Coluna do Joly: Que barbeiragem, Hamilton!

Por Luís Joly

Em 1992, falar sobre Fórmula 1 não era dos mais interessantes assuntos. Naquele ano, a Williams foi tão poderosa que o campeonato tornou-se uma chatice. Quando Mansell não vencia, normalmente sobrava para o companheiro, Riccardo Patrese. A exceção maior ocorreu em Mônaco, onde Ayrton venceu, e mais especialmente, na Bélgica, palco da primeira vitória de Michael Schumacher. Na ocasião, uma escolha pelos pneus certos no momento adequado lhe garantiu o triunfo nº 1.

Hoje, na etapa do Canadá, aconteceu o que já deveria ter ocorrido há muito tempo: finalmente, a BMW teve sua chance de alcançar o lugar mais alto. E, merecidamente, com Robert Kubica, que passou o fim-de-semana tendo de responder sobre as lembranças do plástico acidente que teve naquela mesma pista, na temporada passada.

Kubica e sua equipe estiveram no lugar certo e na hora apropriada. Afinal, qual seria a melhor chance do polonês vencer, se não quando Hamilton, Räikkönen e Massa estivessem fora do páreo? E foi justamente o que aconteceu. Kubica deveria agradecer com um abraço o inglês da McLaren. Afinal, Hamilton conseguiu com uma só tacada tirar dois favoritos ao título e à vitória – ele mesmo e o finlandês da Ferrari. De quebra, ainda consegue a façanha de liderar o campeonato no mesmo dia de sua primeira vitória (mais uma prova, como falei na coluna anterior, de que vencer na F-1 hoje é um mero detalhe).

Após a corrida, Felipe Massa foi um dos que comentou a bizarra batida de Hamilton. Afinal, foi ele, há 1 ano, que ultrapassou um sinal vermelho na pista e foi punido por todos os lados (pela organização, imprensa e público). Agora, Hamilton fez pior. O piloto, aliás, vem ganhando fama por seus abandonos inusitados – talvez este ainda não supere aquele de Xangai, no ano passado, mas podem vir outros.

Muito se fala sobre a funcionalidade do sinal verde ou vermelho na saída do box. E sobre quem deve ficar atento a ele – equipe ou piloto. Para nós, motoristas do dia-a-dia, soa ridículo que alguém possa não ver uma enorme luz vermelha ou verde. Afinal, qualquer escola do Detran ensina a diferença entre as cores e o que elas representam quando se está ao volante. No caso de Massa e Barrichello (que também fez a mesma coisa, este ano), o erro é, digamos, perdoável. Afinal, não havia ninguém à frente e as preocupações com botões e estratégias poderiam tê-los feito esquecerem-se checar o “semáforo”.

Mas, para Hamilton, as desculpas são praticamente inexistentes. E a razão vem de forma óbvia: havia dois carros parados esperando o sinal abrir antes dele. E, como reza toda boa regra de trânsito (normalmente aplicada naquela batida a quatro quadras de casa), quem batei na traseira está errado. Um erro caro de Lewis Hamilton – somente o bico de sua McLaren custa cerca de US$ 200 mil. O que lhe custou mai, no entanto, foi a imagem arranhada. Hamilton já provou seu talento ao mundo. Mas também vem provando que é capaz de – ainda – cometer erros amadores. É apenas seu segundo ano na Fórmula 1, mas sua ascensão meteórica não lhe permite agir assim muito mais.

RETA OPOSTA

Massa fina

Mais uma excelente corrida do Felipe. Não errou, fez ótimas ultrapassagens e contou com a sorte em vários momentos. No fim, ainda mostrou-se insatisfeito com o resultado. Ótimo. Ganhou mais alguns pontos no cenário automobilístico.

Barrichello, o líder

Rubens Barrichello liderou, ultrapassou, foi ultrapassado, segurou e pela segunda vez pontuou. E mostra ao mundo que ainda está mesmo muito longe de se aposentar – pode até não ser campeão, como vem dizendo, mas garante bons resultados.

Hamilton de novo

A punição que chegou após a corrida pela baixaria que aprontou no box foi justa. Hamilton perde dez posições no grid de largada da próxima etapa, na França. Mais uma chance pra Massa e Räikkönen pularem na frente e se preocuparem com Kubica, o novo líder.



Baixe nosso app oficial para Android e iPhone e receba notificações das últimas notícias.