Atleta olímpico de tiro, bicampeão do Rally Dakar e príncipe do Catar. Convenhamos: Nasser Al-Attiyah não pode pedir muito mais da vida
Não chega a ser, necessariamente, um príncipe dos desenhos animados da Disney. Muito pelo contrário. Aos 46 anos de idade, Nasser Al-Attiyah carrega uma brutalidade que destoa bastante de sua posição na família real, mas combina perfeitamente com o Rally Dakar, a prova off-road mais famosa do mundo.
Nasser já é bicampeão do Dakar e estará presente na edição de 2018 correndo pela Toyota.
Essa nobreza toda é meio esquisita, já que Nasser não é parente direto do Emir do Catar, Hamad bin Khalifa Al Thani. Mas é tratado como se fosse, com toda a honra e respeito. Explica-se: é que ele é parente por parte de pai da segunda mulher do pai do Emir atual (minha nossa!). E uma parente sua amamentou Al Thani quando criança, o que também ajuda a conferir o título de nobreza.
Enfim, entre tantas conexões, o cara é príncipe.
Mas como se não bastasse, desenvolveu um talento absurdo para os esportes. Chegou a tentar o futebol, mas descobriu que levava jeito mesmo para o tiro esportivo, modalidade que o levou a participar dos Jogos Olímpicos entre 1996 e 2012. Nesta última edição, em Londres, conquistou medalha de bronze na disputa do skeet (um dos três tipos de prova da categoria com tiro no prato).
Ah, sim, e tem este lance de correr de rally, né?
Embora tiro esportivo e pilotagem não tenham absolutamente nada a ver, Nasser acha que um ajuda o outro, naquela história de se concentrar melhor, de buscar a perfeição etc. Ele começou no universo do esporte a motor em 1989, mas durante sete anos não pôde competir em nenhum rali porque o presidente da Federação de seu país pertencia a uma família rival dos Al-Attiyah, que acabou promovendo outros pilotos.
Por isso, Nasser deu um tempo e foi se dedicar ao tiro esportivo. Até que um de seus milhares de primos foi promovido a presidente do automobilismo do Catar, abrindo então as portas das corridas para Nasser.
Seu alvo, com o perdão do trocadilho, passou a ser o mundo do rally.
Estreou no Dakar 2004, correndo de Mitsubishi e terminando em décimo lugar. Logo de cara, chamou a atenção da BMW, que o convidou para competir pela marca nos anos seguintes. Mas o sucesso, mesmo, viria com a Volkswagen. Foi ao volante do carro da montadora que ele chegou ao primeiro título do Dakar, em 2011.
Em 2012, correu de Hummer; no ano seguinte, foi de Demon Jefferies, dois modelos norte-americanos.
De 2014 a 2016, assumiu o comando de um Mini, que lhe ajudou a se tornar bicampeão do Dakar, já pela equipe Red Bull Desert Wings. A conquista do segundo título veio em alto estilo: Nasser dominou a prova exatamente da largada à chegada em 2015.
Nasser sempre disputou a categoria carros (por enquanto, vai saber o que o cara planeja pro futuro). E foi em 2017, que ele e seu co-piloto francês, Matthieu Baumel, mudaram de equipe e correram o Dakar pela Toyota. Porém, a estreia com a marca japonesa não teve sucesso. A dupla foi forçada a abandonar a prova porque bateu na terceira especial, deixando a Hilux com danos irreparáveis.
“Por que mudei para a Toyota? Porque sou um homem livre e gosto de mudar. A mudança sempre é positiva, porque te traz nova energia. Eu estava curioso, precisava experimentar a Toyota, conhecer um carro novo e o tornar competitivo. Eu me adapto muito bem às novas situações”, afirma Nasser, que segue de Toyota em 2018.
Além do Dakar, Nasser tem passagens pelo WRC, tanto na classe principal, quanto nas categorias de base. Foi campeão do PWRC em 2006 e bicampeão do WRC-2 em 2014 e 2015. Se aventurou inclusive nas pistas de corrida, disputando as provas do Catar do WTCC em 2015 (o WTCC é o campeonato mundial de carros de turismo).
E de onde vem tanta energia?
“Eu treino muito. Corro, pedalo, nado… Estar em forma pode mudar o jogo. Estou falando de experiência – muitos anos correndo, você aprende a economizar energia. Nunca fico totalmente exausto. Fico um pouco cansado, mas nunca perco a concentração. O skeet (modalidade de tiro) é o melhor treino para isso. E o rali é o melhor treino de reflexos”, avalia Nasser, que já esteve no Brasil disputando o Rally dos Sertões.
Na época, doou US$ 20 mil para ajudar na recuperação do carro da piloto brasileira Helena Deyama, que havia sido danificado em um incêndio. Nesta edição de 2009, cujo percurso ia de Goiânia, GO, até Natal, RN, ele terminou em segundo lugar, atrás do espanhol Carlos Sainz, hoje um rival direto na briga pelo título do Dakar (e parceiro no Red Bull Desert Wings).
O próximo desafio de Nasser no Dakar começa dia 6 de janeiro, em Lima, no Peru, e terá cobertura completa da Red Bull TV.
