Depois de oito etapas, o Rally Paris-Dakar 2004 começa a fazer suas vítimas, a primeira grande “peneira”. Pelo menos 28 pilotos de moto ficaram pelo caminho só nesta quarta-feira, no trecho entre Tan Tan, no Marrocos, e Atar, na Mauritânia. O dia era o mais longo da competição, com 1.055 quilômetros (701 cronometrados). Entre eles alguns favoritos, como o australiano Andy Caldecott, que sofreu uma fratura na perna. Dos 411 veículos de competição que largaram em Clermont Ferrand dia 1º de janeiro, apenas 253 continuam. Ou seja, pouco mais da metade. O maior número de abandonos está na categoria motos. Das 200 iniciais, 113 aparecem nas listas de classificações.
Na noite de quarta o acampamento do rali em Atar estava vazio. Normalmente no final de cada dia eles ficam repletos de gente e com caminhões e veículos de assistência disputando o melhor espaço. Batatas fritas, bife grelhado e macarrão com molho de tomate esfriavam à espera dos aventureiros. E os pilotos que conseguiram sobreviver à uma das etapas mais duras deste ano se arrumavam como podiam enquanto o apoio não chegava.
É o caso do brasileiro Jean Azevedo, piloto de moto da equipe Petrobras Lubrax. Sem o caminhão de assistência, que leva equipamentos e objetos pessoais dos concorrentes, ele conseguiu uma barraca emprestada e dormiu por várias horas. Os mecânicos Geraldo Lima e Ronaldo Pinto só chegaram a Atar por volta de uma hora da madrugada desta quinta-feira.
Depois do longo dia, mais dor de cabeça hoje (quinta). O trajeto entre Atar e Tidjikja não foi tão longo, mas difícil, exigindo técnica de pilotagem. Ao todo 389 quilômetros com areia, pedra, estradas de terra e dunas. Na chegada a Tidjikja os pilotos não puderam contar com a assistência dos mecânicos, já que a etapa é “maratona”, quando os próprios competidores devem fazer a manutenção dos veículos.
Tempestade de areia no meio do nada
Para complicar, eles foram recebidos por uma tempestade de areia. O vento forte levanta a terra do deserto, obrigando as pessoas a usarem óculos especiais – sejam de natação, de moto e de esqui na neve. Sem eles é quase impossível manter os olhos abertos quando a ventania aumenta. Pedras seguram as barracas no chão e comer é outro desafio. O cardápio de hoje incluía pão, queijo e salada de arroz… com areia. A cada mastigada a impressão de estar comendo algo crocante. O pó toma conta de tudo e os equipamentos precisam ser protegidos com plásticos, daqueles de embalar alimentos no freezer.
O aeroporto de Tidjikja não tem nenhuma infra-estrutura. Banheiro nem pensar… A única alternativa é o próprio deserto. Cidade não é o nome correto para o vilarejo encravado no Saara, com ruas de terra, construções nada uniformes de uma cor só (ocre) e mulheres cobertas com roupas coloridas. Carroças puxadas por jumentos dividem espaço com carros Mercedes-Benz caindo aos pedaços.
No mercado principal, a céu aberto, vende-se de tudo: ervas, roupas, tapetes, frutas, pão e até carne, que é cortada e pesada ali mesmo, com nuvens de mosquitos em volta. As crianças cercam os “turistas” do Rally Paris-Dakar e pedem de tudo. Querem alguma lembrança da maior prova off road do mundo. Quando não há camisetas e bonés, eles se contentam com uma caneta “Bic”, produto raro por aqui.
Mais informações no site www.parisdakar.com.br
A Equipe Petrobras Lubrax tem patrocínio da Petrobras, Petrobras Distribuidora, Mitsubishi Motors do Brasil, Pirelli, e apoio da Minoica Global Logistics, Banco DaimlerChrysler, Controlsat Monitoramento Via Satélite, Eurofarma, Planac Informática, Mitsubishi Koala, Mercedes-Benz Caminhões, Nera Telecomunicações, Telenor Satellite Services AS, Kaerre, Capacetes Bieffe, Lico Motorsports, Artfix, Adventure Gears, ZF do Brasil, Behr, Sadia e Dakar Promoções.