Gabriel Bortoleto brilha na Áustria, marca seus primeiros pontos na Fórmula 1 e mostra que está pronto para mais
“P8, Nico P9. Pontuação dupla. Parabéns, Gabriel. Você merece”. Foi com essa mensagem que a Sauber celebrou a chegada de Gabriel Bortoleto nos pontos pela primeira vez na Fórmula 1, no Grande Prêmio da Áustria deste domingo (29). Do outro lado do rádio, a resposta do brasileiro foi contida, quase frustrada: “Desculpa, eu não consegui passar ele.” O pedido de desculpa vinha de alguém que, declaradamente, não está na F1 apenas para marcar pontos, mas para ser campeão um dia.
O “ele” era Fernando Alonso. E o momento, talvez o mais representativo do fim de semana. Porque Bortoleto não apenas pontuou — ele atacou até o fim para terminar ainda mais à frente. E no final, soltou: “Let’s start from here.” Vamos começar daqui.
Entre atacar e sobreviver
Era o desfecho perfeito para uma história que havia começado no sábado, quando Bortoleto avançou ao Q3 pela primeira vez e largou na oitava posição – sua melhor posição de largada e também da Sauber desde Valtteri Bottas em Las Vegas 2023, operando sob o nome de Alfa Romeo.
Para o domingo, uma dúvida ficou no ar: “Atacar ou não? Eis a questão”, como dissemos em nossa análise pré-corrida. A largada, na parte suja da pista, cercado por Max Verstappen e Kimi Antonelli, pedia cautela. Mas também era preciso ter um bom ritmo, se defender, atacar. Correr a corrida. E o brasileiro entendeu isso com perfeição.
Na primeira volta, a resposta foi prudência. O toque entre Verstappen e Antonelli na curva 3 forçou Bortoleto a sair da pista para evitar o contato. Perdeu tempo, foi ultrapassado por Alexander Albon e Pierre Gasly, mas voltou ileso, à frente de Alonso, e ainda dentro da zona de pontuação. Foi o primeiro momento crucial da corrida — aquele em que o ataque não era a melhor opção. E ele soube reconhecer isso.
Uma Sauber de verdade
Com o safety car encerrando o caos inicial, Bortoleto retomou a concentração. A Sauber, com atualizações recentes, entregou um carro mais competitivo em Spielberg. Nos últimos três GPs a equipe somou 20 pontos, atrás apenas de McLaren, Mercedes e Ferrari. Desde sexta-feira, o brasileiro mostrava ritmo: foi 6º no TL1, 8º no TL2 e 10º no TL3, sempre à frente de Nico Hülkenberg. O time suíço deixou de ser o pior do grid — e seus pilotos começaram a provar isso na prática.
Na classificação, Gabriel cravou o oitavo lugar, à frente de Aston Martin, Alpine, Williams e até da Mercedes de Antonelli. A estratégia da Sauber para a corrida de Bortoleto foi de duas paradas: médios-médios-duros, seguindo os passos de George Russell. Mas, no fim das contas, o adversário mais direto era Liam Lawson, que fez apenas uma parada e terminou em sexto. Alonso, também com uma troca única, mantinha a sétima posição — até o segundo momento crucial da corrida: o ataque.

Hora de atacar
Nas últimas dez voltas, Bortoleto começou a tirar diferença com autoridade. Com pneus duros mais novos, eram quase dez segundos para Alonso. Se aproximou rapidamente, estudou, atacou — e chegou a fazer a ultrapassagem. O espanhol, no entanto, devolveu imediatamente. No meio da briga, Bortoleto ainda foi atrapalhado por uma bandeira azul acionada por Lando Norris, líder da prova, que se aproximava para dar uma volta. Mesmo assim, o brasileiro terminou em oitavo, com agressividade, ritmo e personalidade. Hülkenberg completou em nono, garantindo a primeira pontuação dupla da Sauber em 2025.
“Sinto que tivemos uma disputa muito intensa – provavelmente a mais intensa que já tive na Fórmula 1 até agora”, disse Bortoleto após a corrida, sobre a disputa final com Alonso. “Por fora, por dentro, lidando com as bandeiras azuis por causa do [Lando] Norris e depois do Oscar [Piastri]… Foi uma loucura. Não tenho o que dizer, apenas um grande duelo, e fico feliz por ter conseguido disputar com o Fernando até o fim por esses pontos.”
Caminho natural de evolução
A corrida na Áustria confirma uma curva ascendente nas performances da Sauber e de Bortoleto nas últimas etapas. Na Espanha, o brasileiro já havia feito sua melhor classificação até então; no Canadá, teve ritmo competitivo e chegou perto do Q3; e agora, em Spielberg, consolidou o resultado com pontos.
A equipe suíça tem mostrado sinais claros de evolução técnica — embora ainda não seja possível afirmar que está consolidada no pelotão intermediário. E embora a expectativa para Silverstone, no próximo fim de semana, seja positiva, o momento ainda exige cautela. A hierarquia do grid segue instável, e a Sauber, mesmo em crescimento, não parece pronta para pontuar com naturalidade em qualquer cenário. O GP da Inglaterra será mais um teste de verdade para o fôlego desse progresso.
Fim de semana de respostas
A pergunta que abrimos no sábado, sobre atacar ou não, ganhou duas respostas: primeiro, o instinto de sobrevivência; depois, o instinto de ataque. E a soma disso tudo deu o tom exato do que foi o GP da Áustria para Gabriel Bortoleto: maduro no início, agressivo no fim — foi completo.
O “Let’s start from here”, “Vamos começar daqui”, não foi um desabafo. Foi uma declaração, comprovada nas palavras dele mesmo:
“Sempre soube que era capaz disso. Eu não estou na Fórmula 1 por acaso. É bom estar finalmente nos pontos — mais pela equipe do que por mim, porque eles realmente merecem”, disse Bortoleto à F1 após a corrida.
“Pra mim, estou aqui porque quero vencer um dia. Não vou ficar feliz só por ter marcado alguns pontos, sabe? Mas com certeza já é uma conquista. Devemos comemorar cada pequena conquista, e estamos indo na direção certa para realizar nosso sonho maior, que um dia é conquistar campeonatos.” Falou e disse.
A Fórmula 1 retorna na próxima semana com o Grande Prêmio da Inglaterra, 12ª etapa da temporada 2025, que acontece entre os dias 4 e 6 de julho, em Silverstone. O F1Mania.net acompanha todas as atividades da F1 na Inglaterra ao vivo e e tempo real.