Coluna do Joly: As velhas máximas

Por Luís Joly

O Grande Prêmio da Hungria, apesar do que dizem, não vinha sendo emocionante nos últimos anos. O circuito, considerado um dos mais modernos do circo quando surgiu em 1986, passou a ser visto como antigo (imaginem o que não falam do nosso Interlagos). Antigo não somente na estrutura, mas no traçado. Hungaroring sempre foi uma pista com poucos pontos de ultrapassagem – pouco que foram cada vez mais se tornando escassos ao longo dos anos, à medida que a Fórmula 1 ia se desenvolvendo junto com seus freios.

Corridas como a de 1986, em que Senna e Piquet mostraram como dirigem nossos motoristas por aqui, ou mesmo em 88, quando Senna aplicou mais um “X” – desta vez em Prost, foram se tornando raras. Shows como o que protagonizou Nigel Mansell, na Ferrari, em 1989, já não mais existiam.

Precisava vir a chuva para lavar o circuito da mesmice que contagiou a categoria. Mas, claro, não foi só isso – duas punições surreais aplicadas à Schumacher e Alonso contribuíram para que tivéssemos uma prova marcante, com muitas variações, perspectivas, brigas e decepções – como toda boa corrida.

No fim, um pódio atípico – porque não dizer raro – fechou a etapa. Com uma primeira vitória da Honda, algo que não vinha desde a década de 1960 – quando a montadora tinha uma equipe própria. O primeiro lugar também encerrou um longo jejum de um legítimo motor Honda. Se tirarmos as conquistas com o chamado “Mugen Honda” que levaram a Jordan a vitórias esporádicas em anos anteriores, a última conquista “real” do motor japonês havia sido no longínquo ano de 1992, na Austrália, com o austríaco Gerhard Berger. O ano que marcou a despedida dos japoneses da Fórmula 1.

A primeira corrida com chuva na Fórmula 1 desde 2003 também trouxe de volta algumas máximas que, entra ano, sai ano, continuam de pé:

• Os brasileiros

o Massa tinha tudo para terminar muito bem a prova. Porém, já havia decepcionado ao não conquistar a pole no dia anterior, em um claro erro na primeira curva da volta decisiva. Errou de novo ao mostrar-se satisfeito com a segunda posição no grid, mesmo sabendo que poderia ter conquistado a primeira pole na F1. Na corrida, revelou ao mundo que ainda tem muito que aprender na chuva – possivelmente, não na Ferrari. Fez a melhor volta, mas quando já não tinha nenhuma chance de sequer chegar ao pódio.

o Rubens Barrichello foi mais um que seguiu sua máxima. Assim como em 1999, na ascendente Stewart – ascendência que infelizmente só durou naquele ano – vinha melhor e mesmo assim viu seu companheiro Johnny Herbert levar a primeira – e única – vitória da equipe. No caso da Hungria, está certo que Button vinha há mais tempo no time e merecia uma vitória, porém, Barrichello estava melhor que o inglês nas últimas corridas, e, no grid, estava à frente do companheiro.

o Massa e Rubens confirmaram a máxima de que, uma vez que vimos Senna e Piquet fazendo o que fizeram naquela pista, jamais veremos algo similar, mesmo 20 anos depois.

• Schumacher

o De tempos em tempos, o alemão que já levou 7 vezes o título revela que, para chegar aonde chegou, não é possível ser passivo – como muitos são no circo atual. Schumacher levou sua Ferrari ao limite. Foi do céu ao inferno em um período de 2 horas. Nos fez pensar que poderia vencer, nos levou a acreditar que sequer pontuaria. Segurou como pôde seu carro no fim. Foi desleal, foi ríspido e valente. No fim, pagou pelo preço de suas escolhas. Ainda assim, sai bem. Vale a máxima de que grandes campeões são feitos disso. E o piloto da Ferrari, mais uma vez, provou ao mundo como sua motivação segue intacta, em busca de mais um título, o oitavo.

• Kimi

o Do outro lado do muro, seguem os pilotos que parecem que demoram a engrenar. Kimi é assim. O finlandês abandonou mais uma vez, desta vez, por não olhar para frente. Fica até difícil falar na palavra “azar”. Seria falta de habilidade mesmo? Difícil. O piloto que provavelmente estará na Ferrari em 2007 ainda não nos convenceu de que faz parte do seleto grupo incluído nessa máxima tão comum – todo bom piloto tem estrela.