Coluna do Joly: Sambadinha brasileira no pódio

Por Luís Joly

Em um momento onde o nome brasileiro mais falado na Fórmula 1 é Felipe Massa (e atrás deles vêm Nelson Piquet e Bruno Senna), quem surpreendeu a todos foi o quase esquecido Rubens Barrichello. No ensopado Grande Prêmio da Inglaterra, ele mostrou talento igual ao que chamou a atenção de muitos na mesma Inglaterra, porém em Donnington, no ano de sua estréia, 1993. Aquela corrida, que também foi disputada no molhado, teve como protagonista principal Ayrton Senna. Mas Barrichello havia deixado sua marca: ele era bom no molhado.

E ainda é. Somado a uma escolha certa de pneus no momento preciso, Barrichello conquista mais um pódio antológico em seu currículo – bem mais nobre, diga-se se passagem, que o último, no distante e paradoxal GP dos Estados Unidos, em que apenas três equipes participaram. Se este for o último de sua carreira, menos mal.

Com o anúncio da aposentadoria de David Coulthard, Rubens Barrichello se tornará o único remanescente nas pistas a ter corrido com Ayrton Senna. Uma “época diferente”, como afirmou o contemporâneo Felipe Massa. Rejeitando comparações com Senna, o brasileiro da Ferrari cutucou a ferida de muitos brasileiros ao dizer, há poucos dias, que prefere se comparar a Michael Schumacher.

De um jeito ou de outro, o que se viu no circuito inglês por parte de Massa foi bem diferente do que Schumacher mostrava. Em sua primeira corrida como líder do campeonato, Massa beirou o vexame. As imagens do piloto escapando da pista eram freqüentes, mesmo quando já estava em último. O locutor brasileiro tentava, em vão, botar a culpa no carro, na estratégia, nos pneus ou em qualquer outro fator que não fosse pura e simples limitação técnica por parte do condutor. Os demais pilotos também erraram? Sim, afinal, a pista realmente estava muito escorregadia. Mas Massa errou muito mais que os outros, e isso é difícil de aceitar em alguém que tenta ser campeão. Como vem acontecendo há algum tempo, Massa peca em alguns detalhes, que o impedem de ser um piloto completo.

Mas, como os tempos são outros, o brasileiro ainda sai da Inglaterra com o mesmo número de pontos do líder. Ele divide com Räikkönen e Hamilton a ponta. E Kubica – que poderia ter saído líder – vem logo atrás.

Alheio a tudo isso, Barrichello, que sofreu em toda sua carreira justamente por ser comparado a Senna e capacho de Schumacher, nos levou de volta a um passado recente, o da “sambadinha brasileira” no pódio. Um passado do qual não temos tanto orgulho, é verdade. Mas verdadeiro e direto.

Em tempo: Duas corridas após chegar ao pódio, David Coulthard anuncia agora a aposentadoria. Barrichello, que agora consegue um terceiro lugar depois de um longo jejum, refuta qualquer possibilidade de parar. Será mesmo?

RETA OPOSTA

Tome lá, dá cá

David Coulthard assumiu o lugar de Ayrton Senna na Espanha, em 1994. Com a aposentadoria, pode dar lugar, indiretamente, a um novo Senna: Bruno, que ganhou na chuva na GP2, lembrando os tempos de “Mr. Silvastone”.

Hamilton tirando a “zica”

Lewis Hamilton parece ter se esforçado para não vencer a corrida britânica, tamanho foram os erros que cometeu no fim-de-semana. Mas a Ferrari e seus pilotos foram tão atrapalhados que o inglês tinha mesmo que ganhar.

Nelsinho (quase) de bem com a vida

Nem tanto assim, mas ele mostrou que, pelo menos em pistas tradicionais, tem chance de andar no nível de Alonso. Poderia ter chegado ao pódio não fosse a lamentável rodada e forma como parou seu carro na brita.



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