Coluna do Rafael Ligeiro: Lembranças de Verstappen

Por Rafael Ligeiro

A vida é fortemente composta por simbolismos e coincidências. Geralmente estas nos passam desapercebido no dia-a-dia. Porém, elas estão lá, presentes em diversas ocasiões de uma maneira singela.

O contraste de sentimentos entre Rubens Barrichello e Juan Pablo Montoya no pódio em Interlagos era visível. Desde a bandeirada, Barrichello se mostrou cansado e descontente. Sobretudo descontente, afinal, no esporte, as questões físicas jamais são capazes de superar a sensação de um triunfo. Inegavelmente, o ferrarista sentiu o golpe do terceiro lugar. Aliás, resultado nada desprezível e que outrora significaria motivo de festa, mas que não lhe valeu muito, pois suas aspirações eram maiores.

De fato, essa foi a maior chance que Rubens teve para alcançar a vitória em casa. Tudo saia muito certo até o sábado, inclusive com Michael Schumacher largando apenas em 18o lugar, por ter utilizado dois motores em um mesmo fim de semana e acabar punido com 10 colocações no grid. Sem o heptcampeão por perto, o famoso karma “o alemão deixou” era nulo. Porém, a chuva deu as caras na largada. E a condição climática que tantas vezes empurrou o brasileiro a expressivos resultados – especialmente na época de Jordan e Stewart, desta vez, representou uma adversidade.

As primeiras voltas reservaram um momento espetacular ao Brasil. Tudo bem. Foram apenas uma ou duas voltas, não contei. Mas ter as duas primeiras colocações ocupadas por brasileiros é algo que não sairá da memória dos torcedores, especialmente da geração mais jovem, que não teve o privilégio de ver Ayrton Senna e Nélson Piquet em ação. Para Barrichello e Massa, os “giros da alegria” representaram a sensação, porém somente momentânea. Lamentavelmente a participação de ambos acabou muito prejudicada, afinal, àquela altura os compostos slicks já proporcionavam tempos cerca de 10 segundos menor em relação aos secos. Enquanto isso os principais rivais já haviam efetuado a troca de compostos.

Ao Massa, o prejuízo não foi dos maiores. Pontuou, como desejava. Aliás, não nego que naquele momento também permaneceria na pista. Sabendo das limitações da Sauber, que apesar da considerável melhora na segunda metade do campeonato está aquém dos grandes times, e correndo em casa, gozaria essa oportunidade que sabe-se lá quando voltará a aparecer. Já para Rubens custou, ao menos, a chance de brigar pela vitória.

Por fim, Montoya teve um fim de semana irretocável. Foi o piloto mais constante na corrida e venceu, mostrando que a “parceria” com Kimi Raikkonen fará muito barulho no próximo campeonato. Aliás, essa foi um verdadeiro prêmio ao colombiano, que em 2001 esteve perto do triunfo. Apenas em sua terceira corrida na F-1, Juan Pablo assumiu a liderança logo no início do GP, com uma sensacional ultrapassagem sobre Michael Schumacher no “S” do Senna. Na 38a volta, tinha boa vantagem ao alemão, porém o retardatário Jos Verstappen estragou a festa ao encher a traseira da Williams do então oriundo da Champ Car. Ambos abandonaram e Verstappen alegou problemas no freio no momento do choque.

E a lembrança desta prova ainda foi mais aguçada no pódio pela placa publicitária da Orange, patrocinadora da Arrows do holandês naquele ano…



Baixe nosso app oficial para Android e iPhone e receba notificações das últimas notícias.