Por Danilo Oliveira
Não nasci, mas morei quatro anos do início da minha rebelde vida no interior de Pernambuco, numa cidade chamada Vitória de Stº Antão (calma isso não é minha auto-biografia). Lá conheci muita gente. Gente feia, bonita, pobre, rico, negro, branco, lascado… Mas nada se compara a duas pessoas extraordinárias: Sr. Alon e Dr. Briatô. Duas peças muito conhecidas na cidade. E é sobre eles que irei falar hoje.
Lembro-me como se fosse ontem aquela corrida, era a final do campeonato e Sr. Alon era o corredor e Dr. Briatô, digamos… era o dono do ‘equipamento’.
Sr. Alon: Opa chefe. Parece que as coisa tá fácil pra nóis, né!?
Dr. Briatô: Num se avexe não home, muitas água vão rolar ainda. Quero que você ganhe essa corrida aí. Só assim pra eu ficar mais tranquilo.
Sr. Alon: Mas chefe, só precisâmo chegar em terceiro que a festa tá garantida.
Dr. Briatô: Mas cabra, já lhe disse pra num se avexar. Quero que você honre o meu trabalho do ano todo, alimentei o nosso ‘equipamento’ como não fiz nem com a minha filha.
Chega hora de decidir as posições de largada e parece que o tal ‘equipamento’ do Sr. Alon é o melhor… assim… num é que seja melhor, é porque o outro errou o caminho da pista e quando voltou já tinha perdido tempo demais.
Sr. Alon: Ô chefe, se já tava fácil pra nóis agora já tá certo. Chame as mulé toda pra de noite e pode comprando os zuísque, porque eu num vou me esfolar aqui pra comemorar com cerveja ou muito menos com pinga.
Dr. Briatô: Orrxe home, tas pensando que tá falando com quem? Já lhe disse pra ganhar essa po#@ e a festa pode deixar por minha conta.
Antes do início da corrida, eu percebia (não só eu, mas todo mundo) que o Dr. Briatô estava ansioso demais. Parecia que aquilo era a coisa mais importante do mundo. Pela primeira vez, eu vi aquele velho de cabelo branco com medo. Não era pra menos, era o campeonato que estava em jogo.
Quando foi dada a largada, o Sr. Alon continuou na liderança, mas não por muito tempo. Antes mesmo que completar a segunda volta, um caboclo, como eles diziam, passou voando por ele. Mas o que interessava mesmo, era que o concorrente do Sr. Alon ainda estava atrás dele. Muitos não perceberam, mas toda volta, sempre que Sr. Alon passava pela frente da reta principal, o Dr. Briatô falava alguma coisa pra ele.
Dr. Briatô: E aí home, o nosso ‘equipamento’ tá funcionando direitinho?
Sr. Alon: Tá tudo tranquilo chefe, se acalme aí que hoje de noite tem festa.
E era toda volta, a mesma ladainha, até que chegou uma volta que…
Dr. Briatô: E aí home, o nosso ‘equipamento’ tá funcionando direitinho?
Sr. Alon: Ora chefe, será possível que toda vez que eu passar aqui pela frente, o senhor vai me perguntar a mesma coisa? Se acalme, já lhe disse, assim eu não consigo correr direitin.
Dr. Briatô: Orrrrrra seu cabra. Eu tô é preocupado com o meu ‘equipamento’. E além disso, tô é com aquilo na mão. Num se esqueça que se você for campeão, vai ter dinheiro pra você e pra mim também.
E no decorrer da corrida, aconteceu o que todo mundo já esperava. O concorrente do Sr. Alon estava mais rápido que ele e acabou passando. Mas num era motivo ainda pra se preocupar. Se a corrida terminasse com aquelas posições mantidas, o Sr. Alon ainda era campeão.
Entramos na última volta da corrida e Dr. Briatô estava uma pilha, era praticamente certo que Sr. Alon iria sair dali como campeão…
1º Bola 7 – vruuuuuuuuuum
2º Gelin – vruuuuuuuuuum
3º Sr. Alon – vruuuuuuuuuum
E foi isso mesmo que aconteceu. Sr. Alon se tornou o mais novo campeão estadual de corrida de galinha e o Dr. Briatô que era o dono da galinha, estava uma felicidade só.