Coluna do Joly: Um escândalo onde todo mundo sai perdendo

Por Luís Joly

Confesso que tive dificuldades para escolher o tema da coluna desta semana. Dois assuntos dividem a minha mente. Ambos, de certa forma, já foram debatidos à exaustão por este mesmo autor.

De um lado, temos Rubens Barrichello e sua relação de amor e ódio com o brasileiro. Depois de um péssimo início de temporada, o brasileiro ressurgiu das sombras do (agora, provado) limitado Jenson Button e venceu duas vezes. Alguns falam que ele pode ser campeão (provavelmente, os mesmos que o criticaram durante toda a carreira).

Do outro, e também envolvendo um brasileiro, o escândalo da semana. Em uma F-1 recentemente tão acostumada às baixarias envolvendo espionagem, masoquismo com fantasias nazistas, racismo e outros temas escatológicos, descobrir o que acontece com a Renault e a família Piquet deveria ser apenas mais um na lista.

Mas não é. É bem pior. De fato, é tão vergonhoso que consegue diminuir o tamanho do espaço que Barrichello, fazendo um bom trabalho, mereceria nos jornais.

Pior para todo mundo. Não é preciso ser um gênio para verificar que, uma vez concluída a tal investigação para saber se Nelsinho Piquet de fato bateu por ordens do chefe, Flavio Briatore, sairão todos bastante arranhados. A seguir:

1 – Nelson, o filho: Nelsinho Piquet provavelmente acabou com sua carreira na Fórmula 1. Se depender da maioria, terá sorte se continuar no automobilismo. Afinal, que patrocinador que associar sua marca a um piloto que (se for verdade) aceita bater seu carro de propósito e interromper toda uma corrida apenas para não perder o emprego? Ou pior, associar-se a um ex-funcionário que decide voltar-se contra a antiga empresa e entregar informações confidenciais? Ou, ridiculamente mais trágico, um piloto que decide inventar uma história para diminuir sua antiga equipe (nessa versão eu realmente não quero acreditar)? Seja qual for a verdade, Nelsinho conseguiu arrancar do antigo chefe, Flavio Briatore, que ele nada mais é do que um “filhinho de papai”. Será verdade? O jovem Piquet está sempre sob as asas do pai e, parece, sua única chance de continuar na categoria será se “Nelsão”comprar a falida BMW Sauber.

Vale lembrar que, devido à batida do jovem brasileiro naquele momento da corrida e a entrada do safety car, Felipe Massa, então líder com tranqüilidade, foi aos boxes e, por um problema no reabastecimento, deixou a prova. Ao fim do ano, perdeu o campeonato por 1 ponto. Tudo poderia ter sido diferente não fosse o acidente de Ângelo Piquet.

2. Nelson, o pai: eis uma boa oportunidade de não ter voltado. Nelson Piquet sempre foi polêmico. Mas nem sua polêmica marcante o conseguiu colocar nos holofotes da história. Diferente de Stewart, Senna, Prost, Lauda ou até Mansell, o brasileiro nem sempre é lembrado entre os melhores da F-1. Voltou para ajudar o filho – e, com este escândalo, voltaram as lembranças de quem foi Piquet. “Ele sempre gostou de criar confusão e atacar os outros, começando por Senna ou pela mulher de Mansell”, diz Flavio Briatore. Nelson tenta defender o filho envolvendo mais gente na história ao dizer que Fernando Alonso sabia de toda a armação.

3. A Renault: com a crise econômica aliada aos resultados ruins há alguns anos, a fabricante francesa já vinha pensando em deixar a F-1 – de novo. Agora, eu gostaria de saber o que está passando pelo presidente da empresa. A Renault passa a fazer parte de um dos mais vexatórios escândalos do esporte a motor, suficiente para transpassar a seara esportiva, facilmente, e arranhar toda sua valiosa imagem institucional. Se eles estavam procurando mais um motivo para deixar a categoria, encontraram muito mais do que queriam.

4. Flavio Briatore: o chefe da equipe francesa pode ser, se confirmado, o criador desta história macabra. Alguns jornais já dizem que o inglês pode perder a vaga para Alain Prost no time muito em breve.

4. A F-1: Se a Renault sair, a categoria perde uma importante fornecedora de motores. E terá de se virar quando isso acontecer. Além disso, esta nova baixaria apenas serve para estragar ainda mais a imagem da F-1 frente a possíveis novos fãs. Afinal, qual a seriedade de um esporte onde as manchetes esportivas são minoria e espionagem ou armações têm mais espaço? Onde regras são criadas e alteradas ao vento? Onde a briga política é (muito) mais demorada que as brigas na pista? Onde pilotos batem o carro de propósito apenas para agradar suas equipes?

No momento, muito pouca.



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