O australiano entrou na zona de DRS na volta 65, teve o melhor ritmo da corrida e pneus mais eficientes, mas tentou o ataque na hora errada. Travou os pneus, quase acertou Norris — e viu a vitória escapar a metros do fim.
Oscar Piastri teve ritmo para vencer o Grande Prêmio da Hungria de 2025. Teve pneus, teve leitura de corrida, teve a aproximação perfeita. E teve a chance. Mas não teve o tempo certo. O ataque veio na volta errada. E a vitória escapou por pouco mais do que uma curva.
O gráfico de ritmo da corrida, desenvolvido pelo F1pace.com em parceria com o F1Mania.net, mostra que o piloto da McLaren foi o mais rápido em todos os três stints da prova. Sua consistência foi superior à de qualquer outro piloto no grid — incluindo Lando Norris, seu companheiro de equipe e vencedor da corrida. E não só o ritmo médio era melhor: Piastri também teve menos voltas em tráfego e menos degradação no stint final, o que construiu o cenário ideal para uma ultrapassagem nas voltas derradeiras. Ela quase veio.
Não é uma interpretação emocional. Ela está nos dados. Volta por volta, stint por stint, gráfico por gráfico — os números não apenas sustentam a superioridade do australiano da McLaren ao longo da prova, como também indicam que ele tinha ritmo suficiente para vencer Lando Norris nas voltas finais da corrida. Mas isso não aconteceu.
A ultrapassagem que poderia selar sua sétima vitória na temporada 2025 da Fórmula 1 não veio. E o motivo, ao que tudo indica, está em uma única decisão, tomada em um momento limite: o ataque precipitado na volta 69, a penúltima da corrida. Foi ali, em uma freada forçada, que Piastri viu sua corrida perfeita ruir — não em resultado, mas em potencial.

Gráfico por f1pace.com

Gráfico por f1pace.com
O cenário ideal se desenhava
A McLaren controlava a corrida desde o segundo stint. Piastri e Norris, com estratégias espelhadas e compostos semelhantes, abriram vantagem confortável sobre o restante do grid. Leclerc, que largara da pole, afundava em ritmo e desgaste, enquanto George Russell surgia como o único rival possível — ainda assim, distante demais para incomodar a liderança dos carros papaya.
No stint final, iniciado na volta 46, Piastri retornou à pista com pneus duros, atrás de Norris. E foi ali que a diferença começou a cair.
Os dados do modelo de ritmo corrigido mostram que Piastri foi mais rápido em média que Norris no stint decisivo da prova, com vantagem de mais de meio segundo por volta:
Stint final de Piastri: 1:19.947
Stint final de Norris: 1:20.510
Diferença: –0.563s
Enquanto Norris enfrentava degradação crescente, especialmente nos setores de tração média, Piastri mantinha a performance. Com menos voltas em tráfego e um acerto que priorizava equilíbrio nas curvas de raio longo, o australiano foi se aproximando silenciosamente. E quando a volta 65 começou, ele entrou na zona de DRS.

A decisão crítica
Entre as voltas 65 e 68, a expectativa crescia. Piastri estava colado. Norris não cometia erros, mas já não conseguia abrir distância suficiente para se proteger. As câmeras da transmissão mostravam o traçado limpo de Piastri nas curvas 11 e 12, aproveitando a traseira instável de Norris para manter a pressão. O ataque parecia questão de tempo.
Na volta 69 o #81 mergulhou por dentro. Era um ataque desesperado, mas com traços de cálculo. Piastri sabia que, se não tentasse ali, poderia ficar sem oportunidade. O problema é que ele forçou além do limite dos pneus, travou a dianteira e quase acertou o carro de Norris na frenagem.
A aproximação se desfez em um rastro de borracha e fumaça. E o que poderia ter sido uma manobra limpa, suficiente ao menos para manter as chances na volta final, virou um erro irreversível. O gráfico de performance mostra que, logo após o ataque falho, Piastri perde tempo considerável. O rendimento dos pneus despenca, e a curva de ritmo se inverte.
A vitória invisível
A linha do tempo mostra que, se o ataque tivesse sido adiado por mais uma volta — ou se tivesse sido preparado com mais paciência —, o desfecho poderia ter sido outro. Norris, naquela altura, já não tinha pneus em boas condições. E a última volta seria completada sem DRS de retardatário à frente, abrindo a chance para uma manobra no final da reta principal, com mais tração e menos pressão. Mas o ataque veio cedo demais.
Na linha de chegada, a diferença foi de 0s826 — menor do que a margem que Piastri tirava por volta nos momentos anteriores à tentativa. A vitória, que parecia inevitável, virou ilusão. Norris cruzou em primeiro, a McLaren comemorou sua dobradinha, e Piastri recebeu aplausos merecidos pela performance — mas saiu de Hungaroring com uma pergunta sem resposta: e se tivesse esperado mais uma curva?

Um erro que pode custar caro
A frustração de Piastri se amplia quando colocada no contexto do campeonato. O australiano continua líder, mas Lando Norris, com a vitória em Budapeste, reduziu novamente a diferença entre os dois. O que poderiam ser 23, são apenas nove pontos agora. Se os dois McLaren seguirem dominando como nas últimas etapas, pequenos erros como esse não serão apenas detalhes — serão decisivos.
Piastri parece mais completo. Mas Norris tem experiência, serenidade em momentos críticos e a confiança de quem venceu mais vezes recentemente. Em um campeonato disputado ponto a ponto, perder sete pontos por uma freada errada pode ser a diferença entre ser campeão — ou vice.
Com a vitória em Budapeste, Lando Norris chegou a 9 triunfos na carreira, abrindo novamente vantagem sobre Oscar Piastri, que permanece com 8. Mais do que estatística, esse número representa status, legado e confiança dentro da equipe — especialmente em uma disputa tão acirrada como a que os dois protagonizam em 2025.
Na temporada atual, o placar segue apertado: Piastri venceu seis vezes e Norris cinco. Também está contando os dias para o retorno da F1 na Holanda? Anota aí, faltam 16 dias para a corrida em Zandvoort.
A tentativa frustrada de Piastri, o domínio técnico da McLaren, os números que não aparecem na tela — tudo isso, e muito mais, são temas que Carlos Garcia e eu debatemos diariamente no podcast F1Mania Em Ponto. De segunda a sexta-feira, estamos ao vivo no YouTube com a gravação do episódio, que depois também está disponível no Spotify e nas principais plataformas. É onde você encontra a repercussão completa de cada corrida, as análises dos bastidores da Fórmula 1 e as discussões que vão além do que se vê na pista.
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