Com o formato Sprint e apenas uma hora de treinos, Austin servirá como laboratório para a Pirelli testar a diferença entre os compostos
A Fórmula 1 chega a Austin, no Texas, para o Grande Prêmio dos Estados Unidos, e com ela vem uma mudança interessante no “cardápio” da Pirelli. Pela segunda vez na temporada, as equipes terão à disposição três compostos não consecutivos: C1 como duro, o C3 como médio e o C4 como macio. Um salto que promete bagunçar o tabuleiro estratégico em um dos circuitos mais completos e desafiadores do calendário.
Depois do teste frustrado em Spa, onde a chuva impediu conclusões, o Circuito das Américas servirá como laboratório real para a ideia de inserir um “degrau” maior entre o pneu mais duro e o intermediário. Na prática, o novo trio deve oferecer duas leituras bem distintas de corrida: de um lado, quem optar pelo C1 pode tentar um stint longo e uma única parada; de outro, quem ousar com C3 e C4 buscará ritmo puro, sabendo que o preço será, quase inevitavelmente, duas passagens pelos boxes.
Essa combinação chega em um fim de semana de formato Sprint, o que significa que as equipes terão apenas uma hora de treino livre para coletar dados sobre degradação, temperatura e comportamento dos pneus. Em outras palavras: o GP dos Estados Unidos começa já em clima de incerteza. A Pirelli acredita que a diferença de performance entre o C1 e o C3, agora ampliada, pode abrir espaço para táticas criativas e resultados menos previsíveis, especialmente com o calor texano que deve voltar a castigar como em 2024, quando a corrida ultrapassou os 30 °C.
No ano passado, quinze dos vinte pilotos largaram com o pneu médio, incluindo o trio do pódio, enquanto apenas Esteban Ocon arriscou o macio – ainda assim apenas na última volta, para buscar a volta mais rápida. O cenário favoreceu a estratégia de uma parada, sustentada por um período de Safety Car e por uma evolução de pista bastante acentuada ao longo do fim de semana. À medida que o asfalto foi recebendo borracha, o nível de aderência aumentou e a degradação diminuiu, permitindo que os pilotos alongassem seus stints com o C3 sem grandes dificuldades.
Esse fenômeno, conhecido como “evolução de pista”, deve ser novamente um fator determinante. Em Austin, cada volta melhora o nível de aderência do traçado — tanto dentro de uma mesma sessão quanto de um dia para o outro. Essa progressão, causada pela borracha depositada no asfalto, tende a beneficiar quem largar com compostos médios e planejar um segundo stint mais agressivo, já em condições de pista mais rápida e previsível.
O Circuito das Américas, com 5,513 quilômetros e 20 curvas em sentido anti-horário, é um mosaico de referências: há traços de Suzuka, Silverstone e até Istambul Park, com um setor inicial em alta velocidade e um trecho final mais travado. Logo na largada, a subida íngreme até a curva 1, um dos pontos mais icônicos do calendário, exige tração precisa e sangue-frio. A pista combina retas longas, curvas de alta e frenagens fortes, o que obriga as equipes a buscarem um acerto versátil: downforce suficiente para estabilidade, mas sem sacrificar velocidade de reta.
O desgaste dos pneus tende a ser térmico, mais influenciado pela temperatura ambiente do que pela abrasividade do asfalto, que ficou mais liso após o recapeamento parcial feito no ano passado. Isso significa que o gerenciamento de temperatura e pressão pode definir o desempenho, sobretudo nos stints longos. Em termos de equilíbrio, a carga de energia é bem distribuída entre os eixos, mas as forças laterais, geradas nas curvas rápidas, ainda dominam o cenário e exigem muita estabilidade do carro.
Austin, além de tudo, é uma pista que recompensa pilotos precisos e engenheiros pacientes. O histórico recente mostra que o médio (C3) é o pneu mais completo do fim de semana, com o duro servindo como opção segura em estratégias longas, e o macio, como ferramenta de ataque em trechos curtos ou relargadas. Com apenas uma hora de treino antes da Sprint, a leitura correta do comportamento de cada composto pode ser o divisor de águas entre vitória e frustração.
O Grande Prêmio dos Estados Unidos é também um dos palcos mais simbólicos da Fórmula 1 moderna. Desde 2012, o Circuito das Américas se consolidou como a casa americana da categoria, sucedendo uma longa história que passou por Sebring, Riverside, Watkins Glen, Phoenix, Detroit, Dallas e Indianápolis. Lewis Hamilton é o maior vencedor do país, com seis triunfos — cinco deles em Austin — e dois títulos mundiais conquistados no Texas, em 2015 e 2019.
Com Sprint no sábado e previsão de calor no domingo, o GP dos Estados Unidos promete ser um verdadeiro teste de sensibilidade técnica: quem vai entender primeiro a nova escadinha da Pirelli e conseguir transformar esse salto nos compostos em vantagem estratégica.
