Depois de um campeonato conquistado somente na última prova, em 2003, certamente nem o mais fanático torcedor ferrarista imaginava a fantástica campanha do alemão até o momento. Confortáveis 38 pontos a frente de Rubens Barrichello, o alemão acumula 11 vitórias e 92% dos pontos que disputou em 12 GPs nesse ano. E tão lamentável quanto a falta de equilíbrio na disputa pelo título é ver um Hockenheim, palco da prova do último domingo, bastante diferente daquele que nos habituamos.
Confesso que ao olhar qualquer mapa do circuito tenho a sensação de a reforma, realizada entre 2001 e 2002, literalmente assassinou um dos templos sagrados da Fórmula 1. Das quatro longas retas – separadas por três chicanes – duas sumiram e somente uma não sofreu alterações. A extensão da pista foi reduzida de 6825 para 4574 metros, assim como a média de velocidade por volta também caiu. O intuito, além de “modernizar” as dependências do autódromo, lógico, adequá-lo aos atuais conceitos de segurança.
De fato, Hockenheim sempre foi um dos circuitos mais perigosos da categoria. A possibilidade dos carros desenvolverem velocidades superiores a 300 quilômetros por hora e a “proximidade” da pista com os guard-rails tornavam as zonas de escape ineficientes. Nos primórdios, embora a velocidade fosse menor que a atual, a resistência contra colisões era pequena. Portanto não era difícil ver monocoques se desintegrarem após acidentes. Já nos últimos anos, o principal problema tornou-se a desaceleração nos choques, brusca, imediata.
Verdadeiramente o traçado remodelado pelo projetista Hermann Tilke até dispõe de mais segurança que o antigo. E também não deixa de ser interessante. Em 2002 e 2003 houveram corridas com bom número de ultrapassagens. Mas ver os carros rasgarem nas retas próximas a Floresta Negra a mais de 350 quilômetros por hora era um dos melhores atrativos da temporada de F-1. Diversos pilotos adoravam aquele que sempre foi palco de corridas espetaculares.
A última delas aconteceu em 2000, na primeira vitória de Rubens Barrichello na F-1. Logicamente era esperada uma corrida de recuperação, afinal, largava somente na 18a. posição, com uma poderosa Ferrari. Mas Rubinho fez mais. Deu um show de pilotagem, disputando palmo- a- palmo posições com os adversários e ganhando-as na freada para as chicanes.
Segurança deve ser prioridade em qualquer categoria, mas não há como negar que algumas pistas fazem falta. Em uma adaptação do ditado popular: “Cada benefício tem o seu custo”. Hockenheim que o diga.
Pontos para Pizzonia
Antonio Pizzonia teve uma boa apresentação em Hockenheim. Logicamente, poderia ter sido melhor. Mas o brasileiro mostrou-se suficientemente superior que Marc Gene e, conseqüentemente, melhor opção para a Williams enquanto Ralf Schumacher não retornar às pistas. Durante as sessões sentiu falta do ritmo de corrida, mas andou bem na parte final da corrida – virando diversas voltas na casa do um minuto e 14 segundos. Diante das dificuldades comum para uma reestréia e dos carros de Frank Williams longe de seus dias mais competitivos, o sétimo lugar foi interessante. Ruim mesmo, somente terminar atrás do desafeto Mark Webber.
Com o resultado, Pizzonia tornou-se o 17o brasileiro a pontuar na Fórmula 1.
Querendo mostrar serviço
Apesar disso, o manauara pode ter feito o único GP pela Williams nesse ano. A recuperação de Ralf surpreende os médicos e o alemão quer retomar o cockpit na próxima etapa, em Hungaroring. A pressa tem justificativa: mostrar serviço para a Toyota. Geralmente os contratos de F-1 possuem clausulas que dispensam o piloto caso sofra um acidente e não apresente forma física e técnica iguais ao da época em que a negociação foi concluída.
Quebra-cabeça no mercado
Os comentários e boataria sobre a temporada 2005 estão presentes no paddock da F-1. E um desses “quebra-cabeças” indicam mudanças radicais no grid do próximo ano. Além do já confirmado Mark Webber, a influência da montadora alemã BMW renderá um cockpit na Williams ao compatriota Nick Heidfeld. Jarno Trulli, que anunciou sua saída da Renault no último fim de semana, terá como destino a Toyota, assim como Ralf. Em seu lugar, Giancarlo Fisichella. Com isso, caminho aberto para Gary Paffett na Sauber. Coulthard, dispensado pela McLaren, estaria certo na Jaguar, que possuí interesse em um piloto experiente. Por fim, Timo Glock assumiria um Jordan.
Vamos ver se todas as “peças” se encaixam em harmonia. Caso contrário…
Consolidando liderança
Dario Franchitti literalmente deu um chute na má fase no último domingo. Após praticamente não ter corrido a temporada 2003 por causa de um acidente de moto e de uma seqüência de resultados pouco expressivos nesse ano, o escocês venceu a etapa de Milwaukee da Indy Racing League. Outro que lucrou no oval de uma milha de extensão foi Tony Kanaan. Mesmo tendo enfrentado problemas no acerto do carro, especialmente instabilidade no chassi no trecho final da corrida, o piloto da Andretti-Green terminou em quarto lugar. Com o abandono de Dan Wheldon, consolidou-se ainda mais na liderança. Tony chegou a 357 pontos, 64 a mais que o vice-líder, Buddy Rice.
A próxima etapa acontece já no próximo domingo, em Michigan, superspeedway que favorecerá a potência dos motores Honda. Boa notícia para Kanaan e Vítor Meira.
Rafael Ligeiro