Coluna do Joly: O doído sentimento de Felipe Massa

Por Luís Joly

Não se passou nem um ano do último campeonato de Fórmula 1, e mesmo assim, muitos já esqueceram diversos momentos-chave de cada corrida. Detalhes comentados no calor do momento são esquecidos e o que ficou mesmo é que Kimi Räikkönen foi o campeão com a Ferrari no primeiro ano após a aposentadoria de Michael Schumacher.

A grande maioria das pessoas não se lembra dos momentos quase. Por isso mesmo, daqui a alguns anos somente especialistas saberão recontar o que houve na corrida da Hungria para que o apático Heikki Kovalainen conseguisse seu primeiro triunfo na categoria.

Os demais, já terão esquecido da largada fulminante do piloto brasileiro Felipe Massa. E de como liderou a corrida de forma adulta e precisa, certo de que teria a vitória e, conseqüentemente, a liderança do campeonato de volta. Mas não. A arrancada do piloto brasileiro, em sua melhor fase (excetuando-se o desastre na Inglaterra), rumo ao primeiro título, ficarão pra sempre no condicional. O que sobra é que o feito de Massa na Hungria entrará para a seleta lista dos quase. Os que tinham tudo pra chegar lá, deveriam ter chegado, mas por razões que fogem à nossa compreensão, quase chegaram.

Razões, neste caso, não tão fugitivas assim, é verdade. A Ferrari do brasileiro “abriu o bico” a apenas três voltas do fim. Novamente no condicional, certamente seria mais alegre a famosa reunião da segunda seguinte à corrida em Maranello, onde todos, menos os pilotos, participam.

Agora, o que ficou para a cúpula ferrarista foi a possibilidade de apostar em Kimi, o irreconhecível atual campeão. Afinal, a falta de tato do finlandês este ano nos impede de saber se ele mesmo apostaria em si. Creio que a Ferrari teria se incomodado bem menos se o carro quebrado neste domingo fosse o dele, e não de Massa, que certamente mostra mais gana pelo título.

As possibilidades vão nos criando ilusões. Conforme a corrida se desenhava, uma coluna imaginária ia se formando em minha mente. Em pauta, a manobra corajosa do brasileiro no início, a excelente performance de Timo Glock, da Toyota, a chatice do circuito de Hungaroring. Usaria como entrada no texto uma variante apelativa e nada nobre: com ressaca de uma noite longa no sábado, abri os olhos com dificuldade para ver a prova, mas só acordei de fato, pulando da cama, quando vi a agressividade de Massa na primeira curva. Até o seu abandono, havia um texto inteiro pronto a ser redigido.

Os planos acabaram mudando, e também a coluna. Com um enorme sentimento de frustração, encaramos a realidade. Para mim, confesso, foi difícil separar as coisas e escrever uma coluna ao menos um pouco imparcial. Räikkönen, mesmo com todos seus supostos defeitos este ano, está novamente na vice-liderança e à frente do companheiro. O público, hoje, sabe que Felipe Massa foi o melhor na pista e merecia vencer. Mas até quando se lembrarão disso?

RETA OPOSTA

Nem o histórico brasileiro na Hungria ajudou

Seis vitórias brasileiras na Hungria, que tinham tudo para se tornar sete. Nem mesmo as estatísticas ajudaram Felipe Massa a vencer.

Valência

Próxima etapa, um circuito inédito. É sempre interessante ver os pilotos em uma pista nova. Apesar de ser uma pista de rua, há mais chances de ultrapassagem do que na própria Hungria.

Hungria, 2016

E, aliás, nem adianta reclamar do tópico acima. A terra de Thierry Boutsen ainda terá uma corrida de Fórmula 1 até, pelo menos, 2016.



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