Por Carlos Garcia
É possível que só Deus soubesse com absoluta certeza que no último domingo, durante a realização do Grande Prêmio da Malásia, choveria tanto como choveu. Como diz a bíblia, é ele o criador deste universo e também de suas tão teimosas criaturas. Talvez seja por esse motivo, a teimosia, que ele criou também seres especialistas em algumas funções, entre elas a meteorologia. Mais que isso, ele também criou no ser-humano a capacidade de se lembrar das coisas, logo todo malaio e todo bom especialista em meteorologia tinha pelo menos 90% de certeza que choveria torrencialmente no final da tarde de Sepang no último domingo.
Claro, ao criar seres com tantas qualidades assim, Deus resolveu também criar alguns seres capazes de contrariar até os mais estudiosos, os mais habituados à determinadas situações. Eis que então nasceu um ser de mente brilhante chamado Bernie Ecclestone. Não sou daqueles que acredita que Bernie é um câncer para a Fórmula-1, é exagerado pensar assim e ao mesmo tempo ver o quanto a Fórmula-1 cresceu e ganhou visibilidade sob seu comando. Além do que, ele não é o único culpado pelo que acontece de errado com a categoria, a FIA está inclusa, as próprias equipes e até mesmo alguns pilotos, por exemplo, quem mandou Michael Schumacher ser tão melhor que os outros?
Voltando ao tema, Bernie Ecclestone resolveu contrariar especialistas em meteorologia, cidadão habituados ao clima de Sepang e quem mais ousasse dizer que realizar uma corrida naquele local as 17hs locais não era o melhor a se fazer. Tudo em nome da audiência televisiva na Europa. Não bastava que a corrida começasse as 9hs da manhã no velho continente – como é no Brasil, com foi no GP da Austrália – pois era preciso caprichar um pouco mais jogando a exibição da prova para as 11hs, depois que italianos, alemães, ingleses e afins já tivessem tomado seus cafés da manhã.
O tiro dessa vez saiu pela culatra, os privilegiados europeus puderam acompanhar apenas meia prova (voltando à Deus, ele ajuda quem cedo madruga, não é assim?), pois o restante da transmissão, que teve seu tempo de satélite protegido com o atraso do anúncio de que a prova não recomeçaria, foi preenchido com carros cobertos com lona, pilotos tomando chuva, desfile de um indignado e feio Mark Webber pelo grid, fiscais da FIA e até mesmo um relaxado Kimi Raikkonen servindo-se de um sorvete e uma Coca-Cola que talvez fosse uma velha e boa Cuba Libre.
E mais que isso, os responsáveis pelo espetáculo que vinha sendo o Grande Prêmio da Malásia levaram pra casa apenas metade da bonificação a que tinham direito. Button venceu, comemorou com o carro já desligado e ao invés de 10 pontos somou 5 à sua liderança no campeonato e por aí vai. Barrichello reclamou à Rede Globo: “Pra quem ganha salpario por ponto conquistado é mau negócio” e mesmo assim aquele ser brilhante na forma de conduzir seus negócios mas criado por Deus com o grande dom da teimosia brada: “Não foi divertida a prova? FOi emocionante, não?”. É Bernie, foi, você me convenceu. No início era o verbo, no meio a Fórmula-1, o Apocalipse foi Sepang.
E mais…
– Sua performance até aqui é satisfatória, mas é bom lembrar: Ou Barrichello reage nan China ou não escapará mais uma vez do rótulo de segundão;
– Massa no sábado, Raikkonen no domingo, ninguém mais foi prejudicado pela Ferrari porque só há dois pilotos titulares no time. Caso contrário vai ter gente querendo comprar a Brawn GP só pra ser dirigido pelo seu proprietário Ross;
– Tão impressionante quanto a diferença que um KERS faz em uma longa reta é o casamento da Brawn com o motor Mercedes. A disputa entre Alonso e Barrichello mostrou isso. Enquanto ficou nítido que o espanhol pressionou o botão que aumenta momentaneamente a potência de seu carro, com a forma como ele disparou na frente do brasileiro, espantou a recuperação do carro branco de Rubens que ainda sim ganhou a posição no fim da reta;
– E a demora para a chegada da forte chuva quase da a primeira vitória da Toyota na Fórmula-1. Como único piloto da pista com pneus intermediários, Timo Glock por pouco não sobrou na turma e conquistou o trunfo em Sepang.