Coluna do Joly: Amortecedor de Massa

Por Luís Joly

Os mais puristas ou ortodoxos que me perdoem, mas o trocadilho do título era necessário. Previsível, sim, mas necessário. Enquanto a Fórmula 1 debate a polêmica da vez, o amortecedor de massa tão necessário para a Renault, um brasileiro levou vantagem – nada mais comum. A vitória no GP da Turquia de 2006 por Felipe Massa foi contra tudo e contra todos. Até contra os brasileiros.

Massa venceu após a conquista de uma pole “vazia”, forma como alguns jornais descreveram sua marca do dia anterior. Chegou à vitória mesmo com a pressão de um batalhão de jornalistas que tanto se acostumaram a ver um brasileiro de capacho na Ferrari. Massa não se ilude. Sabe que tem uma função na equipe e certamente, teria de ceder caso o encontro com o alemão acontecesse na pista. Mas não permitiu que isso sequer tomasse corpo. Felipe fechou corajosamente o companheiro na largada, e depois abriu – abriu distância, enquanto pôde, e mostrou que, se não está ainda no nível de Michael Schumacher, não deve nada ao espanhol, atual campeão.

Felipe também superou nosso recente passado vergonhoso na equipe italiana. Lógico, ele talvez faça um jogo de equipe na próxima etapa, ou quem sabe em todas elas este ano – provavelmente, o fará, de alguma maneira. Mas, ainda assim, ele mostrou que não assumiria o papel de seu compatriota antecessor. Palavras de Barrichello – carregadas de um rancor que irá carregar pelo resto da vida -, a alegria do pole position iria durar pouco. Dizia a voz da experiência, o homem que dividiu a Ferrari por quatro anos com um alemão, e pouco fez. Felizmente, como sempre costuma ocorrer, o brasileiro da Honda mostrou-se infeliz em sua declaração – pelo menos, desta vez, o resultado foi para o bem do país.

Massa venceu também a nossa própria desconfiança. O nosso próprio medo, a insegurança que insiste em atingir os saudosistas que ainda vêem no capacete amarelo do jovem piloto uma sombra permanente na memória. Não, ele não foi capaz de apagá-la – ninguém será. Mas nos mostrou que um brasileiro pode, sim, fazer bonito na Fórmula 1. E que não teremos necessariamente de esperar por filhos ou sobrinhos de ídolos para rever tempos de glórias.

A pressão veio ao piloto. A pressão de substituir alguém que tantas esperanças nos deu, e mais ainda nos frustrou. Recebeu também a incumbência de ser mais um do bananal com chances de vitória. Sem falar, claro, no singelo detalhe de estar ao lado do piloto que já estava na Fórmula 1 quando ele mal havia passado pelo primário. Como um belo amortecedor que cumpre sua função – aí vem o enfadonho trocadilho -, Massa conseguiu superar os desníveis e barreiras, e ainda assim, chegar inteiro a sua primeira vitória.

Tudo isso pode parecer um patriotismo barato, uma tremenda nostalgia e vontade que tínhamos de ver um dos nossos na frente – confesso que é um pouco, sim. Talvez Massa nem esteja tão bem assim na próxima corrida, na Itália – prova que, aliás, irá definir o futuro dele na equipe e, de certa forma, na categoria. Fique e brigue com o finlandês Raikkonen pelo posto de primeiro piloto. Será um veterano contra um piloto que tem em talento o que lhe falta de sorte. Saia e veja a chance de cair em uma equipe intermediária, ou, pior ainda, amargar novamente o banco de reservas da Fórmula 1 – o posto de piloto de testes.

De qualquer modo, aproveitei ao menos para registrar, em meio ao meu ufanismo galvanesco que felizmente acabará em breve, tolas e belas palavras de alguém sedado por sua grande vitória. Felipe Massa, do Brasil!

Sou, mas quem não é?



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