Gabriel Bortoleto vai ao Q3 pela primeira vez na Fórmula 1 e consolida sua ascensão em Spielberg. Brasileiro terá Max Verstappen ao seu lado na largada deste domingo (29) às 10h, horário de Brasília. O F1Mania.net acompanha o GP da Áustria ao vivo e em tempo real.
Onze corridas. Foi esse o tempo necessário para Gabriel Bortoleto alcançar seu primeiro feito na Fórmula 1. Em Spielberg, palco da 11ª etapa do campeonato, o brasileiro levou a Sauber ao Q3 pela primeira vez na temporada e conquistou um expressivo oitavo lugar no grid — o melhor resultado do time em 2025 e o ponto mais alto de sua curta, mas consistente trajetória na categoria.
Ao longo das dez primeiras etapas, Bortoleto já vinha desenhando um caminho promissor. Logo em sua estreia, na Austrália, foi ao Q2 e largou em 15º. Nas etapas seguintes, sofreu com a limitação técnica da Sauber, alternando entre a parte final e intermediária do grid: 19º na China, 17º no Japão, 18º no Bahrein e 20º na Arábia Saudita. Depois, foi ao Q2 em em Miami, em 13º lugar, 14º em Ímola. Em Mônaco e Montreal ficou perto do Q2. Na Espanha, sua melhor posição de largada até então, Q2 que lhe rendeu o 12º lugar — um sinal de consistência crescente, mas ainda abaixo do radar principal.
Até chegar a Spielberg.
Neste sábado, o brasileiro entregou uma volta precisa no Q2, superando pilotos como Yuki Tsunoda, Fernando Alonso, Pierre Gasly e Carlos Sainz — todos com carros de meio de pelotão mais estáveis. No Q3, sem pressão, melhorou ainda mais e cravou o oitavo lugar, colocando a Sauber na quarta fila do grid e largando logo atrás de Max Verstappen. Foi a primeira vez que a equipe chegou ao Q3 em 2025 — um feito tanto técnico quanto simbólico.
O ponto crucial dessa história é que a Sauber não tem um carro para estar entre os dez primeiros. A equipe, que atravessa uma fase instável mesmo após atualizações recentes, ainda é — com alguma margem — uma das piores do grid em desempenho bruto. Em um cenário onde McLaren, Red Bull, Ferrari, Mercedes, Aston Martin, Racing Bulls e até Williams frequentemente brigam no Q2 ou Q3, ver uma Sauber na oitava posição é, sim, um feito fora da curva.
E mais: não foi apenas um Q3. Bortoleto se colocou à frente de uma Mercedes, a de Kimi Antonelli, e se aproximou do tempo de George Russell. Isso em um traçado de alta exigência aerodinâmica e frenagens violentas, como o Red Bull Ring — características que expõem com brutalidade os pontos fracos do carro da Sauber. A pista austríaca exige tração, estabilidade e potência em linha reta. A Sauber não entrega nenhuma dessas qualidades em nível de ponta. Mesmo assim, Gabriel brilhou.
Lá no início da temporada, a expectativa mais realista era ver o brasileiro frequentando o Q2 ocasionalmente. Largar entre 10º e 15º já seria um trunfo — e muitas vezes foi isso o que ele fez. Por isso, largar em oitavo neste fim de semana, diante de um pelotão extremamente competitivo, é um resultado inesperado e que precisa ser muito valorizado. É uma conquista que diz mais sobre o piloto do que sobre o equipamento.
Outro ponto importante que precisa entrar na análise: a cobrança pelo primeiro ponto. Muitos torcedores têm acompanhado a comparação direta com Nico Hülkenberg, que já soma 20 pontos na temporada. Sem desmerecer o alemão — que vem tendo atuações sólidas —, é importante entender o contexto: muitos desses pontos vieram em situações caóticas de corrida, que ele aproveitou bem com sua experiência. Não era esperado que a Sauber tivesse sequer um ponto nesse estágio da temporada. Ou seja, os 20 de Hülkenberg são, sim, uma surpresa positiva. E o fato de Bortoleto ainda não ter pontuado não diminui em nada o nível da temporada que ele vem fazendo.
Neste domingo, o brasileiro terá, sem dúvida, sua melhor chance até aqui. Largando em oitavo, com um bom ritmo mostrado nos treinos e uma posição estratégica na pista, as expectativas estão naturalmente altas. Mas é preciso dizer com todas as letras: não há obrigação de pontuar. A F1 não perdoa ingenuidade. Se todas as equipes concluírem a prova sem incidentes, a chance de a Sauber manter um carro entre os dez primeiros é improvável, mesmo saindo da quarta fila. O que há é esperança — e uma base sólida para acreditar no que está por vir.

Atacar ou não? Eis a questão
Um dos trunfos mais consistentes de Nico Hülkenberg nesta temporada tem sido justamente sua postura agressiva nas largadas. Em diversas ocasiões, o alemão transformou posições modestas no grid em oportunidades reais nas primeiras voltas, ganhando terreno antes mesmo do primeiro stint se estabilizar. Essa postura ousada tem feito a diferença — e ajudado a explicar seus inesperados 20 pontos no campeonato.
Para Gabriel Bortoleto, no entanto, o cenário deste domingo é bem diferente.
Ele terá ao seu lado ninguém menos que Max Verstappen, largando logo à sua esquerda. Atrás, vem Kimi Antonelli, com a Mercedes — carro mais veloz em ritmo de corrida neste fim de semana, segundo as simulações de long run. Além disso, o brasileiro parte da parte suja da pista — o lado direito do grid, que tradicionalmente oferece menos tração no Red Bull Ring por estar fora da linha emborrachada.
Ou seja, qualquer movimento ofensivo nas primeiras curvas será, no mínimo, de altíssimo risco.
E é justamente aí que entra a principal dúvida para o domingo: na largada, atacar ou não? Em outras condições, partir para cima poderia fazer sentido. Mas neste caso, a melhor estratégia parece ser exatamente o contrário: uma largada limpa, sem tentar fazer a diferença logo nos primeiros metros. A corrida é longa, e as oportunidades virão.
Bortoleto, aliás, tem adotado largadas cautelosas ao longo da temporada — às vezes até demais, se comparadas à agressividade de Hülkenberg. Essa característica pode se tornar aliada neste domingo. Largar limpo, evitar confusão na sequência de curvas 1-2-3 e manter o carro intacto para a primeira janela de pit stops será mais valioso do que um salto impetuoso e arriscado.
E, tão importante quanto a largada em si, estará a estratégia da Sauber.
Mais do que nunca, será necessário que a equipe suíça acerte o básico. Não se exige um plano mirabolante, com undercuts ousados ou stints fora do padrão. Mas é fundamental que a Sauber entregue uma estratégia correta, alinhada ao ritmo real do carro e às janelas ideais de pit stop. Um erro de leitura — ou uma chamada precipitada — pode comprometer tudo aquilo que Bortoleto construiu no sábado.
Se Bortoleto fizer sua parte, com uma largada limpa e ritmo consistente, e a equipe não errar nas decisões, o tão sonhado primeiro ponto pode enfim se tornar realidade. Mas esse é um jogo que se ganha nos detalhes — e, acima de tudo, com a cabeça fria.