Coluna do Joly: Hoje sim? Hoje sim. De novo.

Por Luís Joly

Felipe Massa neste ano era apenas um coadjuvante. Liderou o campeonato bem no começo, quando tudo ainda era bem nebuloso e ninguém sabia ao certo quem era a melhor equipe. Depois que perdeu a liderança, pouco fez, parte por culpa dele mesmo, parte pelo limitado desempenho da Ferrari. Basicamente, ficou na sombra de outros nomes na intensa briga pelo título.

Fernando Alonso demorou, mas mostrou seu talento. Alternado, no entanto, com erros que comprometeram sua performance no campeonato. Ainda assim, conseguiu uma vitória no começo do ano, e depois foi perdendo espaço para McLaren e Red Bull muito devido à limitação de seu carro.

Ao longo da temporada, o encontro na pista entre ambos sempre foi breve. Na Malásia, a maior polêmica, quando Alonso superou Massa na entrada do box. Porém, até então os dois ainda não haviam se encontrado em uma disputa maior, mais séria.

Até agora.

O GP da Alemanha teve um toque especial para brasileiros e espanhóis, já que, quem diria, a Ferrari estava falando sério e realmente conseguiu voltar a colocar seus carros à frente de Red Bull e McLaren.

Durante todo o fim de semana, Alonso foi mais rápido que o brasileiro. Sempre algo em torno de cinco décimos. Nas posições de largada, isso se manteve.

Mas, na hora de sair, tudo mudou. Felipe foi melhor e assumiu a ponta. E agora, José?

Alonso seguiu a corrida toda mais rápido que Felipe, mas sem conseguir ultrapassar – o velho problema da Fórmula 1. Até que a ordem veio pelo rádio. Disfarçada, claro. Em um inglês claríssimo, pausado e quase estudantil, o engenheiro de Massa avisou ao brasileiro que o companheiro de time vinha atrás e mais rápido.

Foi a deixa para Felipe abrir caminho. E para a imprensa brasileira toda – junto de uma legião de curiosos que só falam de F-1 nessas horas – cair matando.

A maioria não quer admitir, mas a verdade é que Fernando Alonso é mais piloto que Felipe. A diferença não é enorme nem definitiva. Em dados momentos, o brasileiro até consegue igualar ou mesmo superar o rival. Mas, no geral, Alonso manda melhor.

E, para qualquer brasileiro “globalizado”, admitir isso não é fácil (e eu me incluo).

A decisão da Ferrari incomoda todo mundo, mas o Brasil parece sofrer mais. Para o brasileiro, o “efeito Rubinho” nos causa uma incômoda lembrança, quase um trauma. Quem entende de F-1 lembra que foi na Áustria, em 2002. Quem não entende, lembra apenas do “hoje não, hoje não, hoje sim!”, de Cleber Machado à época.

É difícil tirar o patriotismo na hora de analisar uma decisão dessa. Pensando como equipe, a Ferrari fez o correto. Sebastian Vettel, o terceiro colocado, dava indícios de se aproximar da dupla da Ferrari, já que Massa estava segurando Alonso. A Ferrari, portanto, achou por bem deixar Alonso tomar a dianteira e garantir a primeira posição. Tudo muito lógico, muito correto e plausível.

Mas estamos falando de um esporte. De uma competição, assistida por milhões de pessoas, que, além da tecnologia, querem ver uma corrida de carros, com brigas por posições.

E não foi isso que a Ferrari mostrou.



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