Coluna Grand Prix: Reconstruindo uma carreira

Duas boas notícias de início de temporada para o Brasil: Antonio Pizzonia de volta à Williams, e João Paulo de Oliveira contratado para correr no Japão de olho na chance que a Honda lhe oferece de ser piloto da BAR na F-1. Com um pouco de sorte no trabalho que farão este ano, os dois poderão aumentar o contingente brasileiro no Mundial de 2005. Assim, Pizzonia se torna um raro caso de piloto que renasce para a maior categoria do automobilismo mundial depois de ter sido demitido no meio da primeira temporada. O tropeço que sofreu na Jaguar não foi suficiente para queimá-lo na Williams, porque ninguém conhece melhor o potencial dele do que os engenheiros da equipe.

Muitas vezes durante o campeonato passado os jornalistas tentavam explicações para o fracasso na Jaguar, e o que mais se ouviu de gente da Williams foi que “ninguém desaprende”. O bom conceito do piloto brasileiro foi mantido entre mecânicos e técnicos da Williams, que presenciaram as vezes em que ele andou no nível de Montoya e Ralf enquanto fazia o trabalho de piloto de testes em 2002.

Uma vez eu ouvi um relato do jornalista Luis Fernando Ramos, que trabalhou ao lado de Pizzonia desde a F-3000, que, com certeza, teve importância fundamental nesta decisão da equipe em tentar reconstruir a carreira do brasileiro. Numa tarde de inverno no circuito do Estoril, 15 de fevereiro de 2002, Ralf Schumacher testava pela primeira vez o FW24, carro com o qual a equipe ganharia sua primeira corrida em parceria com a BMW naquele ano. Pizzonia também estava lá para treinar com o modelo do ano anterior. Ralf havia andado o dia todo e reclamava de tudo, sem conseguir as marcas que a equipe esperava. Faltava meia hora para começar a escurecer quando alguém sugeriu deixar o brasileiro dar algumas voltas para saber o ele achava. Só houve tempo para trocar o assento e Pizzonia foi para a pista, com pedais e demais ajustes regulados para o Ralf. Não deu mais do que 15 voltas, e nas duas últimas fez um tempo oito décimos mais rápido que o do alemão. A equipe repetiu a dose no dia seguinte, e o alemão ficou atrás de novo. Isso nunca foi esquecido pelos técnicos da equipe inglesa.

Quando a Williams o emprestou para a Jaguar, estava certa de estar dando a Pizzonia a quilometragem necessária para tê-lo de volta como titular em 2005. Mas o processo de fritura sofrido na Jaguar poderia ter acabado com a carreira dele, como já aconteceu com muitos outros pilotos. Apesar de abatido, o brasileiro não perdeu a esperança e em outubro do ano passado foi chamado pela Williams para um teste sem compromisso em Jerez. A equipe estava preparada para o caso de ele não conseguir andar bem, mas, para surpresa geral, ele foi mais rápido do que Ralf e Marc Gené. O resultado foi muito importante para se perceber que, além de continuar rápido na pista, ele era a mesma pessoa da qual toda a equipe aprendeu a gostar muito. Outro ponto a favor de Pizzonia foi sua postura após a demissão. Apesar de tudo o que passou, ele não saiu falando mal daqueles que nunca cumpriram o prometido. Tentou um acordo, não conseguiu, e as pendências acabaram resolvidas em um tribunal, sem o menor alarde.

Pesando tudo isso, mas principalmente o potencial de Pizzonia, a Williams decidiu que valia a pena apostar na reconstrução de uma carreira. E ele entra definitivamente na corrida com Jenson Button, o eterno rival Mark Webber e muitos outros por uma vaga de titular em 2005. Com Montoya já fechado com a McLaren, a tendência é a Williams ficar também sem Ralf, que deve preferir ganhar os pretendidos 15 milhões de dólares na Toyota do que aceitar os 9 milhões que Frank Williams aceita pagar.

Do outro lado – Após conquistar o título de campeão alemão de F-3 no ano passado batendo todos os recordes da categoria (13 vitórias, 12 poles e 15 voltas mais rápidas em um total de 16 corridas), o caminho normal de João Paulo de Oliveira seria correr de F-3000 para tentar chegar à F-1 no ano seguinte. Mas a F-3000 é uma categoria em declínio, que deixará de ser disputada em 2005. E às vésperas do Natal passado o brasileiro recebeu um convite para visitar a Honda no Japão. Chegando lá, ele soube que a idéia da fábrica era oferecer um contrato para ele trabalhar como piloto de testes dos chassis Lola e Dome de F-3, em parceria com a Honda e a Bridgestone. E o mais importante é que a Honda deixou claro que fazia parte desse planejamento levá-lo até a F-1, onde é parceira da BAR.

Antes de aceitar a proposta, João Paulo consultou um importante nome do automobilismo mundial, com quem vinha se relacionando desde a seqüência de vitórias no campeonato alemão de F-3, que é Willi Weber, empresário dos irmãos Schumacher. Weber não está cuidando diretamente da carreira do brasileiro, mas ficou entusiasmado com os seus resultados e lhe pediu que não assumisse nada sem lhe consultar. João Paulo cumpriu o prometido e ouviu de Weber que esta chance da Honda não poderia ser desperdiçada. Mas, para não ficar longe das competições, ele vai também disputar o campeonato japonês.

Época de recordes – Não é normal o que está acontecendo nos primeiros testes dos novos carros que começam a ser preparados para o Mundial de 2004. Depois de ver as marcas de Jerez e Valência batidas quatro vezes pela McLaren e o novo carro da Williams voando nos testes, agora até a BAR, com Jenson Button, consegue um novo recorde na pista de Barcelona. O mais surpreendente é que a marca é 627 milésimos mais rápida que a anterior, pertencente a Michael Schumacher.

Comentarista das corridas que são transmitidas pela Rede Globo de Televisão.

Escreve colunas para o jornal “O Estado de São Paulo” há 10 anos, que são publicadas todas as sextas-feiras.

Leme é colunista da F1Mania.net desde o dia 08/08/2003.



Baixe nosso app oficial para Android e iPhone e receba notificações das últimas notícias.