Na eterna guerra dos sexos, as mulheres estão conquistando mais um espaço até pouco tempo exclusivamente masculino. Aos 34 anos, a arquiteta paulista Roberlena de Moraes provou isso ao vencer, no sábado (26), em Goiânia, a terceira etapa da Copa Troller Sudeste 2004 e subir para a vice-liderança da competição, um dos principais ralis de regularidade do país. Ela contabiliza inúmeros resultados positivos em seus dez anos como navegadora de provas de rali, a maioria ao lado do piloto e marido Marcelo Carqueijo. Porém, mais do que troféus ou medalhas, ela conquistou o respeito e a admiração dos adversários, sendo uma das poucas mulheres a se destacar na categoria Graduados, a mais importante deste tipo de evento.
“Não se pode dizer que o preconceito acabou, pois seria mentira. Mas, também é verdade que melhorou muito. Sempre houve um respeito pela mulher, mas agora já consegui o respeito como navegadora”, destaca Roberlena, que tem no currículo um bicampeonato na Copa Sudeste, o tri no Raid do Batom, e a vitória na categoria imprensa no Rally Internacional do Sertões.
Mesmo com o sucesso conquistado, ela ainda se surpreende com o reconhecimento do público. “Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer. Já fui parada muitas vezes na rua para dar autógrafo e descobri que tenho até um fã clube em Juiz de Fora (MG). Sem dúvida tudo aconteceu pelo fato de eu ser mulher e em razão dos bons resultados”, admite.
Para chegar nessa condição, ela destaca a dedicação citando Ayrton Senna. “Como o Ayrton dizia, é importante se dedicar todo o dia. Somente assim você consegue evoluir e fazer a diferença em qualquer processo e pode quebrar qualquer barreira”, reconhece. “Com isso, não faz nenhuma diferença ser homem ou mulher”, simplifica.
Pois é justamente o rigor da dedicação que impede a entrada de mais mulheres no mundo do off road. “A disponibilidade de tempo é grande e esse é o principal problema para maioria das mulheres. Eu, por sorte, sou casada com um piloto e não tenho filhos. Agora, imagine uma mulher que já tem tantos afazeres ainda precisar treinar?”, questiona.
Na disputa de Goiânia, por exemplo, a característica da prova permitiu a presença de outras 21 mulheres, divididas entre pilotos e navegadoras, de um total de 144 competidores. “É uma disputa curta, de apenas um dia, o que possibilita a participação de mais mulheres, especialmente da cidade-sede, como aconteceu na Copa Troller” , ressalta.
Roberlena lembra que tomou gosto pelo esporte ao se casar com o piloto Marcelo. “Estamos competindo juntos há mais de 10 anos e um dos segredos dos nossos resultados é a perfeita entrosamento que conseguimos estabelecer”, conta. “Cada um sabe a importância do outro no final. Se não fosse assim, a coisa não daria certo”, finaliza a navegadora que tinha como ídolo o navegador Norton Lopes, campeão brasileiro na década de 90.
A dupla volta a competir no início de agosto, na quarta etapa da Copa Troller Sudeste, em Campos de Jordão.