Por Luís Joly
O horário brasileiro para a transmissão do Grande Prêmio da Austrália é cruel. Três da manhã não ajuda. Nem é cedo o suficiente para assistirmos antes de dormir, nem tarde o bastante para dormir e acordar um pouco mais cedo. Dessa forma, muita gente certamente não assistiu à corrida. Perderam uma prova daquelas históricas – tudo bem, a chuva ajudou um pouco. Um perfeito “calem a boca” de Bernie Ecclestone para o críticos prematuros de plantão, que após só uma corrida já derrubaram todo um regulamento e começaram boatos de mudanças sobre a volta do reabastecimento.
O primeiro destaque foi, sem dúvida, Lewis Hamilton. Entre todos os pilotos do grid, ele é quem mais lembra o estilo de Ayrton Senna – impulsivo, arrojado, agressivo e, de vez em quando, exagerado e até inconsequente. Hamilton fez ultrapassagens antológicas. Foi o mais brilhante na pista. Mas também cometeu erros e se precipitou em alguns momentos. Se tivesse esperado, talvez passasse Fernando Alonso com mais sucesso. Ou não, poderia chegar em quinto e aceitar aquele resultado. Poderia mesmo? Jamais. Hamilton é do tipo que prefere abandonar uma corrida lutando a simplesmente terminá-la em segundo plano. E é por isso que ele dá tanta audiência. Só que, no fim, o que ficou é ele chegou apenas em sexto e o companheiro, Jenson Button, venceu fácil.
Hamilton foi protagonista porque, agora sim, a história das trocas de pneus funcionou. A Austrália de Melbourne lembrou a Austrália de Adelaide com os bólidos calçados com pneus velhos resistindo aos ataques das máquinas munidas de novos pneus. Lewis saiu da corrida dizendo que a sua estratégia foi errada. Fica a dúvida se, nas próximas etapas, a equipes irão arriscar novamente uma troca a mais para tentar vencer na pista.
Felipe Massa foi outro valente do dia. Segurou vários pilotos o quanto pôde. Mesmo com um rendimento pior do que Fernando Alonso, chegou na frente do companheiro. Alonso, aliás, me surpreendeu com sua política respeitosa ao chegar em Massa durante a prova. O asturiano foi discreto e preferiu agradar a Ferrari sem tentar manobras muito agressivas de ultrapassagens. E, no fim, resistiu bravamente à pressão de Hamilton, chegando em um merecido quarto lugar.
Sabendo que a corrida foi parcialmente disputada no molhado, é natural pensar como se saiu Michael Schumacher, conhecido por seu talento nesse tipo de ambiente. “Me diverti bastante”, disse o alemão após a corrida, ao terminar em um discreto décimo lugar. Com essa afirmação, o multicampeão deixa bem claro o que está fazendo em seu retorno: tirando uma onda. Já não há mais o que provar para o dono de todos os grandes recordes da categoria. Sobra, portanto, correr de carro, o que ele mais gosta, cercado pelas melhores máquinas e os melhores pilotos do mundo. Um hobby e tanto, diga-se. Mas, claro, não se deixe enganar. Em algum momento este ano, Schumacher voltará a ser Schumacher.
Mas, por enquanto, ninguém precisa lembrar que, na corrida, ele levou um “X” de Lucas di Grassi, da pífia Virgin.
RETA OPOSTA
Kubica, o desprezado
Em um campeonato com tantos protagonistas, Robert Kubica acabou ficando sem espaço nas equipes de ponta. Ainda assim, o polonês levou sua limitada Renault a um segundo lugar. Uma pena que isso não deverá se repetir muito ao longo da temporada.
Button, o sortudo
Jenson Button venceu, mas quase ninguém reparou nisso. A briga atrás dele era tamanha que sua vitória nem ganhou tanto destaque assim. Mas ele sabe que foi fundamental para o duro duelo interno que terá com Hamilton em todo o ano.
Vettel, o azarado
Um brinde para Sebastian Vettel e os engenheiros da Red Bull. Não fossem os problemas em seu carro, teríamos hoje apenas um vencedor no ano e uma frustrante comparação com o domínio de Button em 2009. Não foi o caso. O alemão quebrou nas duas e o campeonato agradece.