Por Luís Joly
É difícil classificar e analisar bem o que vimos nesta temporada de Fórmula 1 até agora. Já tivemos duas etapas e ambas foram altamente atípicas. Na primeira, na Austrália, ainda o semblante do desconhecido pairava sobre todos, a grande dúvida sobre quem seriam os prováveis protagonistas do ano. E, ao contrário do que vinha acontecendo nas temporadas anteriores, nada de Ferrari ou McLaren. A desconhecida Brawn GP roubou o centro das atenções e deixou as casas de aposta em todo o mundo em polvorosa.
Na semana seguinte, esperava-se um esclarecimento um pouco melhor. Vários pilotos ressaltaram o superior desempenho da equipe de Barrichello e Button, mas também registraram a importância de comparar as equipes em uma pista “de verdade”, como muitos disseram. Porém, nada disso foi possível. Por contas de fatores humanos e geográficos, a incógnita permanece na categoria – incógnita menor, é verdade, já que em cenários distintos os times na liderança permanecem basicamente os mesmos – além da Brawn, juntam-se Toyota, Williams e RBR.
O lamentável mesmo da corrida malaia foi o fator humano. Mostrou-se muito perigosa e inconseqüente a decisão da categoria de mudar o horário das provas em determinados países. Tanto na Austrália como na Malásia, os horários habituais (14h das cidades locais) foram alterados apenas para que a audiência pela TV na Europa pudesse ser maior. Se em Melbourne isso não chegou a ser um incômodo muito grande, em Kuala Lumpur foi. A corrida aconteceu 17h no horário de lá. Com a chuva forte, naturalmente, a luz natural diminuiu sensivelmente. Tivesse a corrida sido marcada no horário de sempre, aquele dilúvio não teria atingido a corrida e ela não teria sido cancelada no meio como foi.
Mais ainda: estamos em um patamar tão interessante da categoria que, pela primeira vez em anos, a chuva não era bem-vinda. Para quem assistiu, ficou claro que a prova estava emocionante mesmo quando a pista ainda estava seca. A precipitação trouxe o tumulto e a estratégia de último minuto, mas teríamos uma belíssima corrida mesmo sem ela. Aí sim, ponto para os executivos que conseguiram, com as novas regras, inverter as forças do óbvio da categoria – de que o mais rico sempre anda na frente.
E justamente esses ricos, quem diria, torceram agora pela chuva, que sempre equilibra forças. No fim, o que vimos nas 32 voltas da corrida na Malásia foi outro equilíbrio – o das estratégias furadas. Em comum, os três brasileiros, Barrichello, Massa e Piquet, reclamaram de suas respectivas equipes, que inevitavelmente escolhiam sempre o pneu errado no pior momento possível.
Como se vê, a temporada 2009 da F-1 começa sem ter começado direito. A principal equipe do campeonato ainda pode perder todos os seus pontos, os líderes da tabela eram eventuais vítimas da aposentadoria, os medalhões famosos pouco ou nada mostraram até agora e os executivos alternam decisões certas e mudam de idéia em questão de horas. Profissional? Planejado? Estruturado? Não sei. Mas que eu estou adorando, estou.
RETA OPOSTA
BUTTON 2 X 0 BARRICHELLO
À surdina, com a culpa do inesperado, Button levou mais uma. Na China, qualquer resultado que não seja o brasileiro na frente do inglês será altamente comentado por aqui. Injusto e desnecessário, mas polêmica vende jornal…
HAMILTON E A MENTIRA
Cada vez mais o inglês Lewis Hamilton me lembra os pilotos de antigamente. Briga na pista, fora dela, utiliza métodos questionáveis para conseguir o que quer e, de um jeito ou de outro, sai da mesmice. Quase uma mistura de Senna, Mansell e Piquet.
MASSA E FERRARI EM 2008, IGUAL 2009
Felipe Massa chega à terceira corrida do mesmo jeito que chegou em 2008: zerado. Na Malásia ele não deu show, mas merecia terminar entre os oito. De consolo, pelo menos ele ainda está conseguindo andar mais que o apagado Kimi Räikkönen.
