Por Samantha Alievi
Quando Lewis Hamilton estreou na Fórmula Um em 2007, Jenson Button foi deixado de lado sem nenhuma cerimônia pela imprensa inglesa. O piloto da então Honda Racing havia vencido no ano anterior sua primeira corrida, porém com o início extraordinário de Hamilton o inglês ficou na penumbra.
Button tem uma carreira cheia de altos e baixos e quando estreou carregava nas costas a esperança de trazer para a Inglaterra o título mundial que há 11 anos não era dado para um inglês. Ao contrário de Lewis, Jenson cometeu vários erros de principiante e com o dinheiro que ganhava na Williams se esbaldou no ‘glamour’ da vida de um piloto.
Logo a esperança inglesa acabou virando o exemplo de como um piloto não deve se comportar com o mundo fantasioso e ilusório que a F1 pode trazer. A história sobre a compra de um iate com o dinheiro que acabara de ganhar transformou-se em sinônimo do momento em que o piloto se encanta muito com o mundo exterior e acaba se esquecendo do que acontece na pista.
Desse modo, quando Lewis apareceu sem cometer graves erros na pista e fora dela, o playboy Jenson Button tornou-se mais um piloto do grid. Não era mais a sensação, a esperança, o excelente e excepcional piloto inglês, era apenas mais um que se deixou levar pela fama e agora figurava entre os últimos carros do grid.
O título de Hamilton solidificou ainda mais essa imagem de Button, ninguém em 2008 apostaria nele para ganhar uma corrida no ano seguinte, e a situação da Honda tornava isso ainda mais difícil. Assim como Rubens ‘sofreu’ com a falta de assento e teve sua carteira de trabalho carimbada pelo INSS pela imprensa brasileira, Jenson era mais um desempregado da F1.
A volta por cima pela Brawn GP nos testes coletivos levantou a sobrancelha de alguns jornalistas. Seria ele capaz de ressurgir e colocar Lewis Hamilton na penumbra?
Com a imprensa inglesa tudo se pode esperar. Duas corridas e duas vitórias já foram o suficiente para inverter a situação entre os ingleses. Na entrevista coletiva depois do treino de classificação do GP malaio um repórter perguntou a Jenson se ele iria substituir Lewis Hamilton no coração dos ingleses. Sua resposta foi bastante educada, talvez por já ter passado por essa situação, afirmou apenas que não estava ali para ser o melhor inglês.
De certa forma eu já esperava essa reversão da imprensa, as desastrosas atitudes da McLaren e Hamilton só contribuíram para essa mudança. O importante é ter um piloto vencedor e no momento Jenson Button é o cara. Há uma necessidade de se criar ídolos, heróis nacionais, se o fã de F1 já fica enfadado com o que a emissora brasileira faz imaginem como é na Grã-Bretanha.
O espetáculo em si acaba ficando em segundo plano se o piloto da casa não obtém bons resultados ou é prejudicado; toda a transmissão ficará voltada para a indignação e consternação sobre o ocorrido.
Será se não é possível ter uma transmissão um pouco menos parcial? Precisamos mesmo ter um piloto caseiro para nos fazer interessar pela F1?
Segundo dados divulgados pela revista Paddock, em janeiro deste ano, o Brasil teve um percentual de 16,5% do total de telespectadores, mas a temporada 2008 com Felipe Massa disputando o caneco teve uma queda em relação com o ano anterior. Um caso a se analisar.
É realmente necessária toda essa bajulação em cima do piloto vencedor? Ainda mais por sabermos que no ano seguinte tudo pode mudar e aquele cara que antes estava desacreditado pode virar o postulante ao título. Eu acredito que aqueles que acompanham a F1, do mais fanático ao torcedor casual, não precisam de um torcedor oficial narrando as corridas. Basta apenas uma transmissão de informações sem fanatismo, com emoção sim, mas sem ufanismos.