Por Luís Joly
Qualquer chuvisco em Mônaco pode transformar a corrida mais monótona do ano em uma loteria de posições e leilões de bicos e aerofólios. E, felizmente, após 10 anos sem água, choveu no Principado na hora da corrida. E, como dizem muitos especialistas por aí, é na hora da pressão que percebem o verdadeiro talento das pessoas.
Será? Lewis Hamilton, que no ano passado perdeu o título por erros infantis, não foi perfeito. Assim como não foi Felipe Massa, muito menos o trapalhão maior, Kimi Räikkonen. Tecnicamente, o piloto mais completo no Grande Prêmio de Mônaco foi Rubens Barrichello. Não cometeu erros, ultrapassou quando conseguiu e mostrou mais uma vez que, se não é um Rei de Mônaco, dá seus pulos como um bom súdito.
Porém, a limitada Honda conduzida por ele só chegou ao sexto lugar, o máximo que conseguiu. A frente dele, a poucas voltas do fim, estava um vibrante Adrian Sutil, na tão pequena quanto rica Force India. Estava até Kimi Räikkönen acabar com a corrida do novato. Acontece nas melhores famílias?
A família real que responda essa. O que acontece, sim, é um mesmo sobrenome vencer na pista em diferentes gerações. No sábado, Bruno Senna foi o primeiro brasileiro a vencer em Mônaco – em outra categoria, é verdade – desde a vitória que caiu no colo de seu tio, Ayrton. Vitória que, naquele maio de 1993, deveria ter sido de Michael Schumacher, ainda na Benetton. Um motor quebrado, porém, lhe tirou essa chance, que poderia tê-lo igualado ao número de vitórias do mesmo Ayrton no circuito – o único grande recorde que ele não tirou do brasileiro.
Chance foi o que não faltou para Felipe Massa no último domingo. Conquistou mais uma pole e vem se confirmando como um piloto mais maduro. Errou durante a corrida – mas, tudo bem, todos erraram, inclusive a própria Ferrari. E assim, o jejum italiano em Mônaco perdura por mais uma temporada, desde o distante ano de 2001, quando aquele mesmo Michael Schumacher venceu.
Hamilton citou Senna na coletiva após a corrida. O inglês não esconde de ninguém sua admiração pelo brasileiro, a começar pelo capacete, mais parecido com o de Ayrton do que o do próprio sobrinho, vencedor na GP2.
E, enquanto o sobrinho de um chama a atenção mais do que devia, o filho do outro, pena na Renault. Nelsinho Piquet não obteve uma boa posição no grid, mas vinha relativamente bem na corrida. Uma estratégia arriscada da Renault custou-lhe mais um abandono. Com pneus secos em pista molhada, um bicampeão consegue, às duras penas, manter-se na pista. Já um estreante sob pressão, no mesmo cenário, é exigir demais.
Pista molhada que agraciou o citado Rubens Barrichello, em 1997, na lendária Stewart. E hoje, más línguas por aí dizem que, após Nelson Piquet (o pai) criticar Barrichello por tantos anos, pagou a língua: hoje, o filho dele não consegue acompanhar o ritmo do veterano.
Saldo final da corrida, McLaren na liderança com Hamilton, mas com os holofotes ainda em Felipe Massa. Na sombra, em prantos, estará o citado Adrian Sutil. Sua quase conquista será quase lembrada. A maior parte dela, o chuvisco de Mônaco vai levar.
RETA OPOSTA
Mais do mesmo
Bruno Senna teve uma exposição caótica na mídia brasileira e mundial. Até mesmo aqueles que nunca ouviram falar da GP2 por aqui sabem que o piloto venceu. O massacre começou. É bom que Bruno saiba mesmo lidar com isso. Daqui pra frente, a tendência é piorar.
Cavalo em cima do muro
Em breve, chegará a metade da temporada, e ainda não se sabe quem será o piloto da Ferrari a receber mais atenção. Kimi é o atual campeão e está na vice-liderança, mas o momento psicológico é de Felipe (mesmo com o finlandês parecendo não se importar com isso). Quem leva essa?
Mosley de volta…
…mas nem tanto assim. O dirigente apareceu em público nos treinos livres, sua primeira visita ao circo desde o escândalo sexual. Mas, não esteve muito presente durante a corrida. A intenção era evitar o constrangimento da família real.