Os homens ainda formam a grande maioria dos integrantes das equipes de Fórmula 1. Mas as mulheres começam a ocupar posições-chave. Entre os 800 colaboradores da Renault F1 Team, duas engenheiras realizam importantes funções para garantir o desempenho nas pistas. E, como seus colegas, elas também possuem uma forte paixão pela velocidade.
As mulheres sempre tiveram um papel valioso para a Renault na Fórmula 1. Elas possuem exatamente as mesmas qualidades e virtudes que seus colegas masculinos. E, para elas, o fato de fazerem parte do desafio que é a Fórmula 1 é bastante recompensador profissionalmente. A equipe Renault F1 Team conta com o apoio de duas mulheres. Ambas são fãs apaixonadas pelo automobilismo e trazem uma inestimável contribuição ao esforço pela conquista do título de 2005.
Céline Couquet – Especialista em testes de motores da Renault F1 Team
Ela trabalha na sede francesa da Renault F1 Team, em Viry-Châtillon. Sua tarefa envolve testes com cilindros de motores e trabalho com combustão na eterna busca por mais potência, que começa no estágio inicial do desenvolvimento de cada novo motor.
“Eu escolhi minha profissão aos 13 anos de idade: queria trabalhar com motores”, conta Céline. “Minhas duas paixões eram os aviões e os carros. Mas o Lotus Renault de Ayrton Senna meu convenceu que meu destino eram os automóveis e eu direcionei meus estudos para a engenharia automotiva”.
Assim que se formou, Céline candidatou-se a uma vaga como engenheira de testes em Viry-Châtillon, dando início a uma carreira de sucesso que já dura quatro anos. Ela não vê como “combate” o relacionamento entre os sexos em uma atividade tão masculina. Ao contrário, Céline acredita que sua integração depende apenas de ganhar respeito por um trabalho bem realizado – e ela logo mostrou que é capaz de superar seus colegas neste aspecto.
“O mundo da Fórmula 1 é realmente um pouco machista”, conta a engenheira. “Mas eu tenho uma personalidade forte! Como em tudo que se relaciona às competições, o importante é mostrar capacidade. Uma vez que se tenha feito isso, as coisas entram na perspectiva correta”, conclui Couquet.
Geralmente, Céline vai a três corridas por temporada. É uma oportunidade que ela sempre aprecia, pois lhe dá chance de ver os frutos de seu trabalho na pista, em condições reais de corrida. O relacionamento que a engenheira mantém com a equipe de corridas também lhe permite manter-se atualizada com as últimas notícias dos circuitos. “Minha sala é próxima das de Fabrice Lom e Remi Taffin, engenheiros de corrida dos pilotos Giancarlo Fisichella e Fernando Alonso”, revela Céline. “Eles me mantêm informada”.
Céline Couquet tem orgulho da presença da Renault na Fórmula 1. “O automobilismo é parte do DNA desta empresa”, frisa a engenheira. “Depois de um início difícil em 2002 e 2003, fizemos um grande progresso. A nova arquitetura do motor pagou dividendos em 2004 e o propulsor deste ano, o RS25, representa mais um passo à frente. Enquanto isso, já estamos trabalhando no motor do ano que vem”.
Damia Lion – Analista de combustíveis da Elf
Nova no paddock, Damia pode ser encontrada no box da equipe Renault F1 Team em todas as corridas. Integrar-se à escuderia não foi problema. “Eu sempre fui fã de automobilismo”, confessa ela. “Até mesmo competi algumas vezes, anos atrás”, continua, revelando uma experiência que certamente a ajudou a ser bem aceita pelo grupo.
Damia Lion trabalha para a Elf, parceira de longa data da Renault F1 Team. A engenheira é responsável pela assistência técnica relacionada aos lubrificantes e combustível. Esta tarefa fundamental inclui análises freqüentes dos produtos empregados nas corridas, de forma a auxiliar a equipe.
“Nós contamos com um cromatógrafo em todos os GPs”, explica ela. “Esta ferramenta nos permite identificar e quantificar todas as famílias de elementos químicos contidos nas diferentes formulações. Também nos ajuda a obter a formulação de cada combustível a fim de garantir que a nossa gasolina sempre esteja de acordo com o regulamento.
Quando a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) solicita para avaliação uma amostra de combustível utilizado nos carros da equipe Renault F1 Team, nós também podemos tirar a nossa própria amostra do mesmo lote para testes. Isto nos permite conduzir uma análise em paralelo para identificar a fonte de qualquer problema que ocorra”.
De outro lado, o regulamento deste ano determina que os carros devem usar o mesmo motor V10 por duas corridas consecutivas. Conseqüentemente, a confiabilidade tornou-se um elemento-chave para os engenheiros de motor da equipe – que contam com a tecnologia da Elf para ajudar a monitorar a saúde de cada propulsor.
“Nós contamos com quatro espectrômetros de faísca (de vela) na Elf. Um deles sempre é levado às corridas”, conta Damia. “Com a informação fornecida pelo espectrômetro ao queimar uma amostra de lubrificante entre dois eletrodos de carbono, podemos analisar quais partículas de metal eles contêm. Estes dados são gravados usando uma série de fotomultiplicadores, que então é mostrada em uma tela dividida em categorias. Se nós notamos que há muitas partículas de ferro, por exemplo, este fato pode significar que há um problema com a combustão. A presença de outros metais também revela informação sobre problemas em diversas partes do motor. Nossas análises permitem aos engenheiros da Renault tomar medidas preventivas, caso necessário”.
O trabalho de Damia Lion nem sempre é fácil, mas ela não o trocaria por nada neste mundo. “Assim que soube que havia uma vaga na equipe de Fórmula 1, eu me candidatei”, conta ela. “Eu adoro estar nos autódromos. Gosto muito de trabalhar sob pressão e das viagens. É uma atividade exigente, mas também estimulante.”
A engenheira e analista de combustíveis teve o primeiro gosto da vitória na etapa de abertura da temporada, em Melbourne, Austrália. “Nosso sucesso naquela corrida foi um grande alívio e, acima de tudo, uma recompensa fantástica por todo o trabalho que fizemos durante a temporada de testes”, relata Damia. “Como a maior parte dos meus colegas, eu trabalhei dez semanas sem parar e dormindo pouco. Durante a cerimônia do pódio, não pude evitar a lembrança de todos na equipe de testes que deram tão duro, mas não puderam estar conosco naquela primeira vitória”.