Por Rafael Ligeiro
Embora soubesse das dificuldades em trocar o estrelato nos Estados Unidos por uma equipe mediana na principal categoria do automobilismo, a Fórmula-1 não se revelou da maneira que Cristiano da Matta esperava. Além da falta de um equipamento competitivo, o clima no paddock literalmente desagradou o piloto. E em recente matéria do portal Pit Stop, o mineiro disse em uma conferência de jornalística já estar negociando com equipe de outro campeonato – provavelmente da Champ Car ou Indy Racing League.
De fato, Cristiano faz bem a si mesmo com essa decisão. Lógico. É lamentável ver alguém deixar o certame que é o sonho de dez em dez pilotos que ingressam no kart, especialmente quando este é Cristiano da Matta. Ufanismo à parte, o brasileiro é dono de uma condução veloz e consistente, talento inquestionável e cada vez mais raro no automobilismo internacional. Mas as pistas norte-americanas acabam sendo incontestavelmente o melhor caminho para sua carreira.
Da Matta já não é mais “um garotinho”. Aos 31 anos, correr por times que possuem “projetos de crescimento em longo prazo” seria desperdício de tempo. E esta é a situação para 2005. Dos nove times confirmados para 2005 na F-1, sobram postos somente na Jordan e Minardi (leia-se andar nas últimas posições). Teoricamente, a BAR seria um lugar compatível às aspirações do mineiro.
Apesar do impasse, há quem garanta que a oficialização da transferência de Jenson Button à Williams será anunciada neste fim de semana, deixando um cockpit vago para o próximo ano. Mas além de questões mercadológicas favorecerem a presença de um britânico, a cúpula da escuderia de Brackley esbarraria na presença de um profissional que costuma “falar um pouco a mais” diante do padrão da F-1. Com isso, as chances mais concretas e imediatas de lutar por vitórias seriam nos States, onde possuí excelente reputação. Aliás, Cristiano inclusive já teria um pré-contrato com a Newman- Haas, equipe na qual ganhou a temporada 2002 da Champ Car, além de sondagens de times da IRL.
Nesta passagem pela F-1, o brasileiro faturou resultados consideráveis para a Toyota. Em 28 provas, obteve 13 pontos (maior pontuador do time que estreou em 2002), além de levar a momentos memoráveis como o terceiro posto no grid para o GP do Japão e as 15 voltas na liderança em Silverstone, no ano passado. Porém a “sinceridade cavalar” acabou sendo o “erro” do brasileiro. Na F-1, piloto pode estar ou não com a razão, porém o silêncio é a melhor política – para não dizer uma exigência. E especialmente quando o motivo de descontentamento é a própria equipe.
Essa “Lei do Silêncio” reforça ainda mais a extinção do estilo bad boy na categoria. Atualmente sobram exemplos de pilotos que se moldaram a um modo “bom moço”. Juan Pablo Montoya ruge bem mais ameno que em seus dois primeiros anos na Williams. Até Jacques Villeneuve, outrora considerado o símbolo principal dos rebeldes, anda bastante polido no retorno às pistas. Da Matta nunca foi um bad boy, entretanto cada reclamação quanto ao desempenho da Toyota soava como um insulto, especialmente pelo envolvimento mercadológico das montadoras com a categoria.
Nos Estados Unidos, seja na Champ Car ou IRL, o brasileiro voltará a lutar pelas primeiras colocações. E poderá falar de coisas bem positivas.