Coluna do Joly: A agressividade na F-1 deve ser punida?

Por Luís Joly

Mais uma vez, a chuva apareceu para nos brindar com uma corrida cheia de surpresas e emoções. Surpresa maior representada pela vitória do alemão Sebastian Vettel, da pequena STR. Vitória que começou a ser conquistada ontem, quando o piloto foi o mais rápido em uma pista ensopada, garantindo a pole que lhe ajudaria muito a chegar na vitória no domingo. Claro, Vettel teve como contribuinte o omisso Kovalainen, companheiro de Hamilton, que chegou em segundo e apenas fez sombra para o alemão vencedor.

E é justamente a postura do parceiro de Kovalainen na McLaren que fica como mote inicial desta coluna. O inglês foi certamente o mais arrojado na pista. Fez diversas ultrapassagens, a maioria sem dificuldades, tamanha era a vantagem que ele levava com a McLaren em piso molhado. E, no quesito ultrapassagens, cenas marcantes. Em diversas ocasiões, os pilotos cediam as posições conquistadas com receio de serem punidos por levarem vantagem. A preocupação de todos foi muito grande após o episódio de Spa. Devo passar? Passei honestamente? Devo devolver a posição? Se o fizer, quando devo tentar passar de novo?

Para evitar confusões, a FIA já havia determinado que uma nova tentativa de ultrapassagem após alguém levar vantagem cortando uma curva só poderia acontecer na curva seguinte. Talvez tenha surtido efeito, mas do modo contrário. O que vimos no Grande Prêmio da Itália foram pilotos fazendo ultrapassagens, muitas vezes limpas e justas, mas ainda assim cedendo de novo as posições para seus rivais, com receio de uma possível punição por parte da organização.

E aí questionamos: qual a natureza desse esporte? Lewis Hamilton tem arrojo parecido com o seu maior ídolo, Ayrton Senna. Mas como encaixar esse arrojo com tanta precaução? Na corrida anterior, Kimi Räikkönen ainda reclamou que o inglês ficou indo de um lado pro outro da pista na tentativa de evitar a ultrapassagem. Afinal, isso também não é permitido. Será que há um limite para moldar a Fórmula 1 apenas dentro do politicamente correto da FIA?

Temos como resultado prático para o campeonato, o brasileiro Felipe Massa, que fez uma corrida conservadora e chegou na mesma posição que saiu. Logo atrás dele, Lewis Hamilton, o piloto mais arrojado da atualidade, que havia largado da distante 14ª posição. Qual a estratégia mais correta? Qual o estilo que se encaixa melhor na categoria?

São respostas que teremos no final da temporada. Na tabela, ocorre o inverso, com Hamilton a frente do brasileiro por um ponto. Massa combina uma ousadia mais conservadora e moderada. Já o inglês arrisca mais e vai fazendo mais nome na categoria. Corrida finalizada, eles se juntam aos demais 20 pilotos que embarcam na vida noturna de Cingapura, daqui a 15 dias, para uma corrida tão imprevisível quanto decisiva.

Antes disso, não consigo deixar de me perguntar: será que pilotos como Senna e Gilles Villeneuve conseguiriam se adequar à Fórmula 1 de hoje? Uma Fórmula 1 onde o mais arrojado nem sempre é bem visto, onde toda ultrapassagem pode ser analisada e a troca de gentilezas a 200km/h beira o absurdo.

RETA OPOSTA

Momento saudosista

Que me perdoem a nota saudosista, mas foi impossível não lembrar do semblante de Michael Schumacher no início da carreira ao ver Sebastian Vettel no alto do pódio. Os dois realmente se parecem, ou só eu achei isso? O cabelo de Vettel, em especial, lembra o de Schumacher no início dos anos 1990, ainda mais no pódio de Spa, 1992, palco da primeira conquista do heptacampeão na F-1.

Räikkönen até 2010

No fim-de-semana em que recebeu a confirmação de que ficará na Ferrari até o fim de 2010, Räikkönen mostrou como não cativar equipe e torcida. Fez uma corrida apagada. Seu carro, assim como o de Massa, não rendia em pista úmida. Mas Felipe fez toda a diferença ontem ao conseguir, de forma impressionante, entrar entre os 10 mais rápidos no Q2.

Mais uma das antigas

Também foi legal ver Gerhard Berger de volta a um pódio na Fórmula 1 (ele nem mudou tanto assim). Agora, terá de lidar com a imprensa chamando seu piloto de “novo Schumacher”. Espero que consiga administrar bem um possível ego inflado do piloto, no auge de seus 21 anos.



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