Por Samantha Alievi
O povo turco tem motivos para ir a um GP? O ingresso de um Grande Prêmio não é lá muito barato, nunca tiveram um piloto local na categoria, o campeonato este ano não está muito emocionante… Além dessas ainda dá para citar várias outras justificativas, como o difícil acesso ao autódromo.
Mas para mim a principal razão de apenas 36 mil pessoas terem ocupado as arquibancadas desenhadas para 150 mil é a falta de cultura automobilística no país. Já ouviram falar de alguma categoria de base turca ou um piloto que se destacou no cenário automobilístico?
A mania de Bernie Ecclestone de priorizar as corridas em lugares onde o dinheiro é o que importa resulta no embaraço que os organizadores tiveram que passar neste fim de semana. Para que o mundo não visse a falta de público, lonas foram postas para cobrir os espaços vazios. Dá para imaginar no Brasil um GP com baixo público?
Mesmo sem termos pilotos disputando o caneco, os brasileiros estão lá, acordando de madrugada, enfrentando filas e tudo isso para encontrar uma infra-estrutura que não chega aos pés da turca.
A corrida em Bahrein foi outra com poucos espectadores locais. O asfalto é ótimo, as instalações são excelentes, mas e o público? Aquele que inferniza os pilotos quando estes estão no grid de largada, grita e xinga como se fosse possível ouvir dentro do capacete. Dizer que os pilotos não se importam com esse contato é um argumento um tanto fraco.
Como exemplo posso falar de Mark Webber que alfinetou a organização. Para ao ele ao invés de lonas os organizadores poderiam ter aberto os portões. Um evento mundialmente famoso como a F1 ser gratuito por causa de falta de público é o fim da picada. Webber continuou a reclamação dizendo que isso não aconteceria em Silvestone, onde, diga-se de passagem, é chamado de templo do automobilismo. O que faz do circuito um templo não são suas instalações, mas sim a história que ele carrega. E isso não interessa a Bernie Ecclestone, deixem a história, o traçado e o público de lado, se o dinheiro for bastante a F1 estará em seu país.
Com um pouco lógica qualquer um chega a conclusão que com baixo público o retorno financeiro será mínimo e veremos com mais freqüências atitudes como a da Turquia, ao invés de pessoas, lonas nos assentos.
O bom senso está passando longe da cabeça do inglês. Tirar os Grande Prêmios de países onde há uma grande história por trás é dar um tiro no próprio pé. A Fórmula 1 sozinha não vai fazer com que o público turco freqüente as arquibancadas, a paixão do torcedor precisa estar presente para que este gasta seu salário suado ou não num ingresso. Principalmente se for para assistir um GP insosso como foi o do último fim de semana.
Lembro-me do ano em que SPA ficou de fora do calendário, parecia que algo estava faltando. Podem colocar corrida a noite, de madrugada, a tarde ou o que seja, para mim nada substitui um GP em que podemos olhar para cada curva e lembrar um pouco da história do automobilismo ou olhar para as arquibancadas, ou melhor, os barrancos e ver torcedores acampados, curtindo não só a corrida mas todo o clima de um Grande Prêmio. Infelizmente para a visão capitalista de Bernie isso não é notado.