Dentre uma das características mais interessantes do esporte está sem dúvida a capacidade de transformação da imagem e reputação dos atletas. Em questão de minutos, herói passa a vilão, desconhecido a conhecido, gênio a patético. Então, o que dizer quando esse tempo é um ano !? Até mesmo aqueles privilegiados que já criaram a famosa imagem de que “ganharam tudo que disputaram” têm sua capacidade contestada nos momentos menos produtivos.
Existem diversos exemplos dessa verdadeira metamorfose esportiva. Um dos mais recentes ocorreu com Justin Wilson, que viveu momentos distintos no campeonato do ano passado. Após bons rendimentos com Minardi, o inglês desbancou Antônio Pizzonia e conquistou um lugar na Jaguar. No carro da equipe não obteve os resultados esperados, acabou demitido ao final da temporada e, sem posto na F-1, partiu para a Fórmula CART. Essa é a quarta categoria diferente nos últimos cinco anos – também já disputou a Fórmula 3000 e a Super Nissan. E tal vaivém em pouco tempo faz do inglês um daqueles pilotos que podemos classificar como folclórico.
Sim, folclórico. Até mesmo pela sua altura, totalmente fora do “padrão jóquei” dos atuais pilotos. Em 2002, o britânico foi cotado para disputar duas provas pela Minardi na Fórmula 1, entretanto o corpanzil de 1,91 metro não adequou-se ao cockpit que era do maláio Alex Yoong. Detalhe: a oportunidade ficou com o compatriota Anthony Davidson, 31 centímetros menor que Wilson. Entretanto esse não foi o único episódio folclórico na carreira do inglês.
Em 2001, após vencer o GP do Brasil de F-3000, Justin quase bateu seu monoposto no muro da reta principal após frustrada tentativa de executar os “donuts”, manobra popularizada por Alex Zanardi após seus triunfos na F-CART.
Outro fato foi o campeonato do ano passado. Partir para uma equipe melhor é o objetivo de qualquer piloto que corre pela lanterninha Minardi. A transferência para a Jaguar aparentava ser um bom negócio no quesito equipamento, mas Wilson pegou uma fase muito ruim para ser piloto do time. Passando por grande momento, Mark Webber havia fincado sua bandeira como piloto principal e centro das atenções na escuderia de Milton Keynes. Também havia a cobrança imediata por pontos, na busca pelo quinto lugar no mundial de construtores.
Apesar disso, Justin Wilson mostrou em diversas ocasiões que é um bom piloto. Na própria F-3000, soube aproveitar da estrutura da equipe Nordic e conquistou o título de forma avassaladora. Na CART, chegou em sétimo na etapa de abertura em Long Beach. Mais que o resultado mostrou rápida adaptação com o novo equipamento, mesmo com poucos testes durante a pré-temporada. Possuí boas chances de conquistar pódios e é o favorito para faturar o título de melhor estreante do ano.
Ao contrário de muitos que afirmam que Wilson acabou, o objetivo de voltar à categoria máxima do automobilismo está intacto. Além de suas qualidades, ele é jovem, têm muitos anos de carreira pela frente. Nos Estados Unidos, também terá a chance de amadurecer ainda mais seus atributos e “gerenciar” melhor sua carreira.