a temperatura ideal sem superaquecer ou esfriar os discos e pastilhas é fundamental para evitar travões e instabilidade nas frenagens.
Estratégia, classificação e pit stop
A classificação em Mônaco é mais importante do que em qualquer outro lugar. Com raríssimas oportunidades de ultrapassagem, largar à frente significa controlar o ritmo da corrida. O pole position venceu em Mônaco em 11 das últimas 17 edições.
O pit stop também tem seu papel — mas em 2025, a FIA determinou obrigatoriedade de dois pit stops para aumentar a imprevisibilidade estratégica, forçando os times a administrarem pneus e tráfego ao mesmo tempo.
Por fim, o safety car é uma variável quase garantida: em média, há ao menos uma intervenção por corrida em Monte Carlo. Isso afeta as estratégias de parada e pode virar completamente o jogo para quem acerta (ou erra) o momento da troca de pneus.