Por Luís Joly
Por que há tantos brasileiros que preferem Lewis Hamilton ao brasileiro?
Conforme a temporada vai chegando ao fim, o interesse (ou conhecimento, ao menos) das pessoas sobre Fórmula 1 vai aumentando. A mídia aumenta a exposição dos resultados, os jornais dão mais espaço e a TV faz reportagens frias, entre outras artimanhas típicas. No caso deste ano, um diferencial a mais muda tudo: pela primeira vez desde o distante ano de 1993, um brasileiro tem chances de título de forma real e (provavelmente) até o fim.
E, nessa época do ano, começam a surgir aqueles entendidos de última viagem. Bolam teorias, relembram o passado de forma desordenada, mas acham que entendem tudo de Fórmula 1 -durante dois meses. No entanto, o que mais chama a atenção nessas conversas normalmente regadas a cerveja com alguns petiscos, é o fato de que a grande maioria dos torcedores não está claramente a favor de Felipe Massa. Pelo contrário, muitos até preferem Lewis Hamilton, o rival inglês de Massa.
E aí, nos perguntamos: o que falta para Massa conquistar a torcida brasileira de vez? Há algumas corridas, na Bélgica, Massa cometeu um erro estratégico ao definir seu estilo de pilotagem, naquela prova, como “bundão”. Erro sim, já que a imprensa não parou de usar esse termo, mesmo o brasileiro tendo deixado claro que ele havia sido usado especificamente naquelas condições apenas.
Do outro lado, o inglês Lewis Hamilton evoca para o fantasma e legado de Ayrton Senna, nosso passado eternamente presente na Fórmula 1. Não só seu capacete leva incrível semelhança com a do brasileiro tricampeão, carregando as cores amarelo, verde e azul. Seu estilo arrojado, impetuoso, muitas vezes impensado e até inconseqüente também lembra demais o piloto morto em 1994. Se fizéssemos uma comparação entre Hamilton X Massa e Senna X Prost, Massa estaria mais propenso a ser o Alain Prost da disputa. O vilão, o comedido, o equilibrado e que não costuma empolgar. Será isso mesmo?
Felipe Massa tenta mostrar o contrário. Ontem, em Fuji e num horário ingrato para o Brasil, fez milagre ao conseguir chegar em sétimo ainda, depois de tantas peripécias ao longo da corrida. Os papéis se inverteram, e Massa mostrou combatividade até o último minuto para melhorar suas condições de título para as duas provas que restam. Mas muito pouca gente viu isso. Verão apenas que ele chegou em sétimo, sem saber o contexto da prova.
A maior popularidade de Felipe Massa não interessa somente ao próprio. A emissora responsável pela transmissão da F-1 no Brasil, Rede Globo, também conta com isso. Se tudo seguir como o previsto, a decisão do campeonato terá um brasileiro com a última etapa em Interlagos. Um sonho para qualquer emissora tupiniquim.
Já vi em alguns jornais matérias sobre como a audiência da F-1 não parece ter percebido que Massa é um dos candidatos ao título. Seria, então, uma questão de trabalhar, quem sabe com Relações Públicas, a imagem de Felipe Massa? Muitos não sabiam, mas a imagem de Ayrton Senna era muito bem gerenciada nos anos 1990. Claro, na época em que Senna ainda lutava pelo seu primeiro título, em 1988, isso tudo não existia. O que valia ali era o carisma do piloto, a determinação e a garra – palavras que, hoje, se aplicam um pouco mais a Lewis Hamilton do que a Felipe Massa.
Talvez não seja verdade. Talvez o mais determinado do ano seja mesmo Felipe Massa, que tem de lutar contra os próprios e infantis erros de sua equipe antes de encarar a McLaren. Mas será dessa forma que a massa (desculpe o trocadilho) dos torcedores brasileiros vê o campeonato?
RETA OPOSTA
Em Fuji…
…Massa conseguiu reverter algo que parecia incrível. Contou com o atabalhoado Hamilton para ainda diminuir dois pontos da tabela. Lewis ainda tem vantagem. Basta não cometer os erros do ano passado.
Alonso é Piquet
Fenando Alonso me lembrou muito Nelson Piquet (o pai). Em 1990, enquanto justamente Senna e Prost duelavam pelo título, o brasileiro conquistou duas vitórias seguidas no fim da temporada. Pilotava a Benetton, que anos depois seria comprada pela Renault.
O dilema de Barrichello
Rubinho, que protagonizou momentos interessantes no GP do Japão, ainda não sabe onde estará em 2009. Como torcedor, espero que continue. Mas profissionalmente, acho que isso não irá ocorrer. Apesar da habilidade e vontade dele (mencionada por ele a semana toda), a Honda pode estar atrás de sangue novo – justamente, Bruno Senna.