Coluna Mundo Veloz: Sim, eles choram

Por Carlos Garcia

– O que o esporte é capaz de fazer para que o comportamento de um povo se altere? Vamos trabalhar com exemplos reais. Os alemães são conhecidos não só por suas inúmeras habilidades – políticas, industriais, entre outras – mas também por ser um povo de conduta fria, uma imagem tão forte que às vezes nos passa a impressão de que são pessoas sem sentimento. Culpa de um passado distante e que foi sim deixado para trás.

– Os pilotos alemães têm dado alguns exemplos de que essa fama já merece ser deixada para trás. Foi impossível não se comover com Adrian Sutil no último final de semana. Após uma boa temporada no ano passado seu início de ano em 2008 não vinha agradando ninguém. Porém, no momento de maior dificuldade da temporada – uma prova em Mônaco com chuva pela primeira vez sem controle de tração – o garoto resolveu mostrar a que veio e justificar os elogios por sua boa temporada no ano passado e era o quarto colocado nas últimas voltas da prova, quando o cronômetro já marcava menos de doze minutos para o fim. E ele vinha logo à frente de uma Ferrari, a de Kimi Raikkonen, o atual campeão do mundo, um filme perfeito.

– Como alguns sonhos estão fadados a durar pouco tempo, o finlandês resolveu atacá-lo. Logo na saída do Safety Car já se mostrava nítido que Kimi tentaria roubar a gloriosa posição do alemão. Dessa forma, na saída do túnel, Raikkonen perdeu o controle de seu carro e no “S” da piscina bateu em Sutil, fazendo com que ele deixasse a prova. A pena de Raikkonen foi severa, afinal, ele perdeu a liderança do mundial por conta deste erro. Mas e Sutil? Uma sorrateira câmera de TV o flagrou em prantos nos boxes da equipe.

– Aquele que acompanha a Fórmula-1 mais de perto também deve se lembrar do Grande Prêmio do Japão do último ano quando o também alemão Sebastian Vettel era terceiro colocado e, após os brake tests de Lewis Hamilton – acabou enchendo a traseira do australiano Mark Webber. Seria aquela até então a melhor corrida de sua carreira, mas ele foi obrigado a abandonar. A imagem seguinte mostrou o novato tentando – e não conseguindo – esconder o choro inevitável depois de um desastre como aquele.

– Podemos também citar o maior de todos, no que diz respeito aos números. Michael Schumacher, alemão, chegou à Fórmula-1 com cara de poucos amigos e assim foi conquistando vitórias e títulos. Ganhou apelidos nada carinhosos como “Dick Vigarista”, o mais conhecido deles. Mas o passar dos anos também foi capaz de quebrar o gelo do cara. Em seus anos de Ferrari ele sorriu, pulou, cantou, regeu o hino italiano, chorou e até levou para a Europa um singelo vira-lata que certa vez resolveu invadir o paddock do autódromo de Interlagos, ou seja, ele não era tão frio como alguns insistem em dizer.

– É tudo isso para que deixemos de lado alguns estereótipos. Temos o forte costume de dizer que, por exemplo, o latino é cabeça quente e indisciplinada, tudo isso para que talvez arrumemos algumas desculpas para erros de nossos esportistas. Se o alemão pode chorar o latino também pode trabalhar duro sem cometer erros. É importante reconhecer o que há de errado para que se possa consertar. Em Berlim, capital da Alemanha, onde antes ficava o famoso muro hoje se lê a seguinte inscrição: “Aquele que esquece os erros do passado está condenado a repeti-los no futuro”.

E mais…

– Em Mônaco a história do final de semana foi a seguinte: Entre os poucos mortos e todos os feridos, salvou-se Hamilton;

– Bom resultado também para Massa que conseguiu o mais importante, alcançar Kimi Raikkonen. Hoje uma simples vitória o coloca à frente do finlandês, com direito a erros dos dois lados e resultados semelhantes para ambos. Já não se pode mais criticar o brasileiro tão ferozmente como antes se podia;

– Barrichello deve curtir bastante os pontos conquistados nesta prova. Eles não voltarão a se repetir tão cedo. Talvez em Hungaroring algo aconteça, mas em outras pistas será muito difícil. A sexta colocação no principado provou que o grande problema do carro é mesmo a falta de velocidade em retas;

– Já Nelsinho Piquet precisa trabalhar duro e manter a cabeça no lugar. Acho que é o momento do pai Nelsão entrar em cena, não para convencer ninguém que o filho deve permanecer na Fórmula-1. Mas sim para colocar a cabeça do garoto no lugar. Ele vai precisar;

– Espetacular a prova de Kubica que, além de tudo, conseguiu depois de seis provas se manterem há apenas seis pontos do líder. Mantenho fé que ele ganha uma prova em 2008;

Indy…

– Deu a lógica em Indianápolis e o piloto que melhor andou durante o mês simplesmente conseguiu a vitória. E não foi fácil, pois Tony Kanaan, Dan Wheldon, Vitor Meira e Marco Andretti foram grandes adversários durante alternados momentos da prova. De qualquer forma, aquele que mais tempo se manteve à frente foi o grande vencedor Scott Dixon;

– É realmente necessário puxar tanta “sardinha” para os pilotos brasileiros? Acredito que o destaque seja necessário e natural, mas quando o principal concorrente do país abandona a prova será que se deve passar todo o tempo dizendo que “Brazuca-A” vem em quarto com todas as chances de vencer e que “Brazuca-B” vem da nona posição com sede de vitória? Alguns expectadores menos acostumados à Fórmula Indy perderam a chance de estarem bem informados no último domingo.



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