Coluna do Moneytron Onyx: O fardo de um japonês

Por Leandro Kojima

A Fórmula 1 já elegeu sua piada do ano, Yuji Ide. Nunca um piloto foi tão criticado, tão crucificado, tão malogrado na Fórmula 1 contemporânea. E tão injustiçado pelas pessoas.

Posso estar colocando minha cabeça à prova, mas isso não tira a minha opinião. Yuji consegue ser subestimado. Tudo bem, ele não é nenhum primor em termos de resultados nas categorias de base. Dando uma procurada sobre sua carreira, encontramos intermináveis temporadas na Fórmula 3 japonesa e na Fórmula Nippon. Seu melhor resultado foi o vice em 2005 na Fórmula Nippon. Perdeu para Satoshi Motoyama, candidato à sua vaga na Super Aguri. Há quem diga que perdeu porque bateu e errou muito, imperdoável para um piloto que corre de monopostos desde 1994. Apesar disso, ele foi vice e isso não é pouco, para uma categoria que é quase equivalente à GP2.

Tudo bem que ele também não fez nada que abrilhante seu currículo na Fórmula 1. Se arrastou nas duas primeiras corridas, sem errar, diga-se. Na Austrália, errou até cansar, atrapalhar uma volta rápida de Barrichello e rodar causando a bandeira vermelha. Em Ímola, foi pior e causou um acidente bizonho (e grave) que fez Christijan Albers capotar trocentas vezes. Não é exatamente um Michael Andretti da vida, mas não é um Schumacher. O que não quer dizer muito, mesmo em se tratando da cruel e exigente Fórmula 1 moderna.

Ide foi contratado quase em cima da hora. Sua equipe, a Super Aguri, é um remendo, que instala motores Honda em Arrows de 2002. Um carro inguiável. Poucos testes, e lembremos que quase todos os quilômetros completados pela equipe foram feitos por Takuma Sato. Ide pouco andou. Quando andava, parava com algum problema depois de um punhado de voltas. Desembarcou em Sakhir conhecendo bem apenas duas pistas: Suzuka e Magnycours (ele já pilotou na Fórmula 3 francesa). Essa foi sua pré-temporada. Esperar algo dele beirava o impossível. Olhando por esse lado, Ide não foi tão mal.

O que estraga também é que Ide é japonês. Japonês como Suzuki, Nakajima, Takagi, Nakano, Inoue. Veio à F1 com um estigma nas costas, a da história falta de habilidade dos nipônicos com carros de corrida. E como sua pré-temporada não lhe ajudou quase nada, seria quase certeza que ele iria repetir os “feitos” de seus antecessores. Se fosse francês, italiano, barenita ou marciano, sofreria menos preconceitos e pressões.

Pobre Ide. Ninguém sabe se vai pra Nurburgring. Daniele Audetto, diretor técnico da Super Aguri, está doido para por Franck Montagny no seu carro. Aguri Suzuki, o chefão, ainda confia nele, mas com um pé pra trás. Ninguém liga que ele quase não testou antes da primeira corrida. Ninguém liga que um piloto não necessariamente é ruim porque é japonês. Ninguém liga que um estreante como ele sofre mais do que todos. Fórmula 1 é resultados. É o que o povão vê nas pistas. E Ide é o do carro branco que vive fora da pista.

Senna pode bater em Mônaco. Schumacher pode se destruir em Melbourne. Prost pode rodar em Ímola. Piquet pode dar ré e atingir um monte de pilotos na largada. Todos podem errar. Ide, o japonês, não pode. Depois ainda tem gente que diz que não existe dois pesos e duas medidas na Fórmula 1.



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