In-Gryd: Quando fala o $coração$

Por Ingryd Lamas

Que na Fórmula 1 atual a única coisa que interessa organizadores e equipes é dinheiro, todos sabem.

Com a saída de mais uma montadora da categoria, a terceira em menos de um ano, e a incerteza sobre o futuro da equipe Renault, a preocupação se volta para o número de carros no grid, e os ouvidos ficam atentos ao figurativo paddock da pós/pré-temporada.

Até onde vai o compromisso das marcas com o esporte? A resposta é óbvia e de fácil entendimento: bem, até onde este esporte for rentável. E bem rentável.

O que de fato, não aconteceu com nenhuma das três equipes em questão.

A equipe Honda, por exemplo, depois de um início promissor, afundou em uma época de resultados pífio dirigidos pela preocupação com o marketing e publicidade que a categoria oferece. Com o slogan “Earthdreams”, a montadora procurou passar o recado de que carros com um bom desempenho poderiam sim ser “ecofriendly”, ter consciência e compromisso ambiental. Arhm… a idéia que ficou não foi bem essa, e aqueles que ligavam carros verdes a fraco desempenho, tiveram mais uma desculpa pra continuar com tal conceito. Sabemos que a culpa não foi do verde, mas parece que a preocupação com o layout foi tamanha, que se esqueceu de pensar no que realmente interessava, aquilo que estava por baixo da camada de tinta. Pra tentar solucionar, dezenas de apêndices aerodinâmicos colados pelo carro a fora, que acabaram com ambas as propostas, a técnica, e a estética. Um verdadeiro “Earthnightmare”.

Foi preciso um ano de INTEGRAL dedicação, cabeças certas no lugar certo trabalhando em uníssono para que toda a parafernália fosse esquecida, e algo primoroso fosse criado. Aí, nasceu a Brawn GP, e o resto já é história.

Já a equipe BMW, mesmo com dois ótimos pilotos, um carro que chegou a estar na briga pelo título, um orçamento razoável, e lufos de desempenho que por várias vezes nos fizeram acreditar de verdade no “agora vai”, num “foi”.

Chegaram a ter pelo menos carro pra isso, mas as mudanças de plano sempre na hora errada e sem motivo aparente, anularam a suposta vantagem. Traídos pelo KERS, sistema que roubou metade de sua promissora temporada de 2008, que terminou como todos sabem com exibições decadentes, a equipe decidiu que “brincar de carrinhos” não era mais interessante, e abandonaram o playground.

Já Toyota que poucas vezes prometeu tanto quanto a alemã, tinha sobre o conhecimento de todos, um dos maiores orçamentos da categoria, e gastava em um ano, o que algumas equipes nem sonhavam em gastar em dois. Nem assim, conseguiram chegar a um desempenho satisfatório nas pistas. A tentativa de deixar claro que japoneses tinham potência e dinheiro, acabou ficando por alguma curva de Suzuka, e mais uma vez, uma galera do olho puxado saiu correndo pela porta dos fundos.

O problema então é da FIA/FOM e seus valores altíssimos?

Bem, uma parte talvez. Mas enquanto existirem equipes capazes de sobreviver e fazendo um bom trabalho sem “reclamar”, algumas equipes gastando até menos que as três desertoras, temos o direito de botar o problema na conta do “administrativo”.

Talvez, a falta de espírito de corridas, já que encaravam a coisa toda como negócio.

O que sabemos não ser o único ponto de vista, já que Williams e até mesmo as “não garagistas” Ferrari e McLaren conseguem provar o que sempre defendi, que apesar dos lucros, ou melhor, além dos lucros, o automobilismo – motores, bólidos, conquistas e VELOCIDADE – são poéticos, e carregam consigo algo de mágico. Há algo de “libertador” nesse esporte, competir com o vento, comprovar (ou duvidar) leis da Física, tanger (ou ultrapassar) limites, ainda que cheio de regras, experimentar a liberdade de um vôo por algumas horas, ser livre.

Bonito, não?

É, lindo. Essa receita certamente foi MUITO mais radical e interessante há 30/40 anos atrás.

Mas isso não enche barriga hoje em dia.

Esta semana tivemos mais uma demonstração de como as verdinhas falam alto nessa banca, e em uma espécie de “All in”, a montadora Mercedes comprou a Cinderela Brawn GP com uma das temporadas mais bonitas e irônicas da história da categoria.

Enquanto a onda do momento foi a ordem de retirada das montadoras, a Mercedes deixou claro, que nessa bodega, só não rende quem não sabe tocar o negócio com prudência e maestria.

Uma ótima rodada , já que garantimos assim, as fichas da pobretona Brawn GP, e como não nos preocupamos com o futuro da experiente McLaren que tem cofre recheado e malícia suficiente para o jogo, é caprichar na “poker face” e pagar pra ver o que a banca nos reserva.



Baixe nosso app oficial para Android e iPhone e receba notificações das últimas notícias.