Coluna Indy: A continuação da existência da CART, um problema

Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2004.

Neste dia uma Corte de Falências de Indianapolis (EUA) decidiria o futuro daquela que um dia foi a segunda categoria mais importante do esporte automobilístico mundial, a CART.

Dois grupos duelavam pela compra do espólio da categoria, a OWRS (Open Wheel Racing Series) e IRL (Indy Racing League, categoria rival).

Até meados de Janeiro era certeza por parte de todos que somente a OWRS iria disputar na Corte a compra do espólio da CART. Porém, há poucos dias a IRL entrou na briga, e este julgamento ganhou proporções grandiosas, com cobertura maciça da mídia, pois ele decidiria o futuro das Fórmulas Indy.

Comecei á escrever esse texto pouco depois das 9 da noite do mesmo dia, logo após lêr as notas de como haviam sido o duelo de ambos os lados por todo o dia, e aproximadamente ás 8:30 da noite (Horário de Brasília) saiu a decisão do julgamento: a OWRS era a vencedora.

Não escondo de ninguém minha frustração, pois estava torcendo para a vitória da IRL. Desde 2002 sou defensor da unificação das duas categorias em uma só, e a proposta que Tony George fez para adquirir a CART incluía a fusão das duas categorias para 2005. Algo que deixaria muitos fãs agradecidos, e o esporte automobilístico de monopostos em uma posição muito melhor.

Aqui vai um breve resumo de todo o processo que culminou neste julgamento de hoje:

*Em 1995 Tony George e o IMS (Indianapolis Motor Speedway) brigaram com a CART após receber financiamento de Bernie Ecclestone, interessado em enfraquecer a então fortíssima Fórmula Indy/CART. George queria fazer o IMS e sua família recuperarem o controle das IndyCars nos EUA, e assim fundou a IRL para 1996, categoria rival e semelhante á CART, com o diferencial de só competir em ovais e ter consigo as 500 Milhas de Indianapolis.

*Entre 1996 e 2000 a IRL conseguiu se afirmar, se estabelecer, mas sem ameaçar a então fortíssima e rica CART, que havia perdido em 1996 os direitos do nome “Indy” para a IRL.

*Á partir de 2001 a IRL cresceu, passou á oferecer uma categoria mais rentável em termos de divulgação de patrocinadores, e isso atraiu várias equipes da CART para migrarem para a IRL após experiências nesta nova categoria, disputando as 500 Milhas de Indianapolis.

*Durante 2002 muitas outras equipes, patrocinadores, pilotos, fornecedores de motores, contratos televisivos, categoria de base e técnicos se convenceram á ir para a IRL e deixar a CART, que ficava cada vez mais enfraquecida.

*Quando 2003 chegou, a IRL estava muito mais forte do que a CART, os papéis se inverteram em questão de um ano e meio. A IRL, rica, conseguia lucros com seu campeonato, e oferecia baixo custo ás suas equipes. A CART, já um pouco pobre, acumulou dezenas de milhões de dólares em prejuízos durante esta temporada.

*Ao final de 2003 aqueles que comandavam a CART reconheceram o prejuízo, e decretaram a falência em dezembro para que o grupo da OWRS comprasse o espólio da categoria e assim fazer prosseguir as atividades da CART, mesmo que enfraquecida.

*Em Janeiro de 2004, Tony George entrou na briga para comprar o espólio da CART, com a intenção de promover uma fusão entre elas em 2005, e fazer seu campeonato competir em circuitos ovais e mistos, tal como era a CART em seus dias de glória.

Se George vencesse iríamos ver uma única Fórmula Indy, rica, forte, promissora e que certamente faria a IndyCar retornar á seus bons tempos de glória.

Com duas Fórmulas Indys existindo prossegue o drama dos mesmos anos anteriores: Uma rouba forças e espaço da outra, porquê duelam. A CART jamais recuperará o prestígio que tinha antes, por existir a IRL. E a IRL não consegue chegar no patamar em que a CART estava em meados dos anos 90 pois ainda existe a CART, com alguns poucos insistentes nela.

