GP Brasil: Sete anos consecutivos de Interlagos

Por Giovanni Romão

Tudo começou no primeiro ano de Rubens Barrichello na Ferrari. Definitivamente eu estava apaixonado por Fórmula 1, por ter ouvido meus familiares, principalmente o paizão e o irmão contarem sobre os tempos de Ayrton Senna. Meu irmão já frenquetava o GP Brasil desde 1997, e o ano de 2000 surgiu como minha primeira oportunidade de ver uma corrida de Fórmula 1 e ouvir o ronco real dos motores.

Chegamos ao Autódromo José Carlos Pace na sexta-feira, acompanhamos os treinos livres, retornamos no sábado para o classificatório e no domingo, claro, para acompanhar a corrida. Confesso que o único motivo por ter ido a Interlagos neste primeiro ano foi a esperança de vitória de Rubinho. A partir do ano seguinte, em 2001, o motivo já era outro: ouvir o ronco dos F1 e ver os carros deixando ‘farelo’ do assoalho nas ondulações do traçado – ficando uma marca amarelada no asfalto -, sem falar nas freadas, ultrapassagens – principalmente no S do Senna -, fritadas de pneus e até mesmo os acidentes.

Este ano (2001) foi bem interessante também por alguns momentos marcantes. Estava no setor A, na reta principal, e olhava para o público no setor frontal, o G, quando alguém gritou: ‘Olha, o Rubinho parando!”. Era a volta de alinhamento no grid de largada, no início dos procedimentos para o GP, e Barrichello enfrentou um problema mecânico. Foi angustiante ver o brasileiro correndo para pegar o carro reserva e não foi impossível conter a emoção com a galera, apesar de distante, dando uma apoio moral, torcendo para que tudo desse certo. Na sétima volta, no entanto, o acidente com Ralf Schumacher tirou Rubens da prova;A decepção na arquibancada era evidente. Porém, a corrida foi bem interessante, principalmente quando começou a chover e David Coulthard deu um banho de pilotagem, derrotando Michael Schumacher.

O ano de 2002 foi o mais ‘sem graça’, com muita pouca emoção, tirando o início de prova de Barrichello, que largou em oitavo e na 17ª volta assumiu o primeiro lugar. Na volta seguinte, mais uma vez o abandono. O restante da corrida foi apática, e o único momento engraçado foi quando Pelé não deu a bandeirada da vitória para Schumacher.

A prova voltaria a ser emocionante, e ao mesmo tempo decepcionante no ano seguinte. No sábado a primeira pole position de Rubens Barrichello no Brasil. O tempo prometia chuva para domingo, e pela primeira vez eu, meu irmão, minha prima e um amigo resolvemos ficar direto na fila. Preparamos tudo – lona, pano, jornal, lençol, radinho, filmadora – e fomos. Neste ano resolvemos acompanhar o final de semana a partir do treino de sábado; Saímos de Pindamonhangaba no primeiro ônibus, às 5h, e chegamos no autódromo às 9h (um detalhe: a viagem de Pinda até São Paulo durou menos tempo do que para chegar em Interlagos, partindo da marginal Tietê; mole?). Bom, vimos o treino, vibramos (claro) com a pole do Rubinho, e fomos para fila direto (nossa barraca era a terceira no portão do setor A).

Aos poucos a calçada ao lado do muro branco de Interlagos foi ficando tomada de gente. Quando era por volta das 20h saí da barraca para olhar o final da fila, e não era mais possível enxergá-lo.

Enfrentamos uma fraca chuva durante à noite, mas na barraca ao lado rolava um churrasco, e na do fundo uma galera, sentada em cadeiras de praia, teve a pachorra de derrubar um bolo no chão;Ou seja, nada superava a diversão. Entre um lanchinho na padaria ao lado do posto, uma ida ao banheiro químico, instalado atrás do posto improvisado da CET, olhávamos no relógio; Nada da hora passar.

Enfim, por volta das 6h30, abriram o portão do circuito. Nós fomos um dos primeiros a entrar, e logo procuramos o melhor lugar. A manhã, apesar das atividades, demora muito a passar, mas quando chega por volta das 12h30 o clima da prova já está presente.

Os detalhes da corrida não preciso contar. Foi o ano da ‘piscina’ natural na curva do sol, onde muitos pilotos escaparam, dentre eles Michael Schumacher. No temporal que despencou, Barrichello que teve um início de prova complicado se recuperava, até assumir a ponta na ultrapassagem sobre Coulthard. Voltas depois, mais uma decepção; Com uma pane seca, o ‘azarado’ de Interlagos abandonou a prova. A loucura total seguiu com o forte acidente de Fernando Alonso, bem na minha frente, e foi interrompida, acabando com a vitória surpreendente de Giancarlo Fisichella, de Jordan (o resultado seria mudado depois, com o troféu passando ao finlandês Kimi Raikkonen).

No ano seguinte a corrida passou para o final do calendário, e naquele ano o mundial chegou definido no Brasil, com o hepta de Schumacher. Na pole, mais uma vez Rubens Barrichello; A corrida não foi tão emocionante e acabou com a vitória de Juan Pablo Montoya, seguido de Alonso e Rubinho.

O primeiro título de Alonso na Fórmula 1 aconteceria em 2005, exatamente em Interlagos, com duas corridas de antecipação. O espanhol dominou a prova sem adversário e venceu com facilidade.

O melhor ano ainda estava por vir. No quesito emoções fortes sem dúvida ganha disparado o GP de 2003 – meu inesquecível -, mas a prova de 2006 também será para toda lembrança. No primeiro ano de Ferrari, pela primeira vez correndo em equipe grande em Interlagos, Felipe Massa cravou a pole position e venceu a corrida. O macacão verde-amarelo ficou marcado na minha cabeça e o público gritando o nome de Massa foi simplesmente emocionante. Ter caído da grade, onde estava sentado atrás da arquibancada do setor A, não foi nada diante de um momento tão emocionante.

Confesso que gostaria de repetir pelo oitavo ano consecutivo o cheiro exalado pelos carros de F1 e ouvir o ronco forte dos motores, mas perdi a venda de ingresso, que este ano se esgotou em tempo recorde. Me resta romper uma sequência de sete GPs Brasil, e na televisão torcer por mais um show da maior categoria do mundo em terras tupiniquins…



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