Artigo: Éramos seis…

Por Giovanni Romão

>>> Saídas confirmadas de BMW, Toyota, juntando-se à desistência da Honda em 2008, montadoras voltam a ser minoria na Fórmula 1 depois de uma década de fortes investidas

Alguém topa um joguinho do “túnel do tempo”? Prometo não voltar aos remotos e românticos anos 70 e 80. Partiremos do final da década de 90, pois esse é o foco principal do assunto aqui tratado.

Bom, primeiro passo, partiremos da relação das 11 equipes que compunham o grid em 1999. Lembram desse ano? O segundo título de Hakkinen, o acidente de Michael Schumacher, a surpreendente Stewart. Enfim, uma temporada muito interessante. Eis os times: McLaren, Ferrari, Williams, Jordan, Benetton, Sauber, Arrows, Stewart, Prost, Minardi (inesquecível!) e BAR.

Um discreto cheiro de montadora no ar. Tirando Fiat e Mercedes, na “retaguarda” de Ferrari e McLaren (a primeira bem mais, claro!), tínhamos por ali, Peugeot e Ford. Ponto final.

Bom, podem perguntar: mas por que partir de 1999? Primeiro para encurtar nosso campo de análise. Segundo para falarmos dos tempos atuais. E, o principal, por que a partir de 2000 entraríamos numa nova Era. A Era dos altos investimentos. F1 como vitrine de lucro. Palco de intensivos desenvolvimentos tecnológicos. Business frente ao esporte. Trapaças e escândalos. Domínio da Ferrari. Pouca emoção. Se entrarmos em todos os méritos, serão dias falando, por isso fiquemos no “câmbio” independentes-montadoras; montadoras-independentes.

Agora, chegamos a 2000. Listinha não muda muito, mas a BMW desembarca no circo como parceira da Williams e a Jaguar escancara as portas: compra a Stewart e desemboca como equipe própria. Os belos carros verdes, que pouco andavam.

Não existia mais volta (ou sim?); o futuro estava traçado. 2001 manteve-se em inércia, apenas preparando o cenário para 2002. A Jordan, em decadência, acompanha a aproximação inicial entre BAR e Honda. A Toyota, com orçamento recorde na história da categoria, estréia em Melbourne, pontuando. Naquele ano, porém, apenas dois pontos, depois de passar 2001 apenas desenvolvendo seu primeiro carro na F1. Também volta ao cenário como equipe própria a francesa Renault. Das recentes montadoras, a de maior sucesso – com dois títulos (2005 e 2006). Falida, Prost nem inicia o ano. A Arrows pagou mico, deixou pilotos sem luvas, quebrou (financeiramente) no meio da temporada, boicotou o GP da França, e deu adeus…

2003 e 2004 sem grandes mudanças, apenas com a saída (esperada) da Jordan e a chegada da Red Bull. Os energéticos chegaram sem credibilidade, em meio ao domínio cada vez mais intenso das montadoras, mas mostraram profissionalismo e maturidade muito superior. Em 2005, não temos mais Jaguar, e a Minardi ensaia o triste fim; a relação entre BMW e Williams estremece, e a BAR anuncia que deixará a categoria.

2006 abre o período das cartadas das gigantes do automobilismo.

A BMW compra a Sauber e a Honda assume o comando da BAR. Isso tudo para 2006. A Honda ainda resolve abraçar o projeto da Super Aguri, seu “time b”. Tínhamos, então, 11 equipes no grid, sendo que sete delas com participação – efetiva – de montadoras. Estavam envolvidas: Fiat (italiana), Mercedes e BMW (alemãs), Honda e Toyota (japonesas), e Renault (francesa).

Começava a era da pressão. Não fosse o pulso firme de Bernie Ecclestone – “macaco-velho”, teriam as montadoras ditado as ordens no circo. Tentaram durante 2007 e meados de 2008. Até que estourou a crise!

Pronto! A F1 deixava de ser um negócio interessante.

Esporte? “Temos que pensar em nosso principal foco: produzir carros de rua”. Pregam os “mocinhos” de terno e gravata. “Para isso, salvar recursos humanos e financeiros são medidas urgentes”. Corta-se o que é margem. Corta-se a F1…

A Honda abriu a porteira da saída, ao anunciar, de forma abrupta, sua retirada no final de 2008. E olha que tinham em mãos um projeto promissor, como ficou provado. E sabiam disso!

Resumindo: negócios…

Antes mesmo do fim do mundial de 2009, a BMW confirma a conclusão de sua passagem pela categoria. É a crise. A Toyota bateu até o último instante que ficaria até 2012. Não foi possível (meio relativo, não?)…

Kamui Kobayashi poderia salvar a Toyota? Pobre homem comum. Um mero mortal. “Apenas” mais um japonês com chance de brilhar – confesso que nesse, ainda, deposito minhas fichas. Mas não é mais do que os 180 milhões de euros, uma média atual, que seriam investidos pela montadora em mais um ano na F1.

Do mesmo jeito que Robert Kubica, bom piloto e promessa de título, pode não salvar a Renault, mesmo com contrato assinado. Desrespeito? Os “românticos” diriam que sim. Os homens de negócio classificariam como “uma medida necessária”.

Ver Campos, Manor, Lotus (longe de ser aquela…) e USF1 entrando na F1 (se é que entrarão) é bom sinal? O retorno das independentes! Um ressurgimento dos velhos tempos?

Sinais até não faltam, como os pneus slick, fim das ajudas eletrônicas e do reabastecimento, corte de custo, e tal, e tal. Saber se a F1 suportará esse revés? Difícil dizer, mas podemos acreditar que o passo não está sendo dado para trás, mas sim para um novo (talvez velho) cenário.

Dos prováveis 13 times na temporada 2010, caso os compradores dos espólios da BMW consigam uma vaga, apenas três montadoras (Fiat, Mercedes e Renault).

Definitivamente, os tempos são outros!



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