Quando a chuva começou a cair em Curitiba, tudo poderia acontecer. E parece que tudo, absolutamente tudo, literalmente, aconteceu na decisão do título da temporada 2010 da Stock Car na capital paranaense nesse domingo.
No apagar das luzes, em uma prova caótica ao extremo, Cacá Bueno viu a possibilidade do tetracampeonato, e de seu segundo título consecutivo pela Red Bull Racing, escapar por um mísero ponto. Felicidade de Max Wilson, novo campeão da principal categoria do automobilismo brasileiro. Lance-a-lance, a história de como o título de 2010 foi decidido:
1) O primeiro dos quatro postulantes ao campeonato a ver suas chances evaporarem foi Allam Khodair. Logo na segunda volta, o piloto da Blau Full Time, que pulara para primeiro na largada, foi “atropelado” por Thiago Camilo na freada do S de Baixa. Camilo foi desclassificado pela manobra;
2) Na terceira volta, na relargada após o incidente entre Khodair e Camilo, a chuva que havia começado tímida momentos antes da largada chegou de vez ao Autódromo Internacional de Curitiba. A essa altura, três candidatos ao campeonato seguiam vivos: Wilson era o líder, Ricardo Maurício era o terceiro e Cacá vinha em sexto. Daniel Serra, no segundo carro da Red Bull Racing, era o oitavo;
3) A chuva aperta, e Max faz uma parada para colocar pneus de chuva na volta seis. Maurício, Cacá e Serrinha seguem com pneus de seco mesmo no molhado, e assumem as três primeiras colocações. A estratégia do trio é clara: esperar a abertura dos boxes para reabastecimento no 20º minuto e colocar pneus de chuva em uma única parada;
4) Serrinha pressiona Maurício pela liderança, mas a pista já está demasiado molhada. O carro 29 da Red Bull Racing escapa e perde várias posições;
5) Na volta 11, é Cacá quem roda no Curvão. O carro 0 fica preso na brita, mas o tricampeão manobra com a marcha ré várias vezes até desprender seu carro, e retorna à pista sem perder uma volta, mas na última posição. O safety car vai à pista;
6) Nas voltas 12 e 13, em bandeira amarela, Cacá, Maurício e Serrinha param para colocar pneus de chuva. O box ainda não foi aberto para reabastecimento – ou seja, os três terão de parar novamente;
7) Relargada na volta 14. Alceu Feldmann, que havia parado logo no início da chuva, é o líder. Max é o quarto e Cacá, o 20º. Popó Bueno é tocado na reta e bate forte;
8) Max perde várias posições na volta 14 e vai ao box. Com o parabrisa embaçado, o piloto do carro 65 parou por falta de visibilidade. A equipe EurofarmaRC reabastece o carro de Max antes do 20º minuto, o que não é permitido;
9) Giuliano Losacco e Christian Fittipaldi batem forte no fim da reta, e o safety car retorna à pista na volta 15. Cacá, Maurício e Serrinha param para rebastecer, com o box já aberto. Após a parada, Serrinha é o 10º, Max é o 12º, Maurício o 13º e Cacá, o 17º;
10) Valdeno Brito deixa o box com a garrafa de combustível ainda presa ao carro, e é punido pela Direção de Prova om um drive-through. Na segunda corrida da Super Final, em Santa Cruz, uma infração idêntica cometida pelo mecânico reabastecedor da EurofarmaRC no carro de Max Wilson não mereceu sanção alguma da Direção de Prova, permitindo que Max somasse oito pontos na etapa gaúcha;
11) Max é punido com um drive-through na volta 19, por reabastecer antes da abertura da janela. Na primeira etapa da Super Final, em Londrina, Felipe Maluhy fora excluído da prova por uma infração idêntica;
12) Cacá ataca e ultrapassa Ricardinho para assumir a 13ª posição. Em seguida, Maurício bate em David Muffato e é forçado a abandonar na volta 21, com a suspensão quebrada;
13) Luciano Burti roda, e o safety car volta à pista. Momentos antes da relargada, na volta 22, Átila Abreu escapa de traseira e bate em Cacá. No incidente, Felipe Maluhy passa à frente de Cacá sob bandeira amarela, o que não é permitido, mas não é orientado pela Direção de Prova a devolver a posição;
14) Faltam poucos minutos para o limite de 50min, e Cacá precisa terminar duas posições à frente de Max para ser o campeão. O piloto da Red Bull Racing é o sétimo, e o da Eurofarma pula para oitavo ao ultrapassar Lico Kaesemodel;
15) Na volta final, Cacá tenta de todas as formas, mas não consegue superar Maluhy. Na prova mais confusa do ano, Diego Nunes conquista uma vitória inédita, à frente de Xandinho Negrão e Júlio Campos. Cacá é o sétimo e Max, em oitavo, leva seu primeiro campeonato por apenas um ponto. Serrinha fecha em 13º. Na matemática final, incluindo o descarte de um resultado dentro da Super Final, Max soma 265 pontos, contra 264 de Cacá. Serrinha termina o ano em nono, com 229.
ABRE ASPAS:
Cacá Bueno, Red Bull Racing, Peugeot 307 #0: “É dolorido perder um campeonato por apenas um ponto, ainda mais em se considerando quantos fatores fora das nossas mãos nos impediram de somar pontos em várias corridas ao longo do ano, e também quantos fatores desse mesmo tipo permitiram que concorrentes nossos pontuassem indevidamente. Mesmo assim, tenho de parabenizar o Max e o time do Meinha, que fizeram um belo trabalho ao longo de toda a temporada”.
Daniel Serra, Red Bull Racing, Peugeot 307 #29: “A partir do momento em que a chuva apertou e decidimos ficar na pista, a corrida virou um pouco ‘loteria’. Com as condições de visibilidade extremamente críticas, acabei escapando e isso nos tirou da briga pela vitória.
“Acredito que os resultados, principalmente na Super Final, não refletiram nossa competitividade nesse ano. Nas quatro últimas corridas antes dessa de hoje sofri duas quebras e uma desclassificação que me tiraram da disputa do título. Mas tenho certeza que no ano que vem voltaremos ainda mais fortes para brigar por esse campeonato”.