Coluna Mundo Veloz: E os personagens? Então eles também morrem?

Por Carlos Garcia

– Muito já se disse em toda a história da humanidade sobre nossas dificuldade para aceitar a perda de vidas humanas, assunto que por sinal é muito difícil de se abordar pelo alto grau de dificuldade de se encontrar uma explicação plausível para esse vazio que fica quando alguém se vai.

– No automobilismo é assim também. Quantos até hoje não lamentam algumas mortes como, por exemplo, a de Jim Clark e de Ayrton Senna? Tudo isso porque além de vidas humanas esses pilotos se transformaram em personagens expostos ao nosso dia a dia. São eles que chamam nossa atenção por onde passam guiando suas máquinas costumeiramente a mais de 200Km/h nas mais diversas categorias.

– Os olhos do aficcionado por corridas de automóveis congelam no rápido movimento dos carros guiados por um ser-humano que, arriscando sua vida, como mostra a história, acelera forte sem se preocupar com o risco, quer apenas fazer o que gosta pois, para eles, automobilismo é sim uma opção de vida, o dinheiro (que em alguns casos acaba não vindo) é consequência.

– E o fato de sabermos muito pouco sobre essas pessoas, o que fazem durante a semana, o que comem, o que bebem, que piadas contam, se vão ao banheiro, os transformam em meros personagens. São pessoas das quais só temos notícias quando fazem algo em público e principalmente quando estão guiando. Personagens do automobilismo, que muitos gostariam de ser.

– A morte de Henry Surtees, de apenas 18 anos, no último domingo serviu mais uma vez para que eu colocasse a mão na consciência e refletisse sobre tudo isso. São pensamentos que já invadiram minha cabeça em muitas outras mortes em pista e também no show business. Um breve exemplo mostra que muitas pessoas estão nesse momento lamentando a morte do “personagem” Michael Jackson.

– Michael que também era um personagem. Quem conseguia saber quem era o popstar no dia a dia? Mas quando ele se apresentava para o palco ou para a mídia algo nos chamava atenção e tinhamos contato com um gênio para uns e monstro para outros. A classificação não importa, afinal de contas ele era um personagem da humanidade.

– E personagens não morrem. O Mickey Mouse, a Mônica do Maurício de Sousa, o Batman, O McFly do “De Volta Para o Futuro”… todos eles estão vivos nas bancas de jornais, nas locadoras, na Internet e em sebos. Claro que você vai me dizer que muitos personagens de filmes e desenhos já morreram. Até o Superman já morreu mas foi ressuscitado pela DC COmics. E mesmo que ele não o fosse, as revistas estariam bem guardadas nas estantes da sua casa, da minha ou das bibliotecas e bancas de jornais.

– Com o ser humano é diferente. Não é possível guardar as ações de um ser-humano em uma bibioteca ou algo parecido. Claro, as ações mais claras como um clip de Thriller, o título mundial de Senna no Japão e até mesmo a pole position conquistada por Henry Surtees no último domingo podem ser eternizadas. Mas nenhuma outra ação poderá ser armazenada, como as conversas desses personagens com as pessoas próximas, momentos de alegria e tristeza e outros, capazes de formar o caráter da pessoa que se transformaria em um personagem.

– É esse lado que torna difícil compreender a morte de pessoas famosas. Enquanto os personagens do “faz de conta” tem sua vida garantida por nem mesmo existirem fisicamente os personagens do mundo real realizam coisas de verdade mas são perecíveis, como talvez seja o mundo.

– E podemos apenas neste momento nos lamentarmos por mais uma perda no automobilismo e, como em todos os casos, torcer para que haja algum tipo de benefício com esse trágico acidente, que seria ainda mais evolução com relação à segurança dos envolvidos com o espetáculo.

E mais…

– Curioso lembrar também que muitas vidas no automobilismo foram ceifadas pela F-2. Em alguns casos até de pilotos que disputavam a Fórmula-1 e resolveram fazer corridas esporádicas na categoria inferior. O mais famoso deles é o do próprio Jim Clark, que faleceu em uma prova da F-2 mesmo ainda sendo piloto de F-1;

– E mesmo ainda muito jovem, apenas 19 anos, o espanhol Jaime Alguersuari foi anunciado pela Toro Rosso como companheiro de Sebastien Buemi a partir do Grande Prêmio da Hungria. Ele ocupa o lugar de Sebastién Bourdais;

– Estranho que ele sequer percorreu os 300 quilômetros necessários para se obter uma Super Licença da Fórmula-1. O máximoq ue fez foi andar em linha reta com o carro da equipe;

– O garoto então vai para a prova do próximo domingo contando apenas com a experiência adquirida nos treinos livres de sexta e também no sábado. Posso queimar a língua, e espero que assim seja, mas é difícil aceitar que um garoto dessa idade possa ir bem em uma prova de Fórmula-1 sem fazer besteira;

– Mais difícil ainda é acreditar que ele possa ir melhor que Bourdais. Por mais que o carro seja melhor e que Bourdais não viesse tão bem assim;

– E embora tenha tido a oportunidade de continuar na Renault, o brasileiro Nelsinho Piquet ainda não está 100% garantido para o restante da temporada. Algo ainda pode acontecer e é bom que ele ande bem na Hungria;

– Já Barrichello vive drama parecido mas tem seu foco voltado para o ano que vem apenas. Bruno Senna teve confirmado mais um teste com a Brawn GP que procura outros jovens para, quem sabe, substituir Rubens. É bom prestar atenção;

– Foi bom poder acompanhar a passagem de Jacques Villeneuve por Interlagos no último domingo, onde correu como convidado da categoria argentina Top Race. Ele largou atrás, abandonou após um toque, mas pode-se dizer que ele foi um dos grandes personagens do final de semana;

– Aproveita para acessar o blog oficial da F1 Mania, o “Mundo Veloz” e também o meu Twitter no www.twitter.com/mvgarcia.



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