Por Luís Joly
A Fórmula 1 sempre foi um esporte cruel que requer exatidão e pouco espaço para erros. Com o passar dos anos e o aumento dessa tecnologia, essa precisão tornou-se milimétrica, permitindo que muito pouco fora do planejado aconteça. Mas, por trás das telemetrias e difusores, ainda está o fator humano , que como bem sabemos, é falível.
E esses erros – sejam simples ou complexos – estão dando o tom do início da temporada. McLaren e Ferrari justificam seus investimentos na temporada anterior para explicar o fiasco de agora. Os pilotos ainda seguem confusos, sem saber ao certo se os protagonistas de hoje serão os mesmos no fim do ano. E, quando as coisas dão erradas, é hora de apelar pra velha expressão “começar do zero”.
Em 30 de abril de 1994, o jornal “Folha de S. Paulo” dava em seu caderno de esportes um título com a declaração do então protagonista, Ayrton Senna: “Vamos começar do zero em Ímola”. Naquele momento, era a terceira corrida do ano e a então poderosa Williams ainda não havia feito frente à irregular Benetton e seu ascendente piloto Michael Schumacher. Demorou, mas a Williams encontrou seu caminho ainda em 1994. Com Damon Hill, ela quase levou o título. Hoje, os especialistas tentam perceber se já é tarde demais para os medalhões de 2008 darem a volta por cima.
No caso da Ferrari, existe uma completa falta de orientação. A equipe, que já cometeu erros amadores e infantis em 2008 – que custaram o título a um de seus pilotos -, começou 2009 ainda pior. Beirando o ridículo. Perdido, o time não sabe como reagir. Falam tanto da famosa reunião de segunda-feira que envolve “até o presidente da companhia”. Gostaria muito de saber o que se passa nessas tais reuniões. Será que alguém é de fato pressionado? Nada parece mudar. Fica difícil saber como Felipe Massa ainda consegue ser tão diplomático em suas declarações. Na China, ele vinha fazendo uma fantástica corrida, quando mais uma vez o carro vermelho o deixou a pé. Lamentável. No outro carro, um apático Kimi Räikkönen que cada vez menos lembra o talentoso piloto que fazia bonito na McLaren e foi campeão no primeiro ano de Ferrari.
Se com a Ferrari tudo dá errado na pista, a McLaren consegue ultrapassar essa barreira. Seu carro também não anda muito, mas o time parece ter uma especialidade em envolver-se em escândalos de todos os tipos. Espionagem, mentiras, julgamentos. Falar da equipe inglesa de Woking parece mais um estudo de detetives. A história da mentira na Austrália foi tão chata que rendeu a perda de Ron Dennis. Nome emblemático na categoria, Dennis é provavelmente o maior símbolo da era vencedora da McLaren no período MP4. Investiu em Lewis Hamilton há muitos anos, e hoje acaba saindo por uma besteira cometida pelo piloto. Na pista, Hamilton segue à risca seu perfil de 2008: rápido, arrojado, mas muito instável.
Pelo parecer da FIA, a Brawn GP não é irregular, como era aquela Benetton de 1994. Pior ainda. McLaren e Ferrari terão de trabalhar ainda mais para recuperar o tempo perdido. Nem que para isso tenham de começar do zero.
RETA OPOSTA
CÃO DE TRÊS PATAS
Barrichello tinha, de novo, uma justificativa perfeita para chegar atrás de Jenson Button. O freio de seu Brawn não estava bom, o que fez com que ele saísse da pista. A equipe que transmitiu a prova pela TV insiste que Rubinho é especialista em chuva, o que dá a falsa impressão ao público de que o piloto vai dar show ao sinal da menor precipitação. Como resultado, a frustração é maior ainda quando ele não vai bem.
PIQUET NA BERLINDA
Nem a presença do pai está ajudando. Nelson Ângelo Piquet tem feito corridas muito ruins e está testando a paciência da Renault. Particularmente, acho uma pena, pois gostaria muito que ele encontrasse Bruno Senna na F-1. Do jeito que vai a coisa, isso não deve acontecer.
SEBASTIAN VETTEL
Segunda vitória, segunda vez na chuva. O alemão já desperta o interesse das grandes – ou seriam pequenas? Afinal, quem é equipe grande hoje na F-1?