Por Luís Joly
Comecei a acompanhar Fórmula 1 no meio dos anos 1980, ainda criança. E sempre, de lá pra cá, surgem notícias, boatos e palpites no período de folga da temporada. Algumas, até propositais mesmo, só para instigar no grande público um desejo de ver o que o novo ano terá a mostrar. Mesmo que nada mude, todo fã não perde a primeira etapa do campeonato. Os carros com as novas pinturas, as danças de cadeiras, até as mudanças na geração de caracteres na tela da TV, qualquer detalhe é suficiente para horas de comentários e análises.
Mas acho que nunca vi uma pré-temporada tão cheia de notícias como a última.
Entre dezembro de 2008 e março deste ano, quase diariamente a categoria tinha alguma chamada nos jornais. Bruno Senna entrou pra F-1, na RBR. Na STR. Não, na Honda. Mas espera aí, a Honda acabou. Crise financeira? Senna ficou sem equipe. Rubens Barrichello foi aposentado, diminuído e, especialmente, ignorado solenemente. Quase ninguém lembrava no nome dele – mesmo quando ainda existia uma Honda.
Depois, começaram os boatos sobre a compra da equipe extinta. Empresários mexicanos, árabes, norte-americanos, todo mundo surgia – de repente seu vizinho poderia ser um suposto comprador e você nem sabia. De novo, em um dos cockpits, sempre, Bruno Senna. Barrichello, enquanto isso, jogava golfe e pouco declarava.
Surge a Brawn GP, comprada pelo antigo chefe da equipe, Ross Brawn. Motores? Mercedes. Dupla? Button e Barrichello. Senna? Nada. O brasileiro com o sobrenome famoso deu lugar ao brasileiro que nunca conquistou o país. E assim, a equipe quase sem patrocinadores foi às pistas para os testes de pré-temporada. Ela teria pouco mais de uma semana para, no mínimo, completar alguma quilometragem.
E mostrou. E como mostrou. A equipe que por pouco ficou fechada em alguma garagem do mundo espantou a todos com seu rendimento muito superior. Ninguém acreditou. Jogada de marketing, pouco combustível, chamariz para algum patrocinador cair no golpe.
Longe dali, os homens de terno e gravata continuavam em sua missão de deixar todos de cabelo em pé. KERS, difusores, a pontuação que mudou e depois não mudou mais, os pneus, a sustentabilidade. Com as novas regras, os carros de Fórmula 1 deixaram de ter uma asa dianteira para instalar ali quase um limpador de neves, de tão grande que é. Já as asas traseiras, de tão finas, deixam o carro com aparência de brinquedo. Um brinquedo caro.
Terminada a corrida da Austrália, ficou confirmado: não era blefe. A Brawn GP possui um projeto digno de um carro campeão. Ainda não sabemos se é legal ou não. Diz a FIA que é. Dizem as outras equipes que não. E tudo, desculpem a rima, vai pro tapetão. O que me lembra muito mais campeonato de futebol no Brasil. Só faltam os asteriscos, mas ainda há tempo.
E assim a temporada começou. Os pilotos poucos mudaram – há apenas um estreante entre todos os presentes na pista. As equipes, tampouco. Apenas uma é nova, e teoricamente apenas mudou de nome.
Mas na prática, quanta diferença.
RETA OPOSTA
“Tradução” simultânea
O SporTV continua nos brindando com as coletivas após a corrida. Mas o tradutor contratado por eles, ao que me parece, continua o mesmo. Será tão difícil achar alguém que saiba traduzir termos técnicos da categoria ou ao menos entender que 1954 não é 1994 (sim, ele confundiu)?
Começou…
Nem bem a temporada teve início, já tem gente criticando Barrichello por ter chegado atrás de Button. Felizmente, o brasileiro saiu-se bem nas declarações, deixando claro que, sempre que possível, lutará pela vitória. Mas esperamos todos que ele faça uma melhor largada da próxima vez…
E falando nisso…
…Rubinho perdeu mais uma chance de dar a primeira vitória de uma equipe. Ele pôde fazer isso com a Stewart, mas Johnny Herbert levou em 1999. Também pôde fazer isso com a Honda, mas Jenson Button chegou antes, em 2006. E agora, perdeu de novo para o inglês, desta vez pela Brawn.
Alemão invocado
Gostei das imagens mostrando Sebastian Vettel tentando terminar a prova com três rodas e uma quase caindo. O alemão exagerou na defesa de sua posição, é verdade, mas mostrou personalidade ao não desistir.
Massa na Austrália não combina
Felipe Massa segue em sua agrura australiana. Uma corrida apagada, mas ao menos melhor que a do companheiro de equipe. Mal o ano começou e a Ferrari já começou a frustrar o brasileiro. Vamos ver se isso fará falta ao fim do ano.
Parece que deu certo…
…as mudanças da FIA com o objetivo de gerar mais ultrapassagens. Foram várias, ao longo da prova, em um circuito onde normalmente elas não acontecem. Vamos ver como será na Malásia, uma pista mais séria.