As 24 Horas de Le Mans surgiram de uma ideia original para a época, início do século 20: ao invés de somente testar os novos carros e tecnologias em termos de velocidade, que tal também desafiá-los no campo da “sobrevivência”, algo extremamente útil para as fábricas e seus clientes? Nascia aí a ultramaratona mais famosa do mundo dos automóveis.
Cenário de momentos de heroísmo – seu principal apelo –, a prova também foi marcada por estatísticas, rivalidades encardidas, personagens que se tornaram lendas e até acidentes que chocaram o mundo – incluindo o mais dramático de todos. “Le Mans é uma mescla interessante da tradição e heroísmo com sofisticação e alta tecnologia. É uma mistura irresistível. É uma honra correr aqui”, define André Negrão, piloto brasileiro da equipe Alpine que largará em terceiro na prova.
Selecionamos abaixo 24 dos muitos fatos marcantes dessa saga que pela 89ª vez promete emocionar os fãs do esporte a motor em todo o mundo. A prova será disputada neste sábado, a partir das 11h, com transmissão ao vivo pelos canais Fox Sports.
1923, a origem – O Automobile Club de l’Ouest criou a prova e optou por fazer a corrida nas ruas próximas ao rio Sarthe, que corta da cidade de Le Mans, surgindo assim o nome da pista: Circuit de la Sarthe.
1935, estreia do Brasil – Bernardo Souza Dantas foi o primeiro piloto do país a disputar a corrida, a bordo de um Bugatti Type 57.
1949, Ferrari – Um ano antes do nascimento da F-1, a escuderia italiana obteria sua primeira vitória em Le Mans com os pilotos Luigi Chinetti e Peter Mitchell-Thompson ao volante de um modelo 166MM. A Ferrari venceu um total de 9 provas na classificação geral.
1952, o superhumano – Aos 47 anos, o francês Pierre Levegh pilotou por 22 horas desde a largada e só abandonou por quebra do motor de seu Talbot quando a vitória parecia certa, em um dos grandes atos de heroísmo de Le Mans.
1955, o pior momento – A maior tragédia do automobilismo. Pierre Levegh já havia criticado a segurança da área de escape perto da arquibancada. Um toque entre seu Mercedes-Benz 300 SLR e o Austin-Healey de Lance Macklin jogou seu carro sobre o público, matando 83 pessoas e ferindo muitas mais. O acidente iniciou a adoção de diversas novas regras de segurança nas pistas.
1963, Bino – O brasileiro Christian Heinz, o “Bino”, liderava sua categoria e estava em terceiro na classificação geral com um Alpine M63 quando seu carro chocou-se contra um poste. Bino, 28 anos, faleceu na hora.
1967, 300 mil pessoas – Uma multidão compareceu ao circuito para assistir à vitória do único time 100% norte-americano a conquistar a prova: o Ford Mk IV da equipe oficial de fábrica com Dan Gurney e A.J. Foyt ao volante.
1970, Porsche – Hans Hermann e Richard Attwood deram a primeira das 19 vitórias (recorde) da fábrica alemã, pilotando o belo Porsche 917K.
1969, o protesto – Jacky Ickx protestou contra os riscos da largada tipo Le Mans, com os pilotos correndo para seus carros a pé e dando a partida. Ele caminhou calmamente, entrou no carro, colocou o cinto de segurança e saiu por último. Ickx venceu a prova, humilhando os organizadores.
1971, Steve McQueen – O carismático ator filmou “Le Mans”, a principal referência do gênero, durante a prova de 1970. Exigente quanto à veracidade, McQueen sabia que nesse esporte mais se perde do que se ganha. E assim foi: o ator forçou o estúdio a mudar o roteiro para que chegasse em segundo na prova – invertendo a lógica da época, de que o mocinho sempre venceria no final.
1973, Moco – José Carlos Pace, o Moco, conquistou o segundo lugar pela Ferrari, melhor resultado de um brasileiro. O feito foi repetido por Raul Boesel (Jaguar, 1991), Lucas Di Grassi (Audi, 2014) e Bruno Senna (protótipo LMP1, 2020).
1978, Alpine – Única vitória da marca francesa, que em 2021 tenta vencer com o brasileiro André Negrão e os franceses Nicolas Lapierre e Matthieu Vaxivière.
1980, meio ambiente – Criada com foco na resistência dos carros, com a formação da categoria Grupo C, Le Mans passa a centrar seu regulamento na economia de combustível, uma nova emergência para a indústria e o meio ambiente.
1980, feito “em casa” – Desafiando a tradição e em meio a ícones da indústria e do esporte, o francês Jean Rondeau venceu a edição de 1980 com um carro completamente construído por ele, o Rondeau M379B. Jean-Pierre Jaussaud foi o outro piloto.
1988, 407km/h – Utilizando um motor Peugeot, a preparadora francesa WM projetou um protótipo para cravar um super recorde de velocidade em Le Mans. E assim foi: o piloto Roger Dorchy atingiu 407km/h na reta Mulsanne, mas andou apenas 95 dos 5.332km da prova.
1999, Henri Pescarolo – O piloto francês amplia para 33 seu recorde de participações, a bordo de um Courage-Porsche. Pescarolo venceu quatro edições.
2010, a maior distância – Com um Audi R15 TDI, Mike Rockenfeller, Timo Bernhard e Romain Dumas venceram após percorrerem 397 voltas, ou 5.410,71km.
2013, Tom Kristensen – O piloto dinamarquês conquistou sua nona vitória, um recorde que parece inalcançável diante da complexidade da prova.
2017/2019, Daniel Serra – O filho de Chico Serra foi campeão na categoria LMGT-Pro com um Aston Martin Vantage GTE (2017) e um Ferrari 488 GTE Evo (2019).
2017, 19ª vitória – A Porsche atinge 19 primeiros lugares, uma marca impressionante. O segundo lugar não é da Ferrari (9 vitórias), mas da Audi, com 13 conquistas.
2018/2019, André Negrão – O piloto paulista é bicampeão de Le Mans na categoria LMP2, a segunda na hierarquia da prova. Em 2021, tentará a vitória na classificação geral com um Alpine A480.
2018/2019/2020, Toyota – A fábrica japonesa é o atual bicho-papão da categoria. Mas venceu o primeiro de seus três títulos somente em 2018, depois de seis tentativas.
2020, Marcos Gomes – O campeão da Stock Car e filho de Paulo Gomes torna-se o 34º e último brasileiro a estrear na prova.
2021, Mulheres – A prova deste sábado terá duas equipes formadas somente por pilotos femininas. As mulheres já colecionam 10 vitórias por categoria além de sete top10 na classificação geral de Le Mans.