In-Gryd: O Suspiro da Ética Inexistente

Por Ingryd Lamas

Pode parecer assunto velho, e provavelmente tudo que podia e/ou precisava ser dito sobre o assunto, já foi redigido, mas, passamos por duas semanas cheias de fatos vergonhosos e alguns poucos gloriosos, e, portanto, me sinto obrigada a acrescentar um pouco mais a tudo que já foi dito.

A acusação que vem sofrendo a equipe Renault e seu ex-funcionário Nelson Piquet Jr. é feia demais, e não precisa ser ratificada uma punição para que o nome e a imagem de ambos fiquem “sujos” por um bom tempo.

Fazendo uma viagem no tempo bem rápida, logo depois da etapa de Cingapura 2008, já se falava em conspiração, não precisaríamos que certa emissora de TV nos lembrasse da falha um tanto estranha de Nelson ainda na volta de apresentação.

Aqueles que gostam de uma bela “teoria de conspiração” (e eu me incluo nessa turma, me divirto elaborando tais teorias) tiveram o prato cheio por um bom tempo.

Era claro: Nelsinho rodou na volta de apresentação, exatamente da mesma forma que viria bater já na corrida, algumas voltas depois, provocando um Safety Car, milagrosamente assim que Alonso deixou os boxes.

Claro que nos esbaldamos, não precisávamos de muito mais pra ter certeza de havia sido proferida uma ordem para que Nelsinho deliberadamente estatelasse seu carro no muro.

Mas obviamente, depois de poucas semanas, e passado o frisson com a teoria, todos aceitamos realidade e o episódio ficou marcado apenas como piada, mais uma para a coleção das que riam de Nelson Jr.

Os fatos eram tão claros: Nelson vinha rodando constantemente durante a temporada, mais um abandono, menos uma batida, não fariam muita diferença, pois já haviam virado costume, Fernando Alonso apenas riu com a sorte que já havia demonstrado ter, e se aproveitou de uma regra mal pensada que já havia sacrificado a corrida de muitos pilotos e facilitado a vida de mais alguns durante o ano, e que havia rendido ao próprio Nelson um pódio pouquíssimo tempo atrás.

Não dava pra pensar que uma ordem do tipo tivesse sido feita, nem mesmo imaginada. Ou pelo menos, preferíamos não acreditar.

Mas a piada pode ter virado outra, rimos agora de como podem ter sido tão estúpidos, a ponto de pensar que um ato tão chulo, no meio de tanta tecnologia, gravações de rádio, análises de telemetria e mais uma dúzia de medições, ficariam impunes a uma investigação um pouco mais minuciosa.

É feio demais imaginar que chegamos a tal ponto.

E não existe desculpa, todos são culpados, quem proferiu a ordem, quem a acatou e quem se beneficiou.

Não é culpa da regra mal feita, ingrata, isso não pode servir como desculpa, e muito menos ser aceito que o seja.

Não deve interessar comparações, precedentes ou exemplos de condutas tão absurdas quanto, é um esporte de interesses milionários e sabemos não existir santos em sua ciranda, mas isso não muda o fato de que tal atitude se for verdade, foi extremamente baixa, até mesmo pra quem vive no circo.

Não é de hoje que o esporte abandonou sua dignidade, e os episódios de 2007, nos quais Briatore também teve o nome envolvido só servem para atestar tal afirmação. As punições “brandas” e convenientes seguem como mecenas desse caos, e a FIA tem a última chance de encerrar esse mandato, com alguma posição decente.

Mas uma brecha de tantos interesses malditos aconteceu também nesse meio tempo.

Não se sabe de quanto foi realmente o acordo financeiro, mas a posição de Vijay Mallya, que disse não poder de alguma forma coibir o sonho de Fisichella, serviu pra mostrar que nem tudo está perdido. Giancarlo é um piloto experiente, que podia ser imprescindível à fase atual da equipe indiana, o que parece ter sido menos importante do que os sonhos daquele que já o havia ajudado até então, e conquistado preciosos pontos, assim como um pódio inédito.

É bom acreditar que ainda exista um pouco de ética e sonhos no meio deste que parece ter deixado de ser esporte há algum tempo.

Monza vem aí, um dos mais antigos picadeiros desse espetáculo, que perdeu um pouco de sua graça natural por culpa de palhaços que não sabem brincar, domadores que abusam de suas feras. Mas parece que mais cedo do que se pensava, o leão resolveu revidar, e a conduta putrefata da grandíssima maioria decidiu cobrar o seu preço, literalmente.



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