Hungaroring é um circuito de curvas apertadas, traçado sinuoso e clima implacável. Mas nesta temporada, foi também o cenário ideal para encerrar a primeira metade do campeonato de 2025 com uma mensagem clara: a calmaria da pausa de verão pode parecer descanso — mas, para muitos, é o início de uma guerra silenciosa.
A Fórmula 1 entrou oficialmente em recesso. Por regulamento, equipes são obrigadas a suspender atividades por duas semanas consecutivas durante o mês de agosto. Nenhuma análise de dados, nenhum ajuste no túnel de vento, nenhuma comunicação sobre peças novas. É o momento mais próximo de férias que a categoria conhece. Mas não se engane: as fábricas podem parar, mas a mente dos pilotos, engenheiros e estrategistas não.
O GP da Hungria serviu como termômetro emocional para medir o que cada personagem levará consigo durante esse silêncio. Alguns vão atravessar as próximas três semanas com certa tranquilodade. Outros, no entanto, enfrentarão o recesso na inquietude daquilo que ainda não conseguiram resolver.
Os que respiram: líderes em construção
Lando Norris foi, talvez, o grande vencedor simbólico deste primeiro semestre – apesar de nove pontos atrás da liderança no mundial. Depois de perder a vitória na Bélgica para o companheiro de equipe, o britânico respondeu com força em Hungaroring. Com uma estratégia precisa de uma parada, sustentou a liderança contra o avanço de Oscar Piastri nas voltas finais e cruzou a linha de chegada com um respiro merecido. Foi sua nona vitória na carreira — e uma das mais significativa até aqui. Não apenas pelas circunstâncias da corrida, mas pelo momento: Norris cresceu em consistência, maturidade e inteligência de corrida. A pausa o encontra mais do que descansado — o encontra preparado. A torcida é para que a temporada retorne logo.

Oscar Piastri, por sua vez, segue como líder do campeonato. E, ainda assim, entra nas férias com uma incômoda sensação de que a margem poderia (e talvez deveria) ser maior. Ele venceu com autoridade em Spa sob chuva, mas na Hungria teve em mãos uma oportunidade real de consolidar domínio. Com pneus mais novos e ritmo superior no fim da corrida, errou na avaliação do momento ideal para atacar Norris — e deixou a chance escapar. Não é uma falha definitiva, mas é um ponto de atenção. Seu talento é inegável, sua temporada é brilhante, mas o detalhe pode custar caro quando a disputa é entre companheiros de equipe. Sai de férias na liderança, mas com o sentimento de que a vantagem poderia ser maior.
George Russell é o nome mais sólido dentro de uma Mercedes e, mesmo que sem condições pelo equipamento, parece de fato preparado quando a oportunidade surgir. Em Hungaroring, conquistou um pódio importante ao ultrapassar Charles Leclerc nas voltas finais. Mais do que o resultado, consolidou seu papel como referência técnica e emocional da equipe, em um momento em que Kimi Antonelli ainda busca seu espaço. Russell pode não estar na disputa direta pelo título, mas está entre os pilotos que encerram a primeira metade do ano em ascensão.
Gabriel Bortoleto, por fim, não apenas pontuou – ele se afirmou. O sexto lugar na Hungria foi seu melhor resultado na Fórmula 1 até aqui, mas o que chamou a atenção foi a maneira como construiu essa performance: estratégia sólida, ritmo constante e maturidade nas defesas. Foi eleito o Piloto do Dia pelo público e vem chamando atenção de todo o paddock. Fernando Alonso, seu manager e rival direto nesta temporada, o considera “o melhor novato desta geração”. Bortoleto termina o semestre com respeito crescente e espaço conquistado — e isso, na F1, vale muito.

Os que afundam: férias forçadas que beiram o castigo
Para Charles Leclerc, a temporada de 2025 tem sido um espelho rachado: às vezes, ele enxerga a vitória; outras, apenas os estilhaços daquilo que poderia ter conquistado. Em Hungaroring, largou na pole, mas perdeu ritmo já no segundo stint. A Ferrari cometeu erros estratégicos, e o próprio time reconheceu problemas no chassi que comprometeram a performance geral. A frustração é crônica. Leclerc vive entre a genialidade de algumas voltas e a desesperança de uma equipe que parece caminhar em círculos. Não serão férias tranquilas.
Max Verstappen também não encontrará tranquilidade nas próximas semanas. Na Hungria, teve uma atuação apagada. Sem sprint (diferentemente da Bélgica, onde venceu no sábado), largou do meio do grid e precisou apostar em duas paradas agressivas — sem sucesso. Terminou apenas em nono, distante dos protagonistas e ainda tentando reencontrar estabilidade após a mudança de comando na Red Bull. A liderança de Laurent Mekies trouxe uma vitória na Sprint de Spa, mas ainda está longe de configurar uma reação completa. O domínio dos últimos anos virou memória. E Verstappen sabe disso. Prováveis noites não muito bem dormidas, intercaladas por “trocadas” de fraldas na madrugada.

Kimi Antonelli, apesar do talento promissor, ainda não conseguiu justificar o salto direto da Fórmula 2 para a Mercedes na F1. O italiano vive uma curva de aprendizado árdua, com erros, falhas mecânicas e um ritmo aquém do necessário. Enquanto isso, Russell lidera a equipe com firmeza, e a pressão cresce sobre o jovem prodígio.
Lewis Hamilton talvez vive o momento mais delicado de toda sua carreira na F1. Eliminado no Q2, largou em 12º na Hungria e terminou a corrida na mesma posição, uma volta atrás da liderança. Depois da classificação, em entrevista contundente, declarou: “Sou inútil. A Ferrari deveria me trocar por outro piloto.” Foi um desabafo cru, direto, que escancarou sua frustração. Na prática, o heptacampeão atravessa um momento emocionalmente esgotante — e as férias, para ele, terão menos cara de descanso e mais de reflexão existencial. “Descansar um pouco”, declarou Hamilton após a corrida na Hungria.

Zandvoort no horizonte
A próxima etapa, na Holanda, só acontece entre os dias 30 de agosto e 1º de setembro. Até lá, o barulho das corridas será substituído pelo ruído interno de cada piloto. Uns carregarão vitórias. Outros, fantasmas. Uns descansarão no topo. Outros, terão problemas para desligar a mente antes de dormi. A pausa da Fórmula 1 é regulamentar. Mas a ansiedade — essa é livre.
