Sempre que chego a Mônaco, por alguma razão, tenho pressa. Ou é uma entrevista agendada, um encontro para discutir a cobertura do fim de semana, um jantar comemorando alguma coisa. Desta vez cheguei sem pressa. Nada melhor do que isso para, logo na saída do aeroporto de Nice, evitar a autoestrada e fazer os 27 quilômetros da costa, a Basse Corniche, até o porto de Cap d’Ail, já encostado no de Monte Carlo. É, sem dúvida, um dos lugares mais bonitos do mundo, apesar da inevitável lembrança do acidente que matou a princesa Grace Kelly numa das curvas fechadas que beiram o precipício.
Mônaco é charmosa em qualquer época do ano. Mas na semana do GP tudo se multiplica. O charme passa da conta. As faixas espalhadas pela cidade anunciam a 62ª edição da corrida mais famosa do campeonato mundial, ignorando o atual momento de crise de uma F-1 que, há muito, não consegue entusiasmar. Tomara que esse clima traga de volta, mesmo que por apenas um fim de semana, alguma coisa dos tempos românticos da F-1. O céu talvez não ajude. Depois de uma quarta e uma quinta-feiras com muito sol e calor, há promessa de uma virada antes do treino oficial de sábado, que pode ser disputado com chuva.
Com cinco vitórias em cinco corridas, quatro poles e quatro melhores voltas na temporada, Michael Schumacher pode, em um único fim de semana, tirar Nigel Mansell do caminho, se conseguir acumular a sexta vitória seguida nas seis primeiras corridas do ano (hoje está empatado com Mansell em cinco), e ficar lado a lado com Senna na história de Mônaco, onde o brasileiro venceu seis vezes não consecutivas. Mas esta é uma corrida especial em que as equipes com pneus Michelin têm a primeira grande chance do ano para desbancar a Ferrari. Desde que os pilotos e carros rivais ajudem. A começar por Montoya, a quem tem faltado controle emocional, seguindo pela McLaren, que anda à procura de um chassi equilibrado, a Renault, que ainda não conseguiu a potência necessária do seu motor, e Jenson Button, que não pode deixar que a lembrança do forte acidente sofrido no ano passado prejudique a sua autoconfiança. Para quem já está tão acostumado às poles de Schumacher, é bom lembrar que aqui ele não larga na frente há três anos. Em 2001 a pole ficou com Coulthard, em 2002 com Montoya e em 2003, com Ralf.
Mônaco fez o que lhe cabia em defesa do seu GP. Uma obra de oito meses mudou a configuração da avenida Princesa Grace para abrigar os boxes sem o aperto de sempre. Pela primeira vez em mais de seis décadas, as equipes terão espaço para trabalhar. Antes disso, entre cada treino, os carros eram levados para uma área de paddock montada a 500 metros dos boxes, atrás da Rascasse, aquela última curva fechada antes da reta de largada e chegada. Agora, tudo foi ampliado o suficiente para acomodar os carros e mais o equipamento das equipes, que ganham inclusive escritórios completos no segundo andar. A antiga área do paddock continua lá, mas só para alojar os motorhomes, onde acontecem os almoços, jantares, bate-papos, entrevistas, e também onde se discute contratos e onde acontecem as novas uniões e os divórcios entre equipes e pilotos.
Muita gente gostou, mas há controvérsias. Aqueles que pagavam os ingressos mais caros para ficar diante dos boxes, agora vão perceber que as equipes vão trabalhar de costas para eles. Em compensação, a frente dos novos boxes ganhou uma enorme arquibancada coberta para três mil pessoas, onde o ingresso custa 500 euros (R$ 1,6 mil) para o fim de semana.
F1 + Futebol – A quinta-feira foi festiva em Montecarlo. Lembrando os bons tempos de Copa do Mundo, os jornalistas brasileiros se reuniram no Stars ‘n’ Bars, ao lado do paddock da F-1, para ver pela TV o jogo Brasil x França. Antes disso, dei uma passada no Hotel Port Palace, onde a Toyota realizou uma homenagem aos jornalistas com mais de 300 GPs na bagagem. Encontrei os amigos mais antigos que, como eu, estão na casa dos 400. E até aquela meia dúzia que já passa dos 500.
Nova Pontuação – Enquanto a F-1 estuda mudanças radicais para serem aplicadas dentro de pouco tempo, neste final de semana a Fórmula Mundial testa em Monterrey um novo sistema de classificação. Os pilotos são dividos em dois grupos e todos têm, no mínimo, 15 minutos de treino. Os cinco primeiros de cada grupo passam para uma final (também de 15 minutos). O mais rápido desta seleção ganha um ponto de bonificação, mesmo sem ter garantido um lugar na primeira fila do grid. No segundo dia de treino todos voltam juntos à pista durante 30 minutos. Os nove mais rápidos se juntam ao vencedor do dia anterior para definir o pole-position, que ganha outro ponto extra no campeonato.
Erechim ferve – A pacata cidade gaúcha de Erechim estará agitada neste fim de semana, pela presença dos participantes dos campeonatos brasileiro e sul-americano de rali. Equipes da Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Bolívia, além dos brasileiros, tomaram a pequena cidade situada ao norte do Rio Grande do Sul, e se preparam para a mais esperada prova do calendário nacional.
Reginaldo Leme
Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.
Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.
Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.