O martelo da justiça americana bateu pro lado errado, para o lado dos insistentes que teimam em não se lembrar que “se você não pode com seu inimigo, junte-se á ele” e prosseguirá o estágio de estagnação das IndyCars.

A CART continua, pobre, capenga, sem condições de crescer, e sem espaço para isso por conta da existência da IRL.

E a IRL, que vislumbrou uma chance maravilhosa de crescimento, internacionalização forte e prosperidade “engolindo” a CART, pode continuar ainda um pouco limitada á curto prazo.

Porquê a OWRS ganhou e a IRL perdeu no tribunal?

Pois a OWRS garantiu que assumirá todas as dívidas da CART, fará o campeonato prosseguir e manterá todos os empregos que essa decadente categoria gera.

A IRL perdeu pois embora queria pagar mais pelo espólio, não iria assumir as dívidas totais da categoria (apenas algo em torno de 10% ou 15% delas) e iria acabar com o campeonato, gerando algum desemprego (mas nem tanto, pois com a fusão a IRL engrandeceria, e haveria espaço para muitas pessoas que trabalhavam na CART).

O que é mais provável que ocorra daqui em diante?

Para quem leu uma de minhas colunas anteriores, a “Contagem regressiva para o fim da CART” deve saber que a CART não tem mais condições mercadológicas de crescimento. A CART não gera mais lucro por sua infra-estrutura cara.

Os homens da Open Wheel Racing Series (Paul Gentilozzi, Carl Russo, Gerald Forsythe e Kevin Kalkhoven) simplesmente vão meter a mão no bolso, pagar as dívidas da CART, torrar uma grana para promover mais uma temporada para… dar outro prejuízo de algumas dezenas de milhões de dólares novamente, pois não há espaço para a CART na mídia americana, nem mesmo na mídia mundial.

Será que os caras da OWRS são mais ricos do que Bill Gates á ponto de quererem fazer “caridade” com uma categoria decadente? Se eu estivesse na pele de alguns deles, eu não iria gastar dinheiro com essa brincadeira.

E a IRL? O que pode ocorrer?

Na IRL já está decidido que á partir de 2005 haverão corridas em circuitos mistos, alguns poucos, é certo, mas haverão. A CART continuará existindo, mas George prossegue seu sonho de voltar á comandar a Fórmula Indy sozinho, e se nos últimos anos ele teve capacidade de tirar a Indy 500 da CART, de “roubar” o nome “Indy” da CART, de tirar da CART e trazer para a IRL patrocinadores como Pennzoil, Marlboro, Target, Hollywood, Pioneer e Miller, de “roubar” fornecedores como Honda e Toyota, além de contratos televisivos com a ESPN e ABC americanas, além de conseguir trazer equipes como Penske, Chip Ganassi, MoNunn, Rahal e Andretti-Green, além de eventos como os de Homestead, Nazareth, Phoenix, Motegi, Milwaukee, Michigan, Fontana e St.Louis certamente o sr.Anthony Hulman George, do alto de sua competência poderá conseguir provas como Cleveland, Long Beach, Elkhart Lake, Toronto, Surfer’s Paradise, entre outras, bem como algumas equipes.

É grande a chance da IRL continuar crescendo, mas em um ritmo menor do que seria caso concluísse a compra da CART hoje. Tony George vai aplicar “doses homeopáticas” no processo de morte da CART “roubando” o que ainda resta de bom por lá.

Não foi hoje, 28 de Janeiro de 2004, que a CART morreu, mas poderá ser daqui há 10 meses (quando a temporada 2004 acabar e eles possivelmente anunciaram um novo prejuízo recorde), ou em 2005, 2006…

O certo é que vai acontecer, á não ser que a OWRS seja formada por pessoas sem apego material e que gostam de fazer caridade.



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