Por Luís Joly
Como em qualquer segmento da vida, só ter habilidade não basta. E na Fórmula 1 não é diferente. Mas talvez essa máxima, na categoria, seja mais visível, afinal são poucos os que têm o privilégio de estar lá. E raros os que entram e conseguem permanecer por vários anos.
A história do circo da F-1 nos ensina que diversos pilotos excelentes passaram pelo grid. Exemplos não faltam. No passado recente, nomes como Michele Alboreto, Jean Alesi e Alessandro Zanardi nos remetem a figuras que deixaram boas passagens e lembranças e até fazem falta, mas jamais conquistaram algo além de escassas vitórias ou momentos parcos de sucesso.
Para que alguém consiga se destacar em um mundo tão competitivo, é preciso uma combinação de probabilidades, decisões, assinaturas e nuances tão simples e complexas como jamais saberemos. A soma de tudo isso é o que eu chamo de estrela – chame você de sorte, em inglês de mojo, ou o que preferir. Estrela foi o que Rubens Barrichello, por exemplo, nunca teve de forma consistente. Foi estrela que lhe faltou no GP da Hungria de 1994, por exemplo, quando abandonou na reta de chegada em plena última volta. Estrela que não teve quando, em 1999, perdeu a chance de dar à Stewart sua única vitória na categoria – a honra ficou para o então companheiro, Johnny Herbert.
É fácil reconhecer os pilotos que têm a estrela que menciono. São, normalmente, os gênios, que parecem carregar a sorte ao lado em praticamente todos os momentos. Para os demais, a estrela aparece em momentos esporádicos, como com o próprio Barrichello na etapa anterior, na Inglaterra, situação em que pôde combinar perfeitamente o inegável talento com uma boa dose de sorte.
No GP da Alemanha deste ano, foi a vez de Nelson Ângelo Piquet ter estrela. E não foi pouca. É apenas o seu ano de estréia na categoria e já conseguiu um segundo lugar (que poderia ter sido primeiro). Não foi pouca coisa, apesar do companheiro e bicampeão Fernando Alonso dar de ombros. Piquet, que vinha de péssimos resultados no começo do ano, começa a mostrar serviço. Na etapa alemã, ficou claro – e ele nem fez questão de esconder – que a sorte esteve ao seu lado. Mas, afinal, a sorte acompanha os grandes pilotos. E, enquanto o brasileiro andou ao lado dela, o companheiro Fernando Alonso foi pelo caminho contrário, errando em manobras de ultrapassagens exageradas e chegando fora da zona de pontuação. Falem o que quiserem, mas até agora o único pódio da combalida Renault este ano foi de Piquet.
O que fica de expectativa agora para quem entende um pouco da categoria não é esperar outro pódio de Piquet este ano – o próprio já admitiu, após a corrida, que isso seria irreal e muito pouco provável. O que realmente esperamos para ver é se ele terá a tão necessária estrela no restante da temporada e da carreira. A resposta nos dirá se ele poderá ser bem-sucedido como o pai, ou apenas mais um figurante entre os tantos que já passaram pela Fórmula 1 com sonhos destruídos.
RETA OPOSTA
Ferrari segue dormindo
Cochilou, o cachimbo caiu. E, mais uma vez, Lewis Hamilton fez a diferença para a McLaren, deu show e deixou Massa e – um apagado – Räikkönen pra trás. A situação, ao menos no mundial de piloto, não é nada confortável pra equipe italiana. É bom levarem um pouco mais a sério a evolução de Hamilton.
Graças ao Glock
O GP da Alemanha tinha tudo para ser, provavelmente, o mais chato do ano. Timo Glock, com sua batida no meio da reta, nos salvou de um marasmo sem fim.
Massa mais feliz que Piquet
Durante a coletiva após a corrida, Felipe Massa parecia mais feliz pelo pódio de Piquet do que o próprio. Mencionou mais de uma vez a alegria que Piquet deveria estar sentindo, e deu parabéns efusivos. Nelson, por sua vez, foi bem mais comedido, e como fez o próprio Felipe há algumas corridas, evitou comparações com gerações passadas de brasileiros vencedores